sábado, 25 de dezembro de 2010

Feliz Natal 2010!

O Natal da Cristandade que celebramos hoje é uma herança de natureza cultural instituída pelo Imperador Romano Constatino Magno no quarto século. Ele introduziu alguns dogmas em tradições na Igreja Cristã, como o domingo para o dia de repouso e o 25 de dezembro para o nascimento de Cristo. Com efeito, esse dia nunca foi objeto de festividade dos discípulos originais.

O dia exato de nascimento de Cristo é um mistério que persiste até hoje! Para alguns teólogos esse dia aconteceu muito provavelmente em outubro. Para muitos outros, entre os meses de março e maio. E, também, para alguns outros, no início de janeiro.
Obviamente, para nós cristãos, não importa o dia ou o mês exato, mas sim o legado deixado por Cristo e, de forma mais importante, que Deus estava em Cristo quando ele veio até nós.

Talvez a Profa. Dirley da UFF, que conhece muito a Bíblia, possa nos dar uma opinião
mais abalizada sobre esse grande mistério. Feliz Natal 2010!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Obrigado Eduardo!

Um dos meus diletos amigos e professor da UFRPE, Eduardo Valle, faleceu hoje (dia 18 de novembro) depois de quase 4 meses lutando contra um câncer no cérebro.

Eu estava no Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística, em Águas de São Pedro, na última semana de julho, quando ele me ligou apreensivo, pois estava com suspeita de um AVC, sem saber ainda do diagnóstico da terrível patologia.

Desde, então, sua saúde, piorou a passos largos e seu sofrimento nos dois últimos meses foi incomensurável. Hoje, Eduardo descansou em paz, mas senti um enorme vazio quando sua esposa Joyse ligou para me comunicar do seu falecimento por volta das 10hs da manhã.

Conheci Eduardo, em 1970, quando fomos colegas no turno noturno da Universidade Católica de Pernambuco: ele fazia computação e eu matemática. Por gostar de jogar conversa fora, logo ficamos bons amigos. Suas piadas eram verdadeiras pérolas que mantenho vivas até hoje.

Ele se tornou professor por meu intermédio. Quando assumi turmas extras no Colégio Marista, convidei-o para ficar com algumas das minhas aulas do Colégio e Curso Torres, que funcionava na Rua Joaquim Felipe, Bairro da Boa Vista, em Recife. Esse curso, era o mais famoso de Recife como preparatório para alunos de Direito e, em 1970, matemática começou a ser exigida para as áreas de ciências humanas e sociais.

Eduardo era uma pessoa muito inteligente, correta, de princípios, bem humorada e brilhante em ideias. Ajudou a montar a área computacional da Pró-Reitoria de Plane-jamento da UFPE. Fez várias consultorias para órgãos públicos e privados. Na UFRPE, era sempre requisitado para resolver problemas de ordem computacional.

Nos meses que esteve doente, eu ficava uma manhã ou tarde com ele no hospital, em cada semana, rendendo seus familiares.

Há cerca de 3 semanas, já bem debilitado, ficou em silêncio durante toda a manhã de uma 6ª feira, apesar de minhas várias tentativas de puxar conversa com ele. Entendo que os diversos medicamentos lhe causavam uma grande dificuldade para se comunicar. Nem mesmo, durante seu asseio de quase duas horas, quando eram necessários três
profissionais paramédicos, não falou comigo apesar dos meus esforços nesse sentido. Ele apenas olhava bem atento para mim e para as manobras dos enfermeiros.

Quando seu irmão Renato chegou para me substituir, por volta das 13 horas, me dirigi para junto da cama dele e disse: "Eduardo estou indo embora, no domingo passarei por aqui". Ele não respondeu nada. Entretanto, para minha surpresa, quando eu estava abrindo a porta do quarto para sair, ouvi sua voz muito embargada dizer apenas duas palavras: "Obrigado, Gauss!". Saí de lá muito triste pela sua condição e, muito pensativo, com aquelas duas palavras martelando a minha mente.

Quando o visitei na UTI na semana seguinte, tentando cumprir o horário rígido do hospital -, assim que ele me viu, apenas chorou, talvez sinalizando que não queria ficar sem seus familiares naquela unidade intensiva. Ele apresentava grande dificuldade para respirar. O sofrimento mental e o vazio devem ser próximos do infinito para pacientes numa UTI.

A vida, infelizmente, é madrasta com algumas pessoas como foi com Eduardo, que hoje partiu para um mundo certamente melhor. Entretanto, aprendemos muito com os ataques perversos e sorrateiros que ela contempla algumas pessoas queridas.

Hoje Deus ajudou a Eduardo no alívio do seu enorme sofrimento físico. Que ele tenha paz para sempre. Me senti triste e sem sentido quando contemplei seu caixão descer numa cova rasa por volta das 17hs 10 min, mas me dirigi a ele em pensamento com essas palavras:

"Obrigado, Eduardo! Foi muito bom e gratificante para mim ter sido seu amigo por cerca de 40 anos".

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Utilidade Marginal

No Brasil, não temos partidos políticos bem definidos - com exceção talvez do PT.
Quando eu morava em Ealing Broadway (Londres), entre 1979 e 1980, sempre pegava o metrô - em inúmeras ocasiões -, junto ao ex-lider trabalhista britânico Michael Foot.

No nosso País, qualquer grande lideranca do PT tem mordomia de fazer inveja a alguns dos lideres mundiais. Ademais, cada político brasileiro procura apenas maximizar a sua utilidade marginal - princípio básico da escola marginalista de economistas.

Com efeito, o Presidente do PSDB que deveria apoiar (por primeiros princípios) os candidatos vinculados ao Serra, apoia abertamente no Interior do Estado de Pernambuco, com vasta propaganda explícita em diversos ônibus e locais, o candidato do Presidente Lula ao Governo do Estado, que será eleito (folgadamente) para seu segundo mandato.

A Chance de Voto do Eleitor em Pernambuco

Estimar a chance de um eleitor votar em determinado candidato é um problema estatís- tico que pode ser tratado de diversas formas. Existem diferenças significativas no eleitorado estratificado por variáveis sociais. Os institutos de pesquisa usualmente estimam essa chance pela freqüência observada de votos numa amostragem estratificada por locais e segmentos do eleitorado. Entretanto, a maior desvantagem da abordagem desses institutos é não determinar, estatisticamente, as variáveis sócio-econômicas que explicam a intenção de voto e o peso dessas variáveis na equação que estima a chance de voto no candidato. Entre essas variáveis, podem ser citadas: domicílio eleitoral, sexo, idade, faixa etária, nível de escolaridade e renda familiar. O eleitorado de uma cidade de pequeno porte se comporta de forma diferente daquele de uma cidade de grande porte.

Numa amostragem estratificada realizada no Estado de Pernambuco, entre 17 e 20 de julho de 2010, em dezoito dos seus municípios, as chances de voto foram computadas por modelos estatísticos de regressão em diversos segmentos eleitorais determinados como significativos. Os dados são relativos a um total 2563 eleitores, sendo 1351 eleitores de Recife e 1212 do interior do Estado. A grande vantagem da utilização desses modelos é minimizar os erros que podem consideráveis nas pesquisas baseadas nas freqüências relativas. Para o Estado de Pernambuco, os modelos estatísticos contiveram até 10 parâmetros populacionais e obteve-se a equação que estima a chance dos eleitores de um segmentos do eleitorado votar num candidato. Foram adotadas as seguintes classificações: faixa etária (16 a 24 anos, 25 a 59 anos e 60 ou mais), nível de escolaridade (fundamental, médio e superior) e renda familiar (menos de 2 SM, entre 2 e 5 SM e mais de 5 SM).

O eleitor se comporta de forma diferente em Recife e no interior do Estado. Em Recife, a candidata Dilma tem menor chance (26%) de voto entre as mulheres que ganham mais de 5 SM e muito maior chance (53%) entre os homens que ganham menos de 5 SM. Assim, a maior chance é praticamente o dobro da menor chance. A associação do sexo com o nível de renda do eleitor é fundamental para explicar o voto nessa candidata. A chance de um eleitor votar em Serra é maior (38%) entre os eleitores com renda superior a 5 SM e menor (24%) entre os eleitores com renda inferior a 5 SM. As demais variáveis analisadas não interferem na chance de intenção de voto no Serra. No interior do Estado, a idade do eleitor é o único fator significativo para a candidata Dilma, enquanto a renda é o único fator significativo para Serra. Assim, a Dilma tem maior (63%) e menor chance (57%) de voto entre os eleitores que ganham mais e menos de 24 anos, respectivamente. Serra tem maior chance (28%) entre aqueles que ganham mais de 5 SM e menor (18%) entre aqueles que ganham menos de 5 SM. Assim, a proporção esperada de votos em Dilma (62%) no interior é cerca de três vezes maior do que em Serra (20%).

Em Recife, a chance de voto em Eduardo depende do sexo e da renda do eleitor. A maior chance (62%) ocorre entre os homens com rendas de 2 a 5 SM, enquanto a menor (43%) corresponde às mulheres que ganham menos de 2 SM ou mais de 5 SM. A proporção de votos esperada em Eduardo na capital é 51%. Para Jarbas, as variáveis importantes são idade e renda. O seu melhor cenário (41% de chance) corresponde ao eleitorado acima de 60 anos com renda superior a 5 SM. O segmento do eleitorado com menos de 60 anos e renda inferior a 5 SM produz o seu pior cenário (22% de chance). No interior, a candidatura de Eduardo mostra-se consolidada, com uma chance de 54% que independe de quaisquer variáveis sócio-econômicas. As variáveis significativas que explicam a intenção de voto em Jarbas no interior são sexo e renda. A maior chance (19%) ocorre entre os eleitores do sexo masculino com renda superior a 5 SM. A menor chance (10%) corresponde aos eleitores do sexo feminino com idade inferior a 24 anos. A proporção esperada de votos em Jarbas no interior do Estado é 15%. Assim, no interior de Pernambuco, a proporção de votos esperada em Eduardo é cerca de 3,6 vezes maior do que em Jarbas.

Em Recife, constata-se para os principais candidatos a senador, que a chance do voto em Humberto Costa é maior (42%) entre os homens com menos de 60 anos e menor (28%) entre as mulheres com menos de 60 anos. O melhor cenário (51%) para Maciel, em Recife, é formado por eleitores que têm escolaridade fundamental ou média e ganham mais de 5 SM, enquanto o seu pior cenário (20%) corresponde aos eleitores com esco- laridade superior e renda inferior a 5 SM. Três variáveis são significativas para explicar a chance de voto em Armando Monteiro: sexo, idade e renda. A maior chance (43%) se dá entre homens com mais de 60 anos e renda acima de 2SM, enquanto a menor chance (9%) corresponde às mulheres com menos de 24 anos e renda abaixo de 2SM. A chance de voto em Jungmann só depende do sexo do eleitor, variando de 18% para os homens e 14% para as mulheres. No interior do Estado, a intenção de voto no senador mostra um comportamento bem distinto da capital. A chance de voto em Humberto é maior (34%) entre os eleitores com renda acima de 2 SM e menor (28%) entre aqueles co renda inferior a 2 SM. A chance do voto em Maciel é maior (30%) para eleitores com mais de 60 anos e menor (15%) para aqueles com menos de 24 anos. A chance de voto em Monteiro é maior (34%) para os eleitores que têm grau de escolaridade médio ou superior e mais de 60 anos, e menor (9%) para aqueles com escolaridade fundamen- tal e menos de 24 anos. A chance de voto em Jungmann é maior (8%) para os eleitores acima de 60 anos. Na realidade, o dobro da chance correspondente aos eleitores com menos de 60 anos.

Finalizando, Humberto tem uma maior preferência na cidade de Recife em relação aos municípios do interior. Maciel perde muito em preferência de votos no interior do Estado. Curiosamente, a preferência em Armando é exatamente a mesma – na capital e no interior. Fazendo-se um teste de igualdade das proporções esperadas de votos em Maciel e Armando, a hipótese de igualdade no Estado seria aceita. Jungmann tem reduzida preferência no interior do Estado.

Esse artigo foi originalmente publicado na Folha de Pernambuco em 5 de setembro de 2010.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pensadores (?)

Oswaldo Aranha, bom gaúcho de Alegrete, diplomata e ministro, enfatizava

"o Brasil é um deserto de homens e ideias".

Ao verificar alguns das candidatos ao nosso glorioso congresso nacional, podemos concluir que sua assertiva persiste verdadeira mesmo depois de quase seis décadas.

Segue abaixo uma lista de alguns dos candidatos (pensadores?) por área de atuação, cujas ideias - como de quase todos os nossos políticos -, são firmemente alicerçadas em propor o que o Estado realmente deveria fazer e/ou cumprir.

Na Televisão:
Ronaldo Esper (PTC-SP) - O estilista quer ser deputado federal
Pedro Manso (PRB-RJ) - Humorista, disputa na vaga na Assembléia Legislativa
Dedé Santana (PSC-PR) - Humorista, quer ser deputado estadual
Tiririca (PR-SP) - Humorista, disputa uma vaga na Câmara Federal
Batoré (PP-SP) - Humorista, quer uma vaga na Câmara Federal

No Pomar:
Mulher Melão (PHS-RJ) - Cristina Célia Antunes Batista concorre a deputada federal
Mulher Pera (PTN-SP) - Suellen Aline Mendes Silva quer ser deputada federal

No Esporte:
Acelino Popó Freitas (PRB-BA)- O boxeador concorre a deputado estadual
Maguila (PTN-SP)- Ex-boxeador,quer ser deputado federal
Marcelinho Carioca (PSB-SP)- Ex-jogador, concorre a deputado federal
Romário (PSB-RJ)- Ex-jogador, busca uma vaga na Câmara Federal
Vampeta (PTB-SP) - Ex-jogador, concorre a deputado federal
Bebeto (RJ)- Ex-jogador, concorre a deputado federal
Fabiano (PMDB-RS) - Ex-atacante do Inter, é candidato a deputado estadual
Danrlei (PTB-RS) - Ex-goleiro do Grêmio, concorre a deputado federal

Na Música:
Gaúcho da Fronteira (PTB-RS) - Músico concorre a deputado estadual
Kiko (DEM-SP) - Membro do grupo KLB, concorre a deputado federal
Leandro (DEM-SP) - Integrante do KLB, concorre a deputado estadual
Netinho (PCdoB-SP) - Cantor do grupo Negritude, concorre a senador
Reginaldo Rossi (PDT-PE) - Cantor, concorre a deputado estadual
Renner (PP-GO) - Integrante da dupla Rick&Renner, concorre ao Senado
Sérgio Reis (PR-MG) - Cantor e ator, concorre a deputado federal
Tati Quebra-Barraco (PTC-RJ) - Funkeira, concorre a deputada federal

A famigerada lista acima bem o nível do futuro congresso nacional ou das assembléias dos nossos estados. Enquanto existir o voto obrigatório e o registro de candidatos sem severas restrições no Brasil, a bandalheira persistirá. O Prof. Paulo Justiniano (UFPR) lembra bem que "o sistema eleitoral com as regras atuais estimulam tais can- didaturas (os puxadores de voto) para a legenda". Pobre Brasil!

Adam Smith enfatizava que "todo homem deve apenas investir naquilo que ele tem algum talento". Não seria muito mais produtivo, Maguila e Popó serem pagos pelo nosso Governo Federal para ensinar boxe nas comunidades carentes? O mesmo para Vampeta, Bebeto, Romário e outros craques para fomentar crianças talentosas a jogar um bom futebol em novas escolinhas de periferia, o Sr. Esper para ensinar alta costura em comunidades carentes, Tiririca para motivar a formação de novos palhaços em circos (que são raros nos dias de hoje) e, assim, por diante.

Não me vem ainda na mente o que a Mulher Pera poderia ensinar...

domingo, 25 de julho de 2010

A Estatística no Brasil e no mundo!

Eu respondi algumas perguntas feitas pela arScientia cuja entrevista original está no site http://www.arscientia.com.br/materia/ver_materia.php?id_materia=273.

arScientia: O ensino de Estatística (ao menos como disciplina instrumental nas Humanas e Biológicas) não privilegia a visão histórica quando da discussão de seus conteúdos. Portanto, o aluno se vê em contato com os conceitos de estatística descritiva, probabilidade, curva de distribuição normal, curva de erros e princípio dos mínimos quadrados, apenas para citar alguns exemplos, sem ter a mais vaga idéia do que esses desenvolvimentos representaram em termos de determinados contextos históricos. Quer dizer, não entende que esses conceitos são, na verdade, frutos de determinadas exigências históricas. Quais as razões que podem explicar um ensino da Estatística tão desvinculada de história?

Prof. Gauss Cordeiro: Quando professores com doutorado em Estatística ensinam esta disciplina nas áreas de Humanas e Biológicas, acredito que os seus principais conceitos sejam dados com uma maior ênfase histórica. Na realidade, os principais conceitos da Estatística surgiram efetivamente de problemas reais e eles devem ser sempre mencionados quando o professor for ministrá-los. O princípio dos mínimos quadrados surgiu devido à análise de dados de astronomia e ao problema de se determinar a distância entre as cidades de Berlin e Koln. Os testes de hipóteses surgiram da necessidade de saber se os planetas descreviam órbitas distribuídas aleatoriamente. O problema de determinação da população da França deu origem aos estimadores de razão. Os conceitos de regressão e correlação surgiram com estudos desenvolvidos por Francis Galton sobre a hereditariedade genética. O famoso teste t de Student foi decorrente da tentativa de melhorar a qualidade da cerveja. A análise de variância (proposta por Fisher) decorreu do problema de verificar se havia interação significativa entre as diversas variedades de batatas e fertilizantes. O planejamento de experimentos originou-se do problema de melhoramento de técnicas agrícolas. E por aí vai. Infelizmente, muitos professores ainda ensinam todos esses conceitos sem situá-los devidamente na história.

arScientia: Para a Estatística, do ponto de vista histórico, qual a importância
da mecânica de Newton como modelo de excelência para a Ciência? O que a Revolução Científica representa, para a Estatística, em termos de marco histórico?

Prof. Gauss Cordeiro: O método Newtoniano foi muito importante para desenvolver (por Adam Smith) os fundamentos da Economia como ciência. Ele tornou a Economia compreensível e sistemática a partir de leis gerais análogas às leis gerais dos movimentos dos corpos da Física, elaboradas por Sir Isaac Newton. O seu livro "A Riqueza das Nações", publicado em 1776, pode ser considerado como a origem do estudo da Economia. Curiosamente, no ano seguinte, em 1777, Daniel Bernoulli usa um princípio científico para estimar o parâmetro de uma distribuição a partir de pressupostos científicos básicos à semelhança do método Newtoniano. O princípio de Bernoulli pode ser entendido como a origem do método estatístico de estimação mais conhecido - o método de máxima verossimilhança -, formulado por Fisher em 1912, após 135 anos de Bernoulli descrevê-lo pela primeira vez.

arScientia: Como deve ser realizado o ensino de Estatística em cursos das áreas Humanas e Biológicas? O aluno deve entender com profundidade a matemática envolvida ou deve ser privilegiada a formação dele como um usuário das ferramentas estatísticas? Seria funcional, nas universidades, uma área de Estatística que fosse prestadora de serviços para os profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, liberando esses profissionais de anos e anos de estudo matemático de ferramentas das quais eles são meramente usuários?

Prof. Gauss Cordeiro: Nos dias de hoje, acredito que o ensino da Estatística em cursos das áreas de humanas e biológicas deve ser feito com um suporte computacional acessível que seja facilmente entendido por esses alunos, sem entrar em detalhes matemáticos mais profundos, para não assustá-los. A Estatística tem muitos atrativos e pode ser facilmente ensinada nestes cursos com o auxílio de softwares bastante acessíveis como, por exemplo, SPSS e MINITAB, sem precisar discutir os detalhes matemáticos que cercam muitos dos seus conceitos. A Estatística (segundo Rao) pode ser definida por uma soma algébrica de três componentes: Estatística = Ciência + Tecnologia + Arte. Para motivar mais os alunos das áreas de humanas e biológicas e para muitos outros profissionais desta ciência, sugiro que os professores ao ensinar Estatística procurem tentar maximizar as duas últimas componentes. O estatístico teórico é coisa do passado. A computação é essencial para a pesquisa moderna em Estatística e para a colaboração em grande escala com áreas tais como biologia, medicina, ciências sociais, economia e finanças. A pesquisa moderna em Estatística e a prática estão intimamente ligadas à computação.

arScientia: São raros os cursos em Administração, Comunicação e Marketing que, nas disciplinas de Pesquisa Social, oferecem aos alunos os conteúdos de análise multivariada de dados e outras técnicas mais sofisticadas de análise estatística. Normalmente, esses são objetos de estudos nos cursos de pós-graduação ou outros programas avançados? O senhor acredita que essa seja uma medida correta, do ponto de vista de preparo dos alunos para a atividade de pesquisa e para a formação profissional demandada pelo mercado? Essa situação é similar a outros países do mundo ou é uma situação tipicamente brasileira?

Prof. Gauss Cordeiro: Ensinar análise multivariada em cursos de graduação de Administração, Comunicação e Marketing não é uma tarefa fácil, pois a maior parte dos conceitos desta disciplina exigem um conhecimento matemático mais aprofundado. Entretanto, a análise multivariada pode ser, também, ensinada nestes cursos com o auxílio de softwares simples, concentrando-se mais nos seus conceitos e operacionalidade sem entrar propriamente no ferramental matemático. No meu entender, esta situação não é peculiar no Brasil, sendo similar a outros países do Primeiro Mundo.

arScientia: Nos seus primórdios, a Estatística foi chamada de Aritmética Política. Nos dias de hoje, é instrumento fundamental para os profissionais das áreas de pesquisa social. No entanto, ao que parece, o ensino de Estatística nas universidades acontece de forma dissociada dos conteúdos de Metodologia Científica. Aprende-se Estatística e aprende-se Metodologia, mas não se aprende como as duas áreas do saber estão relacionadas. Esse fato pode contribuir para uma visão distorcida da Estatística por parte dos alunos, que acabam por percebê-la como um amontoado de matemática extremamente complexa e sem utilidade? Penso nisso ao lembrar do pavor dos estudantes dessas áreas em relação à Estatística, e à sensação deles que esse é um saber que não tem propósito algum.

Prof. Gauss Cordeiro: Com a informatização da sociedade, as aplicações da Estatística atingiram níveis nunca antes sonhados. Para os profissionais das áreas sociais, o uso da Estatística é imprescindível para compreender e tirar conclusões das pesquisas sociais. Certamente, o ensino de Estatística hoje, nas universidades, acontece muitas vezes de forma dissociada dos conteúdos de metodologia científica, mas acredito que, com o tempo, esta dissociação será reduzida. Cabe aos professores apresentar a Estatística de forma atraente aos profissionais das áreas de pesquisa social. Na minha experiência, isso pode ser feito através de inúmeros exemplos elucidativos. Gostaria de enfatizar que da década de 60 até a primeira metade dos anos 70, a Estatística no Brasil era o "patinho feio" das ciências exatas. Os tempos mudaram e, com as inovações tecnológicas, principalmente na área computacional, a Estatística no Brasil - em menos de quatro décadas -, se transformou num "belo cisne". Acredito que estamos pari passu no País com a física, química, matemática, informática, economia e algumas engenharias, em termos de qualidade da pesquisa desenvolvida, perdendo tão somente em quantidade pelo simples fato do nosso capital humano ser ainda inferior ao destas outras áreas. O amadurecimento da Estatística no País, irá minimizar vários entraves no ensino desta área aos alunos com pouco conhecimento matemático.

arScientia: Costumamos considerar os Estados Unidos e a Europa como centros irradiadores do conhecimento, ficando o restante do mundo na condição periférica em termos de produção do saber. No caso específico da Estatística, os desenvolvimentos dos pesquisadores da Índia são exceção ou apenas confirmam essa tradição já conhecida de centro-periferia?

Prof. Gauss Cordeiro: Os principais conceitos da Estatística moderna foram originários na Inglaterra. A parte mais significativa do desenvolvimento da Estatística ocorreu nos primeiros 20 anos do século passado e deve-se, principalmente, a esse País. A Índia por ter sido ex-colônia britânica beneficiou-se enormemente da sua interação científica com o Reino Unido e alguns dos estatísticos mais famosos são indianos. O mais importante deles foi Mahalanobis que criou o Instituto Indiano de Estatística. Em 1924, ele trabalhava em experimentos agrícolas, em grandes planos amostrais e em estratégias para prevenir enchentes e conheceu Ronald Fisher (com quem manteve uma grande amizade por longo tempo) gerando frutos positivos para a Estatística na Índia.

arScientia: Atualmente, quais países são considerados centros de excelência na produção do conhecimento estatístico? Como o Brasil se situa nesse cenário?

Prof. Gauss Cordeiro: Os Estados Unidos e a Grã Bretanha lideram a pesquisa científica na área de Estatística. O Brasil tem seguramente liderança na América Latina, mas estamos ainda muito distante desses países em termos de capital humano e da quantidade da pesquisa desenvolvida. O "Canadian Journal of Statistics" publicou um grande levantamento em termos de publicações em periódicos internacionais, entre 1985 e 1996, e as oito primeiras posições foram, obtidas, respectivamente, por: Estados Unidos, Grã Bretanha, Canadá, Austrália, Alemanha, França, Japão e Holanda. A Índia ficou em 9ª posição mundial e o Brasil em 23ª posição. Não deixa de ser uma posição incômoda se notarmos que somos a 10ª economia mundial em termos de poder de paridade de compra. Infelizmente, o capital humano qualificado de Estatística no País é ainda muito reduzido. O trabalho realizado pela Associação Brasileira de Estatística (ABE) (site www.redeabe.org.br) tem sido muito importante para o desenvolvimento da área de Estatística no Brasil e na América Latina. Entretanto, convém enfatizar, que esta associação só foi fundada 150 anos após a Royal Statistical Society (da Inglaterra) ter sido criada.

arScientia: Quais são os temas que têm sido alvo de atenção especial da Estatística nos dias de hoje? Quais são os estudos de "ponta" nessa área?

Prof. Gauss Cordeiro: No contexto mundial, a Estatística Matemática e a Probabilidade têm atraído inúmeros pesquisadores nos dias de hoje e muitos dos estudos nestas sub-áreas têm sido de ponta. Saliento que o número de pesquisadores brasileiros envolvidos nestas subáreas é pequeno face à sua importância no contexto mundial. Vários temas de concentração da Estatística estão em moda atualmente, entre os quais poderei citar alguns: teoria do caos, "data mining", KDD ("Knowledge Discovery in Databases"), redes neurais, sistemas híbridos, modelagem em finanças e economia, estatística computacional, algoritmos genéticos, lógica nebulosa ("fuzzy logic"), sistemas especialistas, "symbolic data analysis", modelos estocásticos em genética e DNA, reconhecimento de padrões e processamento de sinais e imagens, "Wavelets", física estatística, otimização estocástica, "bootstrap", inteligência computacional, modelos dinâmicos, análise de riscos, métodos MCMC e modelos ARCH. Acredito que devo ter me esquecido de citar vários outros importantes. Enfatizo que a inteligência computacional tem sido utilizada largamente na construção de sistemas inteligentes como suporte à decisão e otimização, modelagem, controle e automação industrial, reconhecimento de padrões e "data mining", entre outros, obtendo, em muitos casos, uma eficiência superior àquela obtida por métodos convencionais.

arScientia: Em tempos de eleição, o vocabulário relativo às pesquisas de opinião pública passa a fazer parte do cotidiano de todos. Para o cidadão, no entanto, fica cristalizada uma opinião que é fruto apenas do acerto ou erro dos institutos de pesquisa. Muitas vezes, ele acaba concluindo que pesquisa de opinião pública é apenas um recurso de propaganda. Essa percepção é resultado somente das dificuldades do jornalismo científico em explicar ao leitor os limites das ferramentas estatísticas?

Prof. Gauss Cordeiro: Muitas pessoas pensam que a Estatística só serve para prever o percentual de votos que um candidato terá ao participar de uma eleição. Muitos institutos de pesquisa de opinião pública adotam procedimentos de amostragem por quotas e, nesse caso, não há como se estimar com precisão as margens de erro nas pesquisas eleitorais. No Boletim 64 da ABE, 2º quadrimestre de 2006, tem um artigo dos professores José Carvalho e Cristiano Ferraz, ilustrando bem a falsidade das margens de erro de pesquisas eleitorais baseadas em amostragem por quotas; muitos institutos de pesquisa erram nas previsões eleitorais por problemas como esse. Com a informatização da sociedade, a Estatística alcançou níveis nunca antes sonhados. Há cerca de 30 anos, sem os recursos da informática existentes hoje, fazia-se estatística por interesses acadêmicos (pesquisa e ensino), para aplicações a grandes áreas bem definidas (biologia, censo demográfico, economia, gestão governamental, medicina e tecnologia) ou por diletantismo. Nos dias atuais, com o auxílio sempre crescente da informática, as aplicações da estatística se estendem a praticamente todas as áreas e subáreas do conhecimento. Muitas das decisões do dia-a-dia se resumem a problemas de cunho puramente estatístico. Encontramos, frequentemente, fazendo pesquisa em Estatística de bom nível, ex-administradores, ex-agrônomos, ex-cientistas sociais, ex-economistas, ex-engenheiros, ex-físicos, ex-matemáticos, ex-médicos, ex-químicos, ex-etc. Entretanto, dificilmente encontraremos ex-estatísticos. Tenho firme convicção que a Estatística está se tornando um atrativo das outras áreas.

arScientia: Do ponto de vista da história da Estatística no Brasil, quais são os maiores marcos? Quais as perspectivas para a área nos próximos anos?

Prof. Gauss Cordeiro: Entendo que a fundação da Associação Brasileira de Estatística (ABE), em 7 de setembro de 1984, foi fundamental para promover e alavancar as atividades de ensino e pesquisa em Estatística no País. A ABE é responsável por várias reuniões especializadas nacionais, como as escolas de modelos de regressão e de séries temporais e econometria e o encontro Bayesiano, as quais produzem uma grande interação entre os pesquisadores brasileiros com efeitos multiplicadores em todo o Brasil e na América Latina. Além destas reuniões, a ABE promove, a cada dois anos, o Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística (SINAPE), com uma média superior a 600 participantes por reunião. Um outro fator primordial para o crescimento da pesquisa de ponta em Estatística no País foi a consolidação dos cursos de pós-graduação em Estatística na USP (São Paulo, Piracicaba e São Carlos), UNICAMP, UFRJ, UFPE, UFMG, UFSCar, ENCE e em outras instituições menores. A pesquisa em Estatística está crescendo a passos largos em todas estas instituições. Convém aqui enfatizar que a pesquisa teórica em Probabilidade no Brasil tem prestígio internacional, destacando-se suas atividades na USP, UNICAMP, IMPA e CBPF (RJ). Acho que as perspectivas para a área de Estatística Aplicada no País são muito boas, sobretudo na bioestatística, medicina (diagnóstico, prognóstico, ensaios clínicos, genética e DNA) e epidemiologia, economia (com ênfase especial em estudo de mercado) e finanças, biometria, sociometria, agricultura (introdução de novas técnicas na experimentação agrícola), indústria e negócio (controle de qualidade, previsão de demanda, gerenciamento eficiente) e políticas de decisão do governo.

arScientia: Qual pergunta os estatísticos do século XXI gostariam de ver respondida?

Prof. Gauss Cordeiro: No médio prazo, a Estatística deverá entrar pesado em várias áreas da medicina como automação de processos de diagnóstico. Ela terá nos próximos anos um papel crucial para prognosticar riscos de pacientes desenvolverem determinadas patologias, tendo como base dados de exames clínicos e laboratoriais e o estudo do DNA. Modelos e métodos estatísticos sofisticados possibilitarão, num futuro próximo, desenvolver sistemas especialistas de auxílio ao diagnóstico clínico. Acredito que a possibilidade de cura do câncer deverá passar por métodos e modelos estatísticos. Quando visitei, há cerca de 10 anos, o Hospital M D Anderson, em Houston, Texas, um dos mais especializados dos EUA no tratamento do câncer, verifiquei que o combate a qualquer tipo (e grau) desta patologia seguia protocolos bem definidos com o suporte do grupo de bioestatística deste hospital.

O mundo está muito mudado!

Em 1967, com 15 anos, escondido dos meus pais, estava lendo dois romances que eram proibidos para os menores de idade: "O amante de Lady Chatterley" (uma grande novela de D. H. Lawrence) e "Dona Flor e seus Dois Maridos" (do grande Jorge Amado). Ambos viraram filmes depois.

Meu pai descobriu, me repreendeu, escondeu os dois livros, e mandou eu resolver todos os Problemas (Série B) de três livros de Alberto Nunes Serrão. Ele somente me devolveu os dois livros quando eu passei no vestibular da Escola de Engenharia da UFPE. Neste vestibular, fiquei em 3o lugar entre cerca de 1000 candidatos.

Ontem, um amigo descobriu no seu computador um arquivo com mais de 30 filmes pornográficos bizarros que seu filho (de 13 anos) baixou da internet. Meu pai, já falecido, onde quer que esteja, deve ter ficado constrangido por ter sido tão severo comigo. O mundo está muito mudado!

Um tributo ao estatístico L!

Vou narrar uma estória verdadeira que aconteceu com um estatístico brasileiro - denominarei de L (em respeito ao seu nome)-, que foi meu amigo na primeira metade dos anos 80. Este estatístico estudava no Imperial College sob a orientação de Sir David Cox entre 1983 e 1987. Vivia em Londres, com mulher e filho enfrentando dificuldades financeiras, que presenciei num jantar em abril de 1985 na sua casa. Ele tinha bolsa da FAPESP nos primeiros dois anos e, depois, conseguiu uma bolsa do CNPq. Em 1986, ele solicitou ao CNPq prorrogação da sua bolsa – que já tinha dois anos, por mais 15 meses. O Comitê Assessor do CNPq – da qual fazia parte eu e o Prof. Pedro Morettin da USP -, em princípio foi contra, pois havia o prazo máximo de 4 anos para um bolsista concluir o doutorado no exterior. Entretanto, no processo dele, havia uma carta do Prof. David Cox elogiando o seu trabalho e AFIRMANDO que com a prorrogação solicitada ele iria concluir a tese. O Morettin conhece bem o teor da carta. Em vista disso, nós prorrogamos o prazo de sua bolsa para ele terminar o seu doutorado. Resultado final: depois desses 15 meses, o Cox - no meu entender-, de forma revoltante reprovou a tese e disse que L deveria se contentar com um DIC (Diploma do Imperial College). L me ligou de madrugada desesperado, perguntando se deveria aceitar a proposta ou recusá-la para voltar ao Brasil e tentar defendê-la em alguma instituição aqui. Eu, constrangido e abatido com a notícia, sugeri que ele aceitasse. Atualmente, L é professor de Estatística em uma instituição de Portugal mas foi uma pobre vítima da soberba inglesa.

Rabo de Cavalo!

Um professor na Rede Estadual de Pernambuco, com carga semanal de 40 horas, ganha cerca de R$ 1100,00/mês. A gratificação mensal daqueles que têm doutorado é de
R$ 350,00, totalizando, assim, R$ 1450,00/mês. Esta situação, pelo menos a ordem de grandeza, deve se estender em outros Estados do País. Uma boa diarista, muitas vezes sem ter o curso primário, numa grande cidade do Brasil, pode ganhar cerca de R$ 70,00/dia e, portanto, trabalhando 20 dias por mês, seu salário mensal pode ser de R$ 1400,00. No passado, os professores da Rede Pública Estadual (meu pai foi professor da rede estadual de Pernambuco além da UFPE) eram bem valorizados e viviam dignamente.
Hoje em dia, por causa do salário defasado em face da realidade do País, eles vivem com grande dificuldade. O salário desses professores é como rabo de cavalo: cresce
para baixo! Bertrand Russell dizia "que os professores eram os verdadeiros guardiães da civilização".

domingo, 18 de julho de 2010

Leia-se pelo Avesso

O Sermão da Montanha (que considero um texto de grande profundidade e sabedoria) não se aplica aos nossos dias. Lê-se em Mateus 5:3-12:

"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".

Observe-se o sincretismo religioso dos nossos dias e as profundas alterações que estão sendo feitas na doutrina pura e simples de Jesus Cristo. Se Cristo voltasse à Terra, nada reconheceria da sua doutrina. Tudo lhe seria estranho e, mais do que isso, hostil.

O que se fez do Sermão da Montanha e dos Dez Mandamentos? Onde, em que parte do mundo, existe uma sociedade baseada nos Dez Mandamentos e regida pelo Sermão da
Montanha? O 1º que manda amar a Deus sobre todas as coisas? É o dinheiro que se ama e os interesses pessoais, quase sempre inconfessáveis. O 4º que manda honrar pai e mãe? Os filhos obedecem aos pais? O 5º que manda não matar? Quando se matou mais e mais cruelmente do que hoje no Brasil? O 7º que manda não furtar? A resposta fica com os políticos do mundo inteiro. O 10º que manda não cobiçar as coisas alheias?

O que acontece com os humildes? São explorados, a começar pelos pseudo-pastores da maioria das seitas que assolam o nosso País. O que acontece aos que choram? São abandonados. O que acontece aos mansos? São postos à margem da sociedade em que vivem. O que acontece aos que têm fome e sede de justiça? São deixados à própria sorte. O que acontece aos que se compadecem da sorte alheia, aos que pregam a harmonia entre os homens? São perseguidos, presos e maltratados.

O que acontece aos limpos de coração, e que por isso insistem em levar uma vida limpa, correta e honesta? São processados e muitos estão morrendo de fome e andam quase nus, porque os outros lhes negam quase tudo.

Leia-se o Sermão da Montanha e dos Dez Mandamentos pelo avesso, e é isso que temos feito, e é isso que fazemos, e é essa a Lei dos Profetas dessa civilização pagã, e que insiste em se chamar cristã!

sábado, 17 de julho de 2010

Pobre Weibull!

Muitas vezes ficamos furiosos - quando verificamos que nosso artigo que julgamos muito bom - foi rejeitado com um parecer estupido ou inusitado. A ciência sé pode ser feita com paciência e muita persistência. Essa assertiva é válida mesmo para ghrabndes cientistas.

A distribuição de Weibull é uma das mais importantes da estatística e tem várias aplicações em diversas áreas do conhecimento, desde a engenharia até a biologia passando pela economia. Ele a publicou em 1951 no artigo:"A statistical distribution function of wide applicability. J. Appl. Mech. 18:293-7, 1951.

O Dr. Artur Lemonte - jovem talentoso que atualmente faz pós-doutorado no IME/USP -, me enviou um artigo que cita que o paper da distribuição de Weibull foi inicialmente rejeitado em outro periódico com o seguinte parecer: "it was interesting but of no practical importance".

Pobre Weibull! Entretanto, nada como um dia após o outro, como diz um provérbio popular. Nos dias de hoje, a distribuição de Weibull ocupa uma posição de grande destaque na galeria das mais importantes distribuições de probabilidade face às inúmeras aplicações.

Outro exemplo: John Nelder teve seu artigo que definia os modelos lineares generalizados rejeitado na Biometrika e no JRSS-B sob a alegacao que não era bem fundamentado matematicamente. Esse fato, o próprio Nelder me contou. Depois, ele teve que se contentar com a publicacao do antigo no JRSS-A.

Nos termos acima, devemos sempre nos lembrar dessas estórias, para não desistirmos de fazer ciência quando recebemos um sonoro "NÃO". Como diz o livro sagrado:
"não deixeis o sol se por sobre nossa ira"

sábado, 10 de julho de 2010

Laranja Podre

Como inúmeros outros colegas pesquisadores, sempre me preocupei com o nível de qualidade das dissertações de mestrado e das teses de doutorado no País. A diferença é que eu escrevo e exponho publicamente minhas ideias e posições, sem qualquer temor do patrulhamento perverso existente nas universidades, patrocinado por aqueles que preferem adotar o lema "quanto pior a academia melhor para mim". Os professores que concordam comigo e preferem se preservar - não expondo seus argumentos-, formam a denominada "maioria silenciosa". Esse termo foi definido pelo ex-Presidente dos EUA, Richard Nixon, ao comentar a ausência de debates da sociedade americana quando da ocasião da Guerra do Vietnã.

A estatística brasileira atingiu níveis nunca antes sonhados em inúmeras universidades brasileiras nas duas últimas décadas. O IME/USP tem um Departamento de Estatística que não deve nada em termos de qualidade e quantidade da produtividade científica a nenhuma outra universidadade do planeta. Outras instituições como UFRJ, UNICAMP, UFPE, UFMG e UFSCar contam com Programas de Pós-Graduação em Estatística muito bem consolidados, nos dois níveis: mestrado e doutorado. Os programas de pós em Estatística da UnB e da UFRN estão crescendo bem. Não estou citando aqui as IFES com outros programas correlacionados à área de Estatística como, por exemplo, outros dois muito bons: aquele da UFRGS na área de matemática (com linha de pesquisa em estatística) e o da Esalq em Estatística Aplicada e Experimentação Agrícola.

Apesar do cenário positivo acima, problemas sérios persistem em outras IFES, e o principal passo para a solução de um problema é reconhecer sua existência.
Eu seria um sonhador em almejar que todas as universidades do País tivéssem bons Departamentos de Estatística. Contudo, certamente muitos desses departamentos poderiam melhorar se suas instituições atraissem um maior número de pesquisadores verdadeiramente ativos ou pelo menos interessados na pesquisa científica nessa área.

Aqueles alunos de hoje que não estudam, pocedem assim porque realmente só querem um diploma, porque eles tem todas as facilidades possíveis e imaginárias. Eu não tinha
nada disso quando era estudante! Gastei quase 8 meses para datilografar, numa máquina de escrever IBM, minha tese de doutorado. Um aluno hoje gastaria no máximo três semanas.

Meu ponto princial: não adianta em nada formar um mestre ou um doutor improdutivo. Diz um provérbio da sabedortia popular: "Uma laranja podre apodrece todas as outras". Eu acrescento: esse fato de per si tem efeitos danosos no curto e longo prazos.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Espaço Cazuza

Há exatos 20 anos morria (em 7 de julho de 1990) um ídolo dos jovens da época: Cazuza.

Eu morava num apto na Rua General Urquiza (Leblon, Rio) e minhas duas filhas gostavam de passear nas cercanias, quando no transcorrer da semana, uma repórter do JB fez uma longa entrevista com uma delas como fã do compositor, que foi publicada como notícia de primeira página desse conceituado jornal. Era uma enquête promovida para a criação do Espaço Cazuza que hoje fica na Av. Ataulfo de Paiva.

Para assinalar essa data, pesquisei as obras de alguns compositores, encontrando os seguintes números (idade que morreu entre parênteses): Noel Rosa (27 anos) > 300 composições; Adelino Moreira (84 anos) 120 composições; Cazuza (32 anos) 126 composições; Tom Jobim (67 anos) 210 composições; Renato Russo (36 anos) 249 composições; John Lennon (40 anos) 388 composições; Chico Buarque 456 composições;
Luiz Gonzaga (76 anos) 522 composições; Roberto Carlos 674 composições.

Adiciono a seguir alguns comentários enviados pelo Prof. Aluísio Pinheiro (PhD em Estatística e professor da UNICAMP), que considero um dos estatísticos brasileiros que mais entende de MPB:

"Mais alguns compositores: Jacob do Bandolim, 104 em 49 anos; Custodio Mesquita, mais de 100 em 35 anos incompletos; Villa-Lobos, cerca de 1000 em 72 anos; Ary Barroso, 450 em 63 anos; Lamartine Babo, 280 em 59 anos; Lupicinio Rodrigues, com cerca de 120 em 60 anos, Capiba, com mais de 150 em 93 anos, Ataulfo Alves, com mais de 330 em 60 anos, Dorival Caymmin, com cerca de 110 em 93 anos, Dilermando Reis, com cerca de 130 em 61 anos, Baden Powell, com cerca de 250 em 63 anos; Cartola,
com cerca de 90 em 63 anos.

Os quatro primeiros eram muito mais sofisticados em suas composições do que todos menos um ou dois da lista abaixo. Lamartine Babo compôs os onze hinos dos clubes
do Rio, os mais bonitos do Brasil, em apenas duas tardes!!!

Isso sem falar em outros compositores sofisticados como: Francis Hime, Djavan, Hermeto (baixa produção numérica), Guinga, Paulinho da Viola, Ismael Silva, Ivan Lins, Sivuca, João Bosco, Eumir Deodato (baixa produção numérica).

Essa lista se encerra, pois não tem fim: para outros nomes, basta consultar online o Dicionário de Cravo Albin. Tenho uma edição anterior impressa. Somente procurei por informações de compositores melodistas realmente talentosos."

Entre os citados acima, quem ganha em termos de quantidade de composições é o grande
Heitor Villas-Lobos (cerca de 1000), mas todos estarão distantes da produtividade ímpar de Noel. Para aqueles que podem achar que quantidade não é qualidade, entre os citados acima, a qualidade é difícil de ser contestada.

Impressionante é o grande número de cariocas na lista acima. Isso seria explicado
pela beleza natural (mar e montanhas) do Rio, pelo época do ouro das suas rádios, por ser a capital federal ou pelas suas mulheres façeiras revelando a simetria de suas linhas, a beleza de suas formas e a harmonia dos seus contornos no imaginário dos compositores cariocas? Ou algum outro fator?

Viva Cazuza!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sobre a Escola de Modelos de Regressão

A ideia da Escola de Modelos de Regressão (EMR) surgiu numa mesa de bar em Olinda, em maio de 1987, quando Clóvis Perez e eu nos deliciávamos com inúmeros copos do precioso líquido por algumas horas. O assunto em pauta (na mesa do bar) era outro: a tese de doutorado do Prof. Gilberto Paula, que Clóvis orientava formalmente no IME/USP e me convidou para ser um mero co-orientador na parte relativa à teoria assintótica.

Estávamos acertando a vinda do Gilberto à Recife para trabalharmos juntos, quando concebemos esse evento – à época denominada Escola de Modelos Lineares. O Gilberto propôs (na sua tese de doutorado) a classe dos modelos não-lineares da família exponencial, tema correlacionado com os objetivos da escola, embora tenha se dedicado mais à teoria assintótica nesta classe de modelos. Gilberto e eu publicamos um artigo na Biometrika (em 1989) decorrente desse trabalho conjunto, que revela-se importante, pois estende os modelos lineares generalizados (MLGs) e os modelos normais não-lineares simultaneamente.

Idealizamos, assim, nessa mesa de bar, que Gilberto organizasse o primeiro encontro de regressão em São Paulo. Ele depois prontamente aceitou e a Primeira Escola efetivamente ocorreu (em fevereiro de 1989) na USP, com a participação de muitos pesquisadores do Brasil e do exterior. Por exemplo, John Nelder (grande pesquisador de MLGs) e Bent Jorgensen (outro grande estatístico que definiu os modelos de dispersão) estiveram presentes. O mini-curso que o Prof. Bent ministrou nesta 1ª escola se transformou, depois, num livro publicado pela Chapman and Hall.

O Gilberto defendeu sua brilhante tese no IME/USP em setembro de 1988, mas trabalhou de forma incessante durante todo esse ano na organização desse evento, que desde então tem tido sucesso comprovado até os dias atuais.

sábado, 19 de junho de 2010

José e a Birnbaum-Saunders

Ontem, jantando na casinha humilde do pai do meu afilhado, na agradável cidade serrana de Gravatá (PE), a preocupação dele era uma só: "se continuar chovendo, não sei se terei condições de fazer a feira da próxima semana".

Eu explico: ele (José) é pintor e depende para viver de trabalhos esporádicos - que com a chuva intensa que atinge essa cidade -, praticamente desapareceram. Os nossos políticos (mesmo aqueles que verdadeiramente nos roubam) não têm essa preocupação: os seus salários - oriundos dos impostos dos Josés da vida -, são regiamente pagos sem depender do fator sorte (tempo sem chuva para José).

A vida é uma rotina perversa. Girando esse acontecimento, para se fazer ciência temos mesmo que ter uma dose excessiva de paciência e elan para a pesquisa científica. Um artigo (que sou co-autor) foi rejeitado por um editor associado (nesta manhã de sábado) com o seguinte comentário (depois dele tecer vários elogios ao paper)

"However, the Birnbaum-Saunders model which the paper studies has very limited use in statistics."

Seu ponto principal, no meu entender, é rídiculo. Assim, esse editor coloca de fora da ciência todas as pesquisas futuras envolvendo a B-S. Mas, mesmo com o injusto
parecer, tenho melhor sorte que José: enviaremos o paper para outro periódico! Ele não pode deixar sua família e procurar trabalho num local que não esteja chovendo.

Em tempo: a feira dele está garantida nas próximas 4 semanas, pois emprestei a grana para ele me pagar quando o seu trabalho costumeiro retornar.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O mau gosto musical

É impressionante como o mau gosto musical prolifera a passos largos nos canais de TV e nas rádios. A grande maioria das letras, músicas, cantores e cantoras é de dar pena.

Quem (como eu) cresceu ouvindo Agostinho dos Santos, Angela Maria, Orlando Silva, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Elis Regina, Cauby Peixoto, "o chato" João Gilberto, Tim Maia, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Wilson Simonal, Nara Leão, entre outros, e escuta os intérpretes de hoje - com raras exceções -, comprova a decadência musical no País.

Para aqueles mais jovens, leiam abaixo os versos da música do Pixinguinha denominada "Rosa". O autor dessa letra era um simples mecânico, que morava em Engenho de Dentro (bairro classe média carioca situado entre o Meier e Piedade) chamado Otávio de Souza.

Eu passava muito por esses bairros quando dava aula à noite na Universidade Gama Filho (1975-1977). Procurem ouvir Rosa no youtube cantada pela Marisa Monte. Depois disso, com grande chance, vocês terão que desligar a TV e o rádio quando surgir a grande maioria dos intérpretes atuais. Segue a belíssima letra de Rosa:


Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer

domingo, 6 de junho de 2010

Brasil Engessado

O PIB (produto interno bruto) é o valor de toda a riqueza (bens e serviços) gerado num país. O valor do PIB brasileiro, em 2005, foi de R$ 1,937 trilhão. Medindo o PIB pelo poder de compra de cada país, o Brasil fica colocado em décima posição mundial, à frente de países como Canadá, México e Espanha. O PIB per capita é uma medida do padrão de vida dos cidadãos. O PIB per capita brasileiro medido, também, pelo poder de compra, vale cerca de US$ 8050. Estamos na 70ª posição mundial e abaixo da média mundial de US$ 8724, perdendo na América Latina para o Uruguai, Argentina, Chile e México. Estes dados permitem concluir que o Brasil não é um país pobre, mas uma nação de muitos pobres.

O Brasil vem crescendo a uma taxa média de 2,6% nos últimos três anos. Portanto, o seu PIB somente duplicará daqui a 27 anos. A média de crescimento do PIB brasileiro, entre 1981 e 2005, foi somente de 2,2%, embora este baixo percentual de crescimento não vença sequer o crescimento populacional e a depreciação das nossas empresas. Se a nossa população continuar crescendo nos próximos anos à mesma taxa anual, estimada em 1,9%, podemos inferir que o nosso PIB per capita terá taxa de crescimento igual a 2,6%-1,9%=0,7%. Assim, o PIB per capita do País, mantidas essas condições, somente duplicará daqui a 100 anos, ou seja, chegará a US$ 16100. Este valor é inferior ao PIB per capita português estimado hoje em US$ 18503. Isso mesmo, só daqui a cem anos os brasileiros terão, em média, condições de vida aproximadamente equivalentes àquelas que nossos patrícios portugueses desfrutam hoje. Pobre Brasil!

O Brasil é sabidamente conhecido por ser uma das sociedades mais desiguais e injus- tas do mundo, onde a diferença na qualidade de vida de ricos e pobres é imensa. Com efeito, 1% dos brasileiros mais ricos (1,7 milhão de pessoas) detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). Temos a terceira pior distribuição de renda do mundo, de acordo com o índice de Gini - que mede a desigualdade de renda com valores entre zero (igualdade absoluta) e um (desigualdade absoluta). Este índice no Brasil é de 0,593, sendo somente superado por Serra Leoa (0,629) e Namíbia (0,707) que são economias inexpressivas. Nos países do primeiro mundo, o índice de Gini tem valores entre 0,3 e 0,4. Se examinarmos outro índice alternativo, como o índice de desenvolvimento humano (IDH), que é uma média ponderada de indicadores de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida e natalidade, o Brasil ficou, em 2005, na 63ª colocação, com um índice de 0,792. Perdemos na América Latina para Argentina, Chile, Uruguai, Cuba, Panamá e Trindade e Tobago.

Devemos nos acautelar do seguinte: sem um crescimento significativo sustentável por vários anos consecutivos, o Brasil terá como conseqüência maiores taxas de desemprego e, por conta disso, mais violência social nas próximas décadas. É dever precípuo dos nossos governantes e líderes políticos, tomarem medidas eficazes para reverter o engessamento do País de imediato, propiciando um grande crescimento econômico no curto prazo. Sem isso, o cenário futuro se nos afigura muito tenebroso.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Orgasmo Intelectual

Gostaria de salientar nesse texto (para aqueles que não sabem) que publicar artigos científicos em periódicos internacionais é uma tarefa não-trivial que exige persis- tência, concentração, um trabalho árduo e longo, além do fator sorte que não deve ser desprezado. Eu gastei mais de 20 anos para publicar um artigo científico sobre a distribuição dos resíduos de Pearson em modelos lineares generalizados, pois não concordava com alguns dos pontos levantados pelos revisores em duas tentativas anteriores e tinha enormes dificuldades de mostrar que - na prática -, os teoremas funcionavam.

Quantas vezes, temos uma boa idéia, desenvolvemos corretamente toda a metodologia
trabalhando intensamente vários meses a fio e, ao submetermos, recebemos pareceres do tipo "trabalho muito matemático e sem interesse para o periódico". Existem até aqueles revisores "verdadeiramente sacanas" que rejeitam algum artigo apenas para prejudicar um dos autores baseando-se em meros princípios ideológicos ou rixas passadas.

Se o editor do periódico não gostar de um dos autores por algum motivo, resta a eles desistirem de imediato de encaminhar seus artigos para lá. Apenas para dar um bom exemplo, o maior estatístico do Século XX, Sir Ronald Fisher, não conseguiu publicar seus artigos na Biometrika, pois seu editor à época (Karl Pearson) era seu desafeto. Esse fato persistiu quando Egon Pearson (filho de Karl) assumiu a Biometrika. Eu conheci pessoalmente o Prof. Egon Pearson, em Londres, em 1979, pouco antes de
seu falecimento em 1981. Quando puxei conversa com ele no coffebreak do Departamento de Estatística do Imperial College of Science and Technology, notei que ele estava confundindo o Brasil com o México.

Não é de se estranhar que muitos professores preferem continuar apenas ministrando suas aulas - aprovando a grande maioria dos alunos -, para não ter aborrecimentos com aqueles alunos medianos, e escrevendo textos sem projeção internacional, do que se dedicar de corpo e alma à difícil (mas prazerosa) atividade de publicar artigos científicos. Encontrei na minha vida acadêmica até aquele que me disse: "Gauss, você sempre tentando fazer o dever de casa do Tio Sam?".

Afinal, o orgasmo intelectual do cientista é ver seu trabalho efetivamente publicado e sem isso, ele não vive mas apenas hiberna.

sábado, 8 de maio de 2010

Pelo fruto se conhece a árvore

Em Mateus 12:33, está escrito:

"Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore".

Na vida acadêmica, essa parábola sempre cai como uma luva. Por exemplo, um orientador
competente tende a formar jovens talentosos ou pelo menos trabalhadores. Um orienta- dor medíocre nunca conseguirá produzir cientistas. Por esse motivo, entendo que os orientadores de doutorado devem ter boa produção científica internacional.

Infelizmente, no nosso País, para nosso desgosto, professores sem qualquer produção científica, insistem em posar de orientadores. Existe um nivelamento perverso por baixo que muitas vezes não permite distinguir um doutor de um mestre ou de um simples graduado. No Brasil, foi instituída - nos últimos anos -, uma famigerada fábrica de diplomas, mas não de cientistas. Os cursos de pós-graduação proliferam sem qualquer controle de qualidade. A facilidade de se abrir um desses cursos no País é compatível com a abertura de uma igreja dessas seitas que vivem da miséria humana.

Um dos maiores economistas brasileiros de todos os tempos foi o grande Prof. Mário Henrique Simonsen, que tive o privilégio de conhecer e assistir uma palestra em julho de 1979. Ele tinha apenas o diploma de engenheiro civil pela antiga
Universidade do Brasil (atual UFRJ) e alguns cursos de matemática (feitos no IMPA). Mas, era respeitado por toda a comunidade acadêmica brasileira, pelo seus profundos conhecimentos de macroeconomia e economia aplicada.

Ninguém precisa de um diploma para mostrar que conhece bem uma determinada área.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Indústria da Fé

Não sou uma pessoa religiosa no sentido amplo da palavra, mas acredito em Deus como um Ser Supremo. Entretanto, tenho observado que o fenômeno da proliferação de todos os tipos de seitas no Brasil tem uma explicação lógica decorrente da situação miserável e medonha em que se encontra a maior parte da nossa população: analfabetismo, alimentação insuficiente, saúde precária, educação quase-zero, falta de emprego e moradia, insegurança e grande criminalidade. No interior do Brasil, esses templos se multiplicam como as farmácias, se constituindo numa verdadeira indústria da fé.

Enquanto isso, não se investe o suficiente na educação, por exemplo, no melhoramento das escolas públicas para torná-las mais atrativas aos jovens. Assim, as pessoas mais pobres têm dois caminhos: procurar essas seitas que dizem curar todos os males deste mundo e ainda prometem o paraíso numa vida futura, ou então, vão para a marginalidade para resolver os seus problemas. Desse modo, as seitas são alienantes, pois exploram o sentimentalismo e a ingenuidade das pessoas, tornando-as passivas sem ânimo de lutar pelos seus direitos básicos e fundamentais: saúde, alimentação e educação. Além de contribuírem para aumentar a mão de obra ociosa do País. Os políticos fisiológicos agradecem!

Lamentável que as autoridades públicas que se preocupam com censuras às artes, cinema, teatro e letras de canções, permitem a proliferação dessas seitas fanáticas que funcionam como verdadeiras máquinas que, inicialmente, recebem um capital estrangeiro, mas depois as "caixinhas" retornam esse capital com juros para os países de origem. Não terão sido elas uma das causas do fracasso do Mobral?

A média anual de arrecadação da Igreja Universal do Bispo Edir Macedo, entre março de 2001 e março de 2008, foi cerca de R$ 1 bilhão, segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras do MF. Essa Igreja arrecada por ano entre 14% a 20% da produção anual de bens e serviços (PIB) de cidades brasileiras como Joinville (SC), Maceió (AL), Cabo Frio, Volta Redonda e Niterói (RJ), Natal (RN), Ribeirão Preto, Santos e Diadema (SP); todas colocadas entre as 35ª e 50ª posições no rank das mais ricas. Para fazer mais duas comparações: a CHESF - que abastece com energia 45% do Nordeste -, chegou ao recorde de lucratividade em 2008 com apenas 40% a mais: R$ 1,4 bilhão de reais. A receita da Prefeitura do Recife por ano com o IPTU é menos de 20% do que arrecada a Igreja Universal.

Aos graves problemas que estamos enfrentando – calamidades como aquela que ocorreu há algumas semanas no Rio de Janeiro-, algumas dessas seitas ainda desacreditam na medicina e contribuem para aumentar a mão de obra ociosa do país.

Em João 8:32, diz-se: "a verdade vos libertará". Logo, a mentira vos escravizará. Para mim, muitas dessas seitas são mentirosas e se constituem num grande flagelo que assola o Brasil. A verdade deve ser encontrada no trabalho incessante, no estudo, na educação e na ciência, pois esta é uma busca constante à procura do verdadeiro. A fé cristã - que deve ser respeitada, é algo muito mais importante do que o que se prega a maioria dessas seitas.

Finalmente, eis o paradoxo: o Brasil é o país do mundo ocidental que tem o maior índice de religiosidade e o maior índice de criminalidade.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Quinze Cientistas Importantes

Para meus alunos e leitores entenderem melhor a vida de grandes nomes da ciência, apresento abaixo um sumário de quinze cientistas entre os mais importantes. Alguns dos textos aqui descritos foram resumidos da internet.

O primeiro, Pierre de Fermat, considerado o príncipe dos amadores, nunca considerou a matemática como a principal atividade de sua vida. Era Juiz da Suprema Corte de Toulouse e estudava matemática por diletantismo. Em razão de seu cargo, não podia ter amigos para não ser acusado de favoritismo em seus julgamentos. Na produção científica de Fermat, percebe-se uma característica predominante amadora. Na ver- dade, com pouquíssimas exceções, ele não publicou nada em vida e nem fez qualquer exposição sistemática de seus métodos, pois tinha mais os problemas da matemática como desafios a superar. As suas contribuições para o cálculo geométrico e infini- tesimal foram inestimáveis. Ele mostrou como calcular as áreas de parábolas e hipér- boles, e determinou o centro de massa de vários corpos. Fermat conhecia o cálculo infinitesimal muito antes de Newton. Uma outra contribuição importante se insere na Teoria das Probabilidades. Seus avanços nesta área deram-se por volta de 1654, quando passou a se corresponder com Pascal. A probabilidade era um assunto desco-nhecido por Fermat até então, que procurou descobrir as regras matemáticas que descrevessem com maior precisão as leis do acaso. Com o advento dos computadores foram testados o seu último trabalho (o Teorema de Fermat) com milhões de algarismos supondo diferentes valores para x, y, z e n>2. A igualdade x^n + y^n = z^n não se verificou. Assim empiricamente se comprova que Fermat tinha razão. O teorema de Fermat desafiou matemáticos por todo o mundo durante 358 anos, até que o britânico Andrew Wiles conseguiu demonstrá-lo, definitivamente, em 1995. Coube a Fermat a introdução de eixos perpendiculares, a descoberta das equações da reta, da circun- ferência e das cônicas. Por mérito, as coordenadas cartesianas deviam denominar-se coordenadas Fermatianas. Cartesius é a forma latinizada de Descartes (René).

O segundo, Blaise Pascal, viveu apenas 39 anos e foi filósofo, físico e matemático francês. Como filósofo e místico criou uma das afirmações mais pronunciadas pela humanidade nos séculos posteriores: "O coração tem razões que a própria razão desconhece", síntese de sua doutrina filosófica - o raciocínio lógico e a emoção.
Deduziu 32 proposições de geometria estabelecidas por Euclides. Publicou em 1640 o célebre Teorema de Pascal. Especializou-se em cálculos infinitesimais e criou uma máquina de somar - a Pascalina, a primeira calculadora mecânica que se conhece. Juntamente com Fermat, estabeleceu, em 1654, as bases da teoria das probabilidades e da análise combinatória, que Huygens ampliou três anos depois. Esclareceu os prin- cípios da prensa hidráulica e estabeleceu o Princípio de Pascal que diz: em um líquido em repouso ou equilíbrio as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida. É o princípio de funcionamento do macaco hidráulico. Na Mecânica é homenageado com a unidade de pressão Pascal (1Pa = 1 N/m²). Escreveu um tratado sobre hidrostática que só foi publicado um ano após sua morte em 1663. Por causa de uma "visão divina", abandonou as ciências para se dedicar exclusivamente à teologia.

O terceiro, Leibniz, matemático, filósofo, cientista, diplomata e bibliotecário alemão. Atribui-se a ele a criação dos termos "função" e variável usado para descrever uma quantidade relacionada a uma curva, como, por exemplo, a sua inclinação ou um ponto qualquer situado nela. Deve-se a Leibniz e a Newton, a origem do cálculo moderno, em particular pelo seu desenvolvimento da integral e da regra do produto. Demonstrou genialidade, também, nos campos da lei, religião, política, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia. Em 1666, ele formulou um modelo que é o precursor teórico de computação moderna: todo raciocínio, toda descoberta, verbal ou não, é redutível a uma combinação ordenada de elementos tais como números, palavras, sons ou cores. Leibniz encontrava-se dois séculos à frente de sua época, no que concerne à matemática e à lógica. Ele criou uma máquina de calcular, superior à que fora criada por Pascal, fazendo as quatro operações. Em 1676, ele descobriu o teorema fundamental do cálculo, que só foi publicado em 11 de julho de 1677, onze anos depois da descoberta não publicada de Newton. Durante toda a sua vida, Leibniz trabalhou para aristocratas, buscando em suas genealogias provas legais de direito ao título de posse de terras, chegando a confirmar para seus empregadores o direito a metade de todos os tronos da Europa. Ele organizou a Academia de Ciências de Berlim, da qual foi o primeiro presidente. Esta Academia permaneceu como uma das três ou quatro principais do mundo até que os nazistas a eliminaram. Morreu solitário e esquecido. Seu funeral foi acompanhado por seu secretário, única testemunha de seus últimos dias.

O quarto, Newton, físico e matemático, foi um dos criadores, junto com Leibniz, do Cálculo Diferencial e Integral. Ele, também, descobriu várias leis da mecânica e a Teoria da Gravitação Universal. Para Newton, a função da ciência era descobrir leis universais e enunciá-las de forma precisa e racional. Seu trabalho científico sofreu forte influência dos trabalhos de Fermat sobre retas tangentes à curvas. Fez suas primeiras hipóteses sobre gravitação universal e escreveu sobre séries infinitas, o embrião do Cálculo Diferencial e Integral. Por causa de uma peste, em 1665, o Trinity College fechou e o cientista foi para casa de sua mãe em Woolsthorpe. Foi neste ano de retiro que construiu quatro de suas principais descobertas: o teorema binomial, o cálculo, a Lei da Gravitação Universal e a natureza das cores. O método numérico conhecido hoje como Método de Newton-Raphson foi publicado em 1685 por John Wallis, embora Joseph Raphson tenha publicado um caso especial deste algoritmo em 1690. Sua principal obra foi a publicação "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural" (1687), em três volumes, no qual enunciou a lei da gravitação universal, generalizando e ampliando as constatações de Kepler, e resumiu suas descobertas, principal- mente o cálculo.

O quinto, D’Moivre, foi um matemático francês famoso pela Fórmula de D’Moivre, que relaciona os números complexos com a trigonometria, pela sua descoberta da distribuição normal e pelas contribuições à teoria das probabilidades. Era amigo de Isaac Newton e Edmund Halley. Ele teve de abandonar o seu país por motivos religiosos, tendo vivido em Inglaterra a partir de 1685. Por não ser inglês, foi-lhe sempre negado o direito de lecionar nas Universidades da Ingla- terra, embora tenha sido eleito ainda muito novo para a Royal Society, já que o mérito das suas investigações matemáticas (realizadas através de aulas particulares que dava para subsistir) foi, desde cedo, reconhecido pela comunidade científica inglesa e, designadamente, pelo próprio Newton. Na sua obra "Doctrine of Changes" dedicou-se ao estudo das leis do acaso, sendo um dos nomes que, no século XVIII, aparecem como patronos da Teoria das Probabilidades. O seu estudo analítico da trigonometria associado aos números complexos e às fórmulas que atualmente usamos são conhecidas com o seu nome.

O sexto, Leonhard Euler, foi um matemático e físico suíço e era amigo dos Bernoulli. Dividiu uma casa com Daniel Bernoulli, além de colegas eram amigos, e trabalhavam frequentemente juntos. Euler foi professor de física em 1731 pela sua classificação no ranking da escola. Dois anos mais tarde, Daniel Bernoulli partiu para Basiléia, sendo substituído por Euler como professor de Matemática. A contribuição de Euler para a teoria dos logaritmos não se res- tringiu à definição de expoentes, como usamos hoje. Trabalhou, também, no conceito do logaritmo de números negativos. Enquanto se mantinha pesquisando em Berlim, d'Alembert pesquisava em Paris. Em 1747, Euler escreveu a este matemático explicando corretamente a questão dos logaritmos dos números negativos. Mas ao contrário do que seria de se esperar, a fórmula proposta por Euler, válida para qualquer ângulo (em radianos), não foi compreendida por Bernoulli nem por d'Alembert pois, para eles, os logaritmos de números negativos eram reais, o que não é verdade já que se tratam de números imaginários puros. Através da sua identidade – mais tarde conhecida como Igualdade de Euler – é possível observar que os logaritmos de números complexos, reais ou imaginários, também, são números complexos. Usando as identidades de Euler é, também, possível expressar quantidades como sen(1+i) ou cos(i), na forma usual para números complexos. Desta maneira, vê-se que ao se efetuar operações transcen-dentes elementares sobre os números complexos, os resultados são números complexos. Em 1735, Euler resolve um problema que lhe dá fama mundial - o chamado "problema da Basiléia". Trata-se de somar a série infinita dos inversos dos quadrados. Johann Bernoulli tinha tentado resolver esse problema durante décadas, tendo desafiado matemáticos de todo o mundo. Euler desenvolve, assim, um novo método analítico para lidar com o problema. Mas o seu método permite também somar todas as séries infinitas do mesmo tipo em que o expoente é um número par. Voltaire, o filósofo, que teve uma posição favorecida no círculo social do Rei, teve uma grande disputa com Euler, um homem simples e religioso. Euler era, em muitas maneiras, o oposto direto de Voltaire. Ficou famosa uma disputa na corte sobre a existência de Deus em que, depois de Voltaire brilhantemente ter "demonstrado" a inexistência de Deus e, portanto, a banalidade da fé religiosa de Euler, este simplesmente escreveu uma equação num quadro e declarou "e, portanto, segue-se que Deus existe". Em 1771, Euler perdeu todos os seus bens, à exceção dos manuscritos de Matemática, num incêndio na sua casa. No mesmo ano é operado às cataratas, o que lhe restituiu a visão durante um breve período de tempo. Mas, ao que parece, Euler não teria tomado os devidos cuidados médicos e ficou completamente cego. Em 1773, perdeu a sua mulher de 40 anos. Passou os anos finais de sua vida na Rússia, então sob a proteção de Catarina a Grande. Por ter sido um dos melhores e mais produtivos matemáticos do mundo, foi representada na sexta série das notas do banco Suíço e em numerosos selos da Suíça, Alemanha e da Rússia.

O sétimo, Laplace, foi um dos professores preferidos de Napoleão Bonaparte e era chamado o Newton da França, sendo considerado o fundador da moderna teoria das probabilidades. Laplace é conhecido principalmente por seu trabalho sobre as equações diferenciais, a Transformada de Laplace e a Equação de Laplace. Ficou famoso, também, o Demônio de Laplace, concebido pelo físico: de posse de todas as variáveis que determinam o estado do universo em um instante t, ele pode prever o seu estado no instante t'>t.

O oitivo, meu xará, Gauss, nasceu em 1777 e viveu até 1855, sendo considerado um dos maiores matemáticos de todos os tempos, tendo a estatura de Arquimedes e de Newton. Seus campos de interesse excederam os de ambos. Gauss contribuiu para todos os ramos da Matemática e para a Teoria dos Números. Dentre suas descobertas nos tempos de estudante, as mais significativas são a do método dos mínimos quadrados e a prova da reciprocidade quadrática na teoria dos números. Com a quarta prova do teorema fundamental da álgebra, concluiu seu doutorado em 1801. Ele desenvolveu sistematicamente seus métodos de cálculo de órbitas incluindo a teoria e o uso de mínimos quadrados. O método dos mínimos quadrados foi muito importante no cálculo da órbita do planeta Ceres que havia sido recentemente descoberto. Em janeiro de 1801, Piazzi observou e perdeu o novo planeta. Durante o restante do ano astrônomos tentaram em vão localizar o novo planeta e Gauss decidiu assumir mais este desafio. Para isso ele aplicou duas das mais apu- radas teorias de órbitas e improvisou métodos numéricos. Em dezembro a tarefa estava cumprida e o planeta foi encontrado na órbita pré-calculada. Este feito de localizar um corpo celeste pequeno e distante com informações visuais insuficientes pareceu sobre-humano, principalmente porque Gauss não revelou seus métodos. Gauss firmava sua reputação de matemático e cientista genial. Esta década que começou com o cálculo preciso da órbita de Ceres foi decisiva para Gauss e terminou com a publicação do seu livro Mecânica Celeste. Gauss inventou o método de mínimos quadrados, que hoje é indispensável em pesquisa na Estatística e dividiu o mérito com Legendre, que publicou o método (independentemente) em 1806. Este trabalho foi o começo do interesse de Gauss na teoria dos erros de observação. A lei de Gauss da distribuição normal de erros e sua curva em formato de sino, que a acompanha, é hoje bastante familiar para todos que trabalham com Estatística. Em 1809 ele publicou sua segunda obra prima "Teoria do Movimento dos Corpos Celestiais Girando a volta do Sol", na qual se encontra uma exaustiva explanação da determinação das órbitas dos planetas e cometas. Os seus estudos na Física tiveram seu início formal em 1829 com estudos sobre o campo magnético terrestre, porém ele mostrou pouca experiência para realizar medições, o que tornou valiosa a colaboração de Weber, um jovem e brilhante físico. Em outubro deste ano Gauss voltou-se a estender seus conhecimentos ao campo da física, começando a trabalhar em problemas de física teórica, especialmente em mecânica, capilaridade, acústica, óptica e cristalografia. Em 1832, Gauss apresentou à Academia um trabalho em que aparece pela primeira vez o uso sistemático de unidades absolutas (distância, massa, tempo) para medir grandezas não mecânicas. Juntamente com Weber, em 1833, Gauss chegou às leis de Kirchoff e antecipou várias descobertas na eletricidade, estática, térmica e da fricção, porém não publicaram resultados, pois seus interesses estavam voltados ao eletromagnetismo terrestre, sendo que na publicação de maior relevância, Gauss expressa o potencial em qualquer ponto da superfície da terra como uma série infinita de funções esféricas, juntamente com dados experimentais. Nem todas as descobertas de Gauss no período prolífico de 1796 a 1814 foram anotadas, mas muitas das que ele rascunhou são suficientes para estabelecer a prioridade de Gauss em vários campos (funções elípticas, por exemplo) onde alguns de seus contemporâneos se recusaram a acreditar que ele os havia precedido. Gauss nunca reivindicou a autoria de descobertas a que ele se antecipara (algumas se tornaram importantes campos da matemática no século XIX). Embora o sentido de alguns registros esteja perdido para sempre, a maior parte é suficientemente clara. Alguns nunca foram publicados, segundo ele, por considerar seus trabalhos científicos apenas como resultado da profunda compulsão de sua natureza. Publicá-los para o conhecimento de outros lhe era inteiramente indiferente. Disse, também, que tal volume de novas idéias trovejou em sua mente, antes de ter completado vinte anos que, dificilmente, poderia controlá-las, só havendo tempo de registrar uma pequena fração delas. Gauss apresentava provas sintéticas e conclusões indestrutíveis de suas descobertas às quais nada poderia ser acrescentado ou retirado: "Uma catedral não é uma catedral - disse - até que o último andaime tenha sido retirado". Com este ideal diante de si, Gauss preferia polir sua obra muitas vezes, ao invés de publicar um grosseiro esboço. Seu princípio era: uma árvore com poucos frutos maduros. Os frutos deste esforço em busca da perfeição estavam, na verdade, maduros, mas nem sempre facilmente digeríveis. Todos os passos pelos quais o gol tinha sido atingido tinham sido omitidos, não era fácil para seus seguidores redescobrir a estrada pela qual ele tinha caminhado. Conseqüentemente, alguns de seus trabalhos tiveram que esperar por intérpretes altamente qualificados antes que o mundo da matemática pudesse entendê-los. Gauss desprezava os filósofos que se ocupavam de assuntos científicos, por eles não compreendidos. E levou a sério a existência de Ceres. Calcular sua órbita com tão escassos detalhes disponíveis poderia ser quase impossível. Mas para o jovem cuja memória inumana o capacitava a dispensar uma tábua de logaritmos quando ele estava apressado, toda esta aritmética infindável – logística não aritmética - não o assustava. Era, ao contrário, um desafio tentador, que lhe daria fama e dinheiro.

Gauss não estava isento de inimigos. Foi ridicularizado por aqueles que consideravam um desperdício de tempo computar a órbita de um planeta insignificante. Ele obteve avanços significativos em geometria e na aplicação da matemática para a teoria Newtoniana da atração e eletromagnetismo. Como foi possível a um único homem realizar tão colossal massa de trabalho da mais alta categoria? Com sua modéstia característica Gauss declarou que "se outros tivessem pensado nas verdades matemáticas tão profunda e continuamente quanto eu, eles poderiam, ter feito minhas descobertas". Dava pouca importância ao uso prático de suas invenções. Gauss nunca foi atraído pelo reconhecimento público oficial, embora sua competência em estatística, segura e aritmética política pudesse ter feito dele um bom ministro de finanças. Seus últimos anos foram cheios de honrarias, mas não da felicidade que ele teria merecido. Pela primeira vez em mais de vinte anos ele deixou Göttingen, no dia 16 de Junho de 1854, para ver a estrada de ferro que estava sendo construída entre sua cidade e Kassel. Gauss sempre tivera agudo interesse pela construção e operação de estradas de ferro; agora ele veria uma sendo construída. No caminho, os cavalos dispararam; ele foi atirado para fora da carruagem. Não ficou ferido, mas muito chocado. Recuperando-se, ainda teve o prazer de assistir à abertura das cerimônias quando a estrada de ferro chegou a Göttingen em 31 de Julho de 1854. No começo do ano seguinte surgiram os sintomas de gota. Inteiramente consciente, praticamente até o fim, morreu pacificamente na manhã de 23 de Fevereiro de 1855.

O nono, Poisson, foi um matemático e físico francês famoso por suas equações, nas quais distinguiu a matemática para a mecânica da matemática para a física. Poisson desenvolveu o expoente de Poisson que é usado na transformação adiabática de um gás. A lei de transformação adiabática de um gás diz que o produto entre a pressão de um gás e o seu volume elevado ao expoente de Poisson é constante. A equação de Poisson é uma equação de derivadas parciais com uma ampla utilidade em eletrostática, engenharia mecânica e física teórica.

O décimo, Francis Galton, antropologista, meteorologista, matemático e estatístico, nasceu em 1822, perto de Birmingham, Inglaterra. Ele estudou nas Faculdades de Birmingham e de Londres e na Universidade de Cambridge, mas parou antes de se formar para viajar. Galton foi o pai do campo da eugenia, ele é mais conhecido pelos seus estudos de hereditariedade e inteligência humana. Ele era primo de Charles Darwin e subsidiou as futuras teorias deste, realizando estudos conjuntos sobre antropologia e inteligência humana, orientados para demonstrar o caráter hereditário dos traços físicos e mentais dos indivíduos. Notável teórico da heredi- tariedade genética, ele formulou, então, a polêmica teoria eugênica sobre o aprimoramento da espécie. Na estatística, Galton formulou conceitos de regressão enquanto estudava semelhanças familiares. Ele, também, desenvolveu questionários e métodos de pesquisa para coleta de dados.

O décimo primeiro, Edgeworth, foi um economista de inspiração liberal e professor de ciências econômicas da Universidade de Oxford. Ele é considerado um dos maiores expoentes da escola matemática, ou seja, da corrente doutrinária que propôs a aplicação do método matemático para as indagações econômicas. O nome de Edgeworth está ligado principalmente à análise do conceito de utilidade e das leis de mercado. De grande importância foi sua introdução das curvas de indiferença no estudo do equilíbrio do consumidor.

O décimo segundo, Sir Ronald Fisher, nasceu em 1890 em Londres, Inglaterra e morreu em Adelaide na Austrália. Ele recebeu um grau de BA em astronomia pela Universidade de Cambridge em 1912. Entre os assuntos que Fisher estudou em Cambridge estava a teoria de erros e desse estudo Fisher começou a estudar estatística. Ele é considerado um dos pais e fundador da estatística moderna. Muitas das suas contribuições mais importantes foram desenvolvidas enquanto ele estava na Estação Experimental Agrícola de Rothamsted, inclusive seus trabalhos na análise de variância, testes de hipótese, método da máxima verosimilhança e planejamento de experimentos. Fisher foi muito importante para a Genética e a Estatística. Savage num artigo de 1976 no Annals of Statistics diz: "Eu ocasionalmente encontro geneticistas que me perguntam se o grande geneticista R. A. Fisher é, também, um importante estatístico". Em 1919, Fisher começou a trabalhar na Estação Experimental de Rothamsted e definiu as idéias e os princípios de Planejamento de Experimentos e Análise de Variância. Ele descobriu a técnica de máxima verossimilhança e deu origem aos conceitos de suficiência, máxima verossimilhança e informação. Em 1925 publicou seu primeiro livro "Statistical Methods for Research Workers" e em 1935 publicou outro clássico "The Design of Experiments".

O décimo terceiro, Karl Pearson, estatístico e matemático, nascido em Londres, deu uma grande contribuição para o desenvolvimento da Estatística. Ele foi o fundador do Departamento de Estatística Aplicada do University College (1911) que foi o primeiro Departamento de Estatística em todo o mundo. Juntamente com Galton e Weldon, fundou a Biometrika e desenvolveu um grande número de métodos estatísticos padrões, sendo um dos fundadores da estatística moderna. Publicou a maioria dos seus trabalhos na Biometrika. Embora muitos dos seus estudos estivessem associados às questões de hereditariedade, os seus métodos e até as expressões que criou, tais como hipótese nula e nível de significância, fazem hoje parte da rotina diária de todo estatístico e cientista.

O décimo quarto, Gosset (mais conhecido como Student), tentou ser engenheiro mas foi rejeitado em virtude de problemas de visão. Ele graduou-se em Química pela Universidade de Oxford, onde se graduou em Química. Após formado, conseguiu um emprego como químico da cervejaria Guinness em Dublin, Irlanda. Na Guinness ele fez contribuições importantes para a Estatística, apesar de não ter sido contratado como estatístico. Foi o ambiente de trabalho na cervejaria que estava interessada em melhorar a qualidade de sua cerveja que o tornaram um estatístico. Em 1900, o Laboratório de Pesquisa Guinness foi inaugurado e se estava tentando obter a matéria prima para a cerveja ao menor custo possível, mas com a melhor qualidade possível. Para isto fatores como variedades de cevada e lúpulo, condições de cultivo e maturação. Após alguns anos de pesquisa Gosset teve a oportunidade de trabalhar como estatístico. Ele foi capaz de obter dados de diferentes exemplos de fabricação para tentar encontrar o que seria o melhor. Como os novos cervejeiros trabalhavam em conjunto era natural para eles levarem os dados para que Gosset resolvesse os problemas numéricos. Em 1903, ele podia calcular erros padrão. Em 1904, ele escreveu sobre o processo de fabricação de cerveja. Este relatório levou Karl Pearson a consultá-lo. Eles se encontraram em julho de 1905, tendo uma longa conversa. Pearson em uma hora e meia fez com que Gosset entendesse a teoria dos erros padrões. Ele voltou a cervejaria e colocou os métodos em prática. O encontro com Pearson fez com ele estudasse, também, a teoria dos erros. Ele escrevia artigos em suas horas de folga e publicava sob o pseudônimo de "Student", pois a cervejaria não permitia qualquer publicação feita por seus empregados. Estes artigos eram sobre a distribuição da média e sobre o coeficiente de correlação. Ele nunca trabalhou de forma isolada. Ele conduziu experimentos para testar variedades de sementes. Gosset trabalhou com Neyman e com Fisher que não tinha boas relações com Pearson que não era o caso de Gosset que se dava muito bem com ambos. Ele descobriu a forma da distribuição "t" através de uma combinação de trabalho empírico e matemático com números aleatórios em uma das primeiras aplicações do método de Monte-Carlo.

O último, décimo quinto, Alan Turing, foi um matemático britânico. A maior parte de seu trabalho foi desenvolvido na área de espionagem, e por isso somente em 1975 veio a ser considerado um grande nome na história da computação. Dedicava-se a teoremas que podiam ser comprovados, e à Teoria da Computabilidade. Aos 24 anos de idade, consagrou-se com a projeção de uma máquina que, de acordo com um sistema formal, pudesse fazer operações computacionais. Mostrou como um simples sistema automático poderia manipular símbolos de um sistema de regras próprias. A máquina teórica de Turing pode indicar que sistemas poderosos poderiam ser cons- truídos. Tornou possível o processamento de símbolos, ligando a abstração de sistemas cognoscitivos e a realidade concreta dos números. Isto é buscado até hoje por pesquisadores de sistemas com Inteligência Artifical (IA). Para comprovar a inteligência artificial ou não de um computador, Turing desenvolveu um teste que consistia em um operador não poder diferenciar se as respostas a perguntas elaboradas pelo operador eram vindas ou não de um computador. Caso afirmativo, o computador poderia ser considerado como dotado de inteligência artifical. Sua máquina pode ser programada de tal modo que pode imitar qualquer sistema formal. A idéia de computabilidade começou a ser delineada. Em 1943, sob sua liderança foi projetado o Colossus, computador inglês que foi utilizado na Segunda Guerra Mundial. Utilizava símbolos perfurados em fitas de papel que processava a uma velocidade de 25.000 caracteres por segundo. O Colossus tinha a missão de quebrar códigos alemães ultra-secretos produzidos por um tipo de máquina de codificação chamada Enigma. Os códigos mudavam frequentemente, obrigando a que o projeto do Colossus devesse tornar a decifração bastante rápida. Turing foi depois até os Estados Unidos da América para um projeto de transmissão de dados transatlânticos de forma segura. Como homossexual declarado, no início dos anos 50 foi humilhado em público, impedido de acompanhar estudos sobre computadores, julgado por "vícios impróprios" e condenado a terapias à base de estrogênio, um hormônio feminino o que, de fato, equivalia à castração química e que teve o humilhante efeito secundário de lhe fazer crescer seios. Deprimido, em 7 de Junho de 1954, com apenas 41 anos, suicidou-se após ter comido uma maçã envenenada. A empresa APPLE lhe faz uma homenegem usando essa maça cortada como sua logomarca.

terça-feira, 23 de março de 2010

Os Primórdios da Estatística na UFRJ

A estatística no Brasil há 35 anos era muito artesanal e bem diferente do que presenciamos hoje. Todos sabem que eu adoro história da estatística e faço aqui um breve relato da estatística na UFRJ entre 1975 e 1979. Os professores Caio Dantas e
Basílio Pereira já traçaram panoramas mais amplos da USP e dos primórdios da Estatística no Rio de Janeiro em artigos anteriores. Entendo, que essas iniciativas são importantes para mantermos viva a história da Estatística brasileira.

Nos anos de 75 e 76, os entusiastas pela estatística da UFRJ eram poucos gatos pingados que trabalhavam na Engenharia de Produção da COPPE e no recém-criado Instituto de Matemática (IM) da UFRJ. Por favor, depois me corrijam se esqueci de alguém. Em processos estocásticos, trabalhavam, Aníbal Parracho e José Manuel. O Demétrio Alonso Ribeiro (já falecido) apresentava, também, algum interesse por essa área. Os professores Fernando Chyoshi e Paulo Bravo atuavam em probabilidade e métodos estatísticos. João Sabóia e João Lizardo (já falecido), que foi presidente do CEPEL, trabalhavam em séries temporais e análise multivariada. O Gupta atuava em planejamento de experimentos, o Marlos Viana em inferência Bayesiana e o David Dorigo (já falecido) em bioestatística. O Jessé Montello (já falecido), foi presidente do IBGE, era professor em tempo parcial e o Basílio estava no Imperial College - fazendo o doutorado com o Sir David Cox em famílias separadas de hipóteses, retornando a UFRJ em julho de 76. O Eduardo Saliby e outro professor
que fez o doutorado em Lancaster (esqueci agora o nome) atuavam em simulação.

Utilizando aqueles sistemas arcaicos de cálculos estatísticos, apareciam o Félix Vaca-Obando e o César das Neves. Naquela época, usávamos os computadores IBM1130 e B6700 do NPD. Não ocorriam seminários regulares e a presença de algum professor visitante estrangeiro da área de Estatística era um evento raro. Os nossos artigos eram efetivamente publicados em anais de congressos, do tipo CBM, SBPC e SOBRAPO. Não existia ainda a ABE. Num concurso em estatística em 1977 no Instituto de Matemática da UFRJ, presidido pelo Jessé Montello, foram aprovados: Hélio Migon, Roberto Cintra, Santiago Carvajal, eu e Mário Jorge.

Para melhorar a qualificação do capital humano em estatística na UFRJ, Paulo Bravo foi fazer o doutorado em Kent (1977), Mário em Glasgow (1978), eu e Hélio para a Londres e Warwick em 1979 e 1980, respectivamente.

O Prof. Basílio Pereira complementa muito bem esse artigo enfatizando os seguintes pontos: "a) Não dá para comparar realmente a estatística daquela época com a de hoje, pois seu desenvolvimento foi enorme; b) Dos professores acima mencionados apenas Santiago, Paulo Bravo, Anibal, Gauss, Migon e eu continuamos pesquisando em estatística; c) Fernando Chyoshi é um outlier que trabalha em qualquer área da pesquisa operacional. Além disso foi co-orientado pelo Henry Daniels, importante estatístico inglês (um dos orientadores de Sir David Cox); d) Como curiosidade, o Prof. Jessé Montello foi um dos fundadores da ENCE e importante atuário. Tem um artigo na revista Estadistica que deu origem a primeira publicação do David Brillinger (conforme seu cv na página de Berkeley). Era sobre uma definição de normal multivariada dada por Jessé que seguiu depois uma discussão. A ligação do Prof. Brillinger com o Brasil é bem antiga – de 1961; e) Gupta foi contratado com Santiago, que tinha o mestrado no CIENES, bem como Paulo Bravo. Os dois foram os pioneiros na estatística do IM/UFRJ. Logo, em seguida, com o PhD em Estatística no exterior, chegaram Dorigo (1975), eu (julho 1976), Anibal, Marlos, Valter de Senna, Ruy Milidiu,Gauss, Migon, Dani e Fernando. Do exterior voltou, também, o João Ismael com o MSc de Stanford. Destes, vários professores foram para outras universidade ficando apenas na UFRJ: Paulo Bravo, Basílio, Annibal, Migon, Dani, Santiago e João Ismael".

A discussão sobre como a estatística da UFRJ evoluiu para alcançar o patamar de qualidade atual é importante como exemplo para os professores dos demais Departamentos de Estatística do País. Assim como, o belo exemplo do Departamento de Estatística do IME/USP – que não deve nada a maioria dos centros de estatística do primeiro mundo. A estatística em outros poucos locais têm, também, se consolidado, e oxalá acontece o mesmo nos demais Departamentos de Estatística do Brasil no curto ou pelo menos no longo prazo. Bem, essas reminiscências terão que perdurar para resguardar a memória da estatística brasileira.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Pujança da Economia Brasileira

Tenho sempre escrito sobre a pujança da economia brasileira em detrimento da ciência produzida pelo país, conforme pode ser verificado no artigo abaixo em http://gausscordeiro.blogspot.com/2010/03/ciencia-no-brasil.html.

A Revista Forbes mostra agora mais um ponto positivo para a economia brasileira, ao colocar um brasileiro - o empresário Eike Batista -, no 8o lugar na lista dos 10 homens mais ricos do mundo. Na frente dele, tem um mexicano, três americanos, um francês e dois indianos. Ninguém mais! Sua fortuna estimada em 27 bilhões de dólares equivale a, aproximadamente, 1/75 do que tudo que o Brasil produziu de bens e serviços (seu PIB) no ano de 2009 (cerca de 2 trilhões de dólares). Um operário que ganha o salário mínimo teria que trabalhar 7.330.317 anos para acumular a fortuna que o Sr. Eike tem hoje. Um recém doutor de uma IES teria que trabalhar um pouco menos: cerca de 679.720 anos.

O Sr. Eike foi o bilionário que mais ganhou dinheiro em 2009. A sua fortuna aumentou (neste ano) cerca de US$ 19,5 bilhões, ou seja, o crescimento ocorreu a uma taxa média de R$ 1110,00 por segundo. Um professor da rede pública estadual do Estado de Pernambuco em regime de 40 horas semanais ganha essa taxa por mês de trabalho. Mundo estranho esse... Torna-se interessante comparar esse crescimento com o PIB do Estado do Rio de Janeiro em 2009, que foi de 172 bilhões de dólares em 2009. Assim, o empresário sozinho respondeu por 11% desse PIB. Em outras palavras, pelo equivalente ao ganho de 1,2 milhão de fluminenses. Sem ele, o PIB per capita desse estado seria 89% menor do que o valor atual.

No final da semana passada, a Forbes refez seus cálculos e por conta do aumento rápido do valor de algumas ações de suas empresas, o Sr. Eike passou a ser a 4a fortuna do mundo. O mais surpreendente é que há dois anos o Sr. Eike ocupava o modesto 142º lugar entre os homens mais ricos do planeta. O empresário investe nas áreas de mineradoras, petróleo, logística, geração de energia, construção naval, saúde, imóveis, turismo e até restaurantes. A Folha de São Paulo de 11/03/10 enfatiza "que dois terços da fortuna de Eike vêm da sua empresa de exploração de gás e petróleo".

Quando eu era garoto - homem rico era o Sr. Manuel Batista da Silva (banqueiro - dono do finado BANORTE) -, cuja família morava num imenso casarão da Av. Rui Barbosa bem defronte dos Colégios das Damas e São Luiz no Bairro dos Aflitos. Ele figurava nos jornais como a 9a fortuna do Brasil, época áurea dos usineiros de Pernambuco e quando Recife era a terceira cidade mais importante do País. Agora, surge para mim numa escala agigantada esse Sr. Eike.

O Brasil será a 4a maior economia do mundo daqui a quatro décadas e sua economia (forte e consolidada) é bem evidente. Dois bons exemplos: i) Agora, a grande maioria das casas dos brasileiros mais humildes tem televisão a cores. Eu comprei a minha primeira TV a cores em Londres em setembro de 1979; ii) A CEF e outros bancos estão financiando de forma correta milhares de moradias, o que não acontecia com o famigerado BNH.

Entretanto, cabe reiterar que grande parte da riqueza do Eike foi feita em torno da aquisição da CSN - ofertada a preço de banana pela equipe econômica do FHC (se não estou enganado). Esse crime de lesa-pátria não pode ser direcionado ao próprio Eike que age como qualquer capitalista. Finalmente, enfatizo que alguns formadores de opinião têm definido seus negócios na área do petróleo como escusos.

Os 120 Anos de um Gênio

Em 17 de fevereiro de 2010, há exatos 120 anos -, nascia o maior gênio da estatística: Sir Ronald Fisher.

Em qualquer lista de grandes cientistas e/ou benfeitores da humanidade, acredito que Fisher deveria aparecer junto de Newton, Darwin, Einstein, Kepler, Galileo, Pasteur,
Copernicus, Turing, Hawking, Marconi, Bohr, Dirac e alguns outros que não tenho agora na memória. Enteretanto, na maioria dessas listas, ele não aparece. Uma grande injustiça do meio científico. Toda a ciência aplicada - desde as humanas até as engenharias, passando pela economia e agrárias, deve muito ao seu trabalho.

Fisher esteve no Brasil em 1955 - na função de Presidente da Sociedade Internacional de Biometria. Certamente, o brasileiro mais próximo a ele foi o Prof. Pompeu Memória
da EMBRAPE. Nos últimos três meses de 1979, eu conversei quatro vezes com um dos seus grandes amigos: Frank Yates, durante o meu doutoramento no Imperial College of
Science and Techology. Sua sala ficava oposta a sala do café.

Aqueles que não conhecem bem a sua grandiosa obra, pode ser de interesse acessar os seus papers disponíveis em:

http://digital.library.adelaide.edu.au/coll/special/fisher/index.html

http://www.economics.soton.ac.uk/staff/aldrich/fisherguide/rafreader.htm

Espero que quando o grande Fisher completar 150 anos e eu não estiver mais aqui importunando vocês, alguém possa assinalar esse memorável fato.