quarta-feira, 24 de março de 2010

Quinze Cientistas Importantes

Para meus alunos e leitores entenderem melhor a vida de grandes nomes da ciência, apresento abaixo um sumário de quinze cientistas entre os mais importantes. Alguns dos textos aqui descritos foram resumidos da internet.

O primeiro, Pierre de Fermat, considerado o príncipe dos amadores, nunca considerou a matemática como a principal atividade de sua vida. Era Juiz da Suprema Corte de Toulouse e estudava matemática por diletantismo. Em razão de seu cargo, não podia ter amigos para não ser acusado de favoritismo em seus julgamentos. Na produção científica de Fermat, percebe-se uma característica predominante amadora. Na ver- dade, com pouquíssimas exceções, ele não publicou nada em vida e nem fez qualquer exposição sistemática de seus métodos, pois tinha mais os problemas da matemática como desafios a superar. As suas contribuições para o cálculo geométrico e infini- tesimal foram inestimáveis. Ele mostrou como calcular as áreas de parábolas e hipér- boles, e determinou o centro de massa de vários corpos. Fermat conhecia o cálculo infinitesimal muito antes de Newton. Uma outra contribuição importante se insere na Teoria das Probabilidades. Seus avanços nesta área deram-se por volta de 1654, quando passou a se corresponder com Pascal. A probabilidade era um assunto desco-nhecido por Fermat até então, que procurou descobrir as regras matemáticas que descrevessem com maior precisão as leis do acaso. Com o advento dos computadores foram testados o seu último trabalho (o Teorema de Fermat) com milhões de algarismos supondo diferentes valores para x, y, z e n>2. A igualdade x^n + y^n = z^n não se verificou. Assim empiricamente se comprova que Fermat tinha razão. O teorema de Fermat desafiou matemáticos por todo o mundo durante 358 anos, até que o britânico Andrew Wiles conseguiu demonstrá-lo, definitivamente, em 1995. Coube a Fermat a introdução de eixos perpendiculares, a descoberta das equações da reta, da circun- ferência e das cônicas. Por mérito, as coordenadas cartesianas deviam denominar-se coordenadas Fermatianas. Cartesius é a forma latinizada de Descartes (René).

O segundo, Blaise Pascal, viveu apenas 39 anos e foi filósofo, físico e matemático francês. Como filósofo e místico criou uma das afirmações mais pronunciadas pela humanidade nos séculos posteriores: "O coração tem razões que a própria razão desconhece", síntese de sua doutrina filosófica - o raciocínio lógico e a emoção.
Deduziu 32 proposições de geometria estabelecidas por Euclides. Publicou em 1640 o célebre Teorema de Pascal. Especializou-se em cálculos infinitesimais e criou uma máquina de somar - a Pascalina, a primeira calculadora mecânica que se conhece. Juntamente com Fermat, estabeleceu, em 1654, as bases da teoria das probabilidades e da análise combinatória, que Huygens ampliou três anos depois. Esclareceu os prin- cípios da prensa hidráulica e estabeleceu o Princípio de Pascal que diz: em um líquido em repouso ou equilíbrio as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida. É o princípio de funcionamento do macaco hidráulico. Na Mecânica é homenageado com a unidade de pressão Pascal (1Pa = 1 N/m²). Escreveu um tratado sobre hidrostática que só foi publicado um ano após sua morte em 1663. Por causa de uma "visão divina", abandonou as ciências para se dedicar exclusivamente à teologia.

O terceiro, Leibniz, matemático, filósofo, cientista, diplomata e bibliotecário alemão. Atribui-se a ele a criação dos termos "função" e variável usado para descrever uma quantidade relacionada a uma curva, como, por exemplo, a sua inclinação ou um ponto qualquer situado nela. Deve-se a Leibniz e a Newton, a origem do cálculo moderno, em particular pelo seu desenvolvimento da integral e da regra do produto. Demonstrou genialidade, também, nos campos da lei, religião, política, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia. Em 1666, ele formulou um modelo que é o precursor teórico de computação moderna: todo raciocínio, toda descoberta, verbal ou não, é redutível a uma combinação ordenada de elementos tais como números, palavras, sons ou cores. Leibniz encontrava-se dois séculos à frente de sua época, no que concerne à matemática e à lógica. Ele criou uma máquina de calcular, superior à que fora criada por Pascal, fazendo as quatro operações. Em 1676, ele descobriu o teorema fundamental do cálculo, que só foi publicado em 11 de julho de 1677, onze anos depois da descoberta não publicada de Newton. Durante toda a sua vida, Leibniz trabalhou para aristocratas, buscando em suas genealogias provas legais de direito ao título de posse de terras, chegando a confirmar para seus empregadores o direito a metade de todos os tronos da Europa. Ele organizou a Academia de Ciências de Berlim, da qual foi o primeiro presidente. Esta Academia permaneceu como uma das três ou quatro principais do mundo até que os nazistas a eliminaram. Morreu solitário e esquecido. Seu funeral foi acompanhado por seu secretário, única testemunha de seus últimos dias.

O quarto, Newton, físico e matemático, foi um dos criadores, junto com Leibniz, do Cálculo Diferencial e Integral. Ele, também, descobriu várias leis da mecânica e a Teoria da Gravitação Universal. Para Newton, a função da ciência era descobrir leis universais e enunciá-las de forma precisa e racional. Seu trabalho científico sofreu forte influência dos trabalhos de Fermat sobre retas tangentes à curvas. Fez suas primeiras hipóteses sobre gravitação universal e escreveu sobre séries infinitas, o embrião do Cálculo Diferencial e Integral. Por causa de uma peste, em 1665, o Trinity College fechou e o cientista foi para casa de sua mãe em Woolsthorpe. Foi neste ano de retiro que construiu quatro de suas principais descobertas: o teorema binomial, o cálculo, a Lei da Gravitação Universal e a natureza das cores. O método numérico conhecido hoje como Método de Newton-Raphson foi publicado em 1685 por John Wallis, embora Joseph Raphson tenha publicado um caso especial deste algoritmo em 1690. Sua principal obra foi a publicação "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural" (1687), em três volumes, no qual enunciou a lei da gravitação universal, generalizando e ampliando as constatações de Kepler, e resumiu suas descobertas, principal- mente o cálculo.

O quinto, D’Moivre, foi um matemático francês famoso pela Fórmula de D’Moivre, que relaciona os números complexos com a trigonometria, pela sua descoberta da distribuição normal e pelas contribuições à teoria das probabilidades. Era amigo de Isaac Newton e Edmund Halley. Ele teve de abandonar o seu país por motivos religiosos, tendo vivido em Inglaterra a partir de 1685. Por não ser inglês, foi-lhe sempre negado o direito de lecionar nas Universidades da Ingla- terra, embora tenha sido eleito ainda muito novo para a Royal Society, já que o mérito das suas investigações matemáticas (realizadas através de aulas particulares que dava para subsistir) foi, desde cedo, reconhecido pela comunidade científica inglesa e, designadamente, pelo próprio Newton. Na sua obra "Doctrine of Changes" dedicou-se ao estudo das leis do acaso, sendo um dos nomes que, no século XVIII, aparecem como patronos da Teoria das Probabilidades. O seu estudo analítico da trigonometria associado aos números complexos e às fórmulas que atualmente usamos são conhecidas com o seu nome.

O sexto, Leonhard Euler, foi um matemático e físico suíço e era amigo dos Bernoulli. Dividiu uma casa com Daniel Bernoulli, além de colegas eram amigos, e trabalhavam frequentemente juntos. Euler foi professor de física em 1731 pela sua classificação no ranking da escola. Dois anos mais tarde, Daniel Bernoulli partiu para Basiléia, sendo substituído por Euler como professor de Matemática. A contribuição de Euler para a teoria dos logaritmos não se res- tringiu à definição de expoentes, como usamos hoje. Trabalhou, também, no conceito do logaritmo de números negativos. Enquanto se mantinha pesquisando em Berlim, d'Alembert pesquisava em Paris. Em 1747, Euler escreveu a este matemático explicando corretamente a questão dos logaritmos dos números negativos. Mas ao contrário do que seria de se esperar, a fórmula proposta por Euler, válida para qualquer ângulo (em radianos), não foi compreendida por Bernoulli nem por d'Alembert pois, para eles, os logaritmos de números negativos eram reais, o que não é verdade já que se tratam de números imaginários puros. Através da sua identidade – mais tarde conhecida como Igualdade de Euler – é possível observar que os logaritmos de números complexos, reais ou imaginários, também, são números complexos. Usando as identidades de Euler é, também, possível expressar quantidades como sen(1+i) ou cos(i), na forma usual para números complexos. Desta maneira, vê-se que ao se efetuar operações transcen-dentes elementares sobre os números complexos, os resultados são números complexos. Em 1735, Euler resolve um problema que lhe dá fama mundial - o chamado "problema da Basiléia". Trata-se de somar a série infinita dos inversos dos quadrados. Johann Bernoulli tinha tentado resolver esse problema durante décadas, tendo desafiado matemáticos de todo o mundo. Euler desenvolve, assim, um novo método analítico para lidar com o problema. Mas o seu método permite também somar todas as séries infinitas do mesmo tipo em que o expoente é um número par. Voltaire, o filósofo, que teve uma posição favorecida no círculo social do Rei, teve uma grande disputa com Euler, um homem simples e religioso. Euler era, em muitas maneiras, o oposto direto de Voltaire. Ficou famosa uma disputa na corte sobre a existência de Deus em que, depois de Voltaire brilhantemente ter "demonstrado" a inexistência de Deus e, portanto, a banalidade da fé religiosa de Euler, este simplesmente escreveu uma equação num quadro e declarou "e, portanto, segue-se que Deus existe". Em 1771, Euler perdeu todos os seus bens, à exceção dos manuscritos de Matemática, num incêndio na sua casa. No mesmo ano é operado às cataratas, o que lhe restituiu a visão durante um breve período de tempo. Mas, ao que parece, Euler não teria tomado os devidos cuidados médicos e ficou completamente cego. Em 1773, perdeu a sua mulher de 40 anos. Passou os anos finais de sua vida na Rússia, então sob a proteção de Catarina a Grande. Por ter sido um dos melhores e mais produtivos matemáticos do mundo, foi representada na sexta série das notas do banco Suíço e em numerosos selos da Suíça, Alemanha e da Rússia.

O sétimo, Laplace, foi um dos professores preferidos de Napoleão Bonaparte e era chamado o Newton da França, sendo considerado o fundador da moderna teoria das probabilidades. Laplace é conhecido principalmente por seu trabalho sobre as equações diferenciais, a Transformada de Laplace e a Equação de Laplace. Ficou famoso, também, o Demônio de Laplace, concebido pelo físico: de posse de todas as variáveis que determinam o estado do universo em um instante t, ele pode prever o seu estado no instante t'>t.

O oitivo, meu xará, Gauss, nasceu em 1777 e viveu até 1855, sendo considerado um dos maiores matemáticos de todos os tempos, tendo a estatura de Arquimedes e de Newton. Seus campos de interesse excederam os de ambos. Gauss contribuiu para todos os ramos da Matemática e para a Teoria dos Números. Dentre suas descobertas nos tempos de estudante, as mais significativas são a do método dos mínimos quadrados e a prova da reciprocidade quadrática na teoria dos números. Com a quarta prova do teorema fundamental da álgebra, concluiu seu doutorado em 1801. Ele desenvolveu sistematicamente seus métodos de cálculo de órbitas incluindo a teoria e o uso de mínimos quadrados. O método dos mínimos quadrados foi muito importante no cálculo da órbita do planeta Ceres que havia sido recentemente descoberto. Em janeiro de 1801, Piazzi observou e perdeu o novo planeta. Durante o restante do ano astrônomos tentaram em vão localizar o novo planeta e Gauss decidiu assumir mais este desafio. Para isso ele aplicou duas das mais apu- radas teorias de órbitas e improvisou métodos numéricos. Em dezembro a tarefa estava cumprida e o planeta foi encontrado na órbita pré-calculada. Este feito de localizar um corpo celeste pequeno e distante com informações visuais insuficientes pareceu sobre-humano, principalmente porque Gauss não revelou seus métodos. Gauss firmava sua reputação de matemático e cientista genial. Esta década que começou com o cálculo preciso da órbita de Ceres foi decisiva para Gauss e terminou com a publicação do seu livro Mecânica Celeste. Gauss inventou o método de mínimos quadrados, que hoje é indispensável em pesquisa na Estatística e dividiu o mérito com Legendre, que publicou o método (independentemente) em 1806. Este trabalho foi o começo do interesse de Gauss na teoria dos erros de observação. A lei de Gauss da distribuição normal de erros e sua curva em formato de sino, que a acompanha, é hoje bastante familiar para todos que trabalham com Estatística. Em 1809 ele publicou sua segunda obra prima "Teoria do Movimento dos Corpos Celestiais Girando a volta do Sol", na qual se encontra uma exaustiva explanação da determinação das órbitas dos planetas e cometas. Os seus estudos na Física tiveram seu início formal em 1829 com estudos sobre o campo magnético terrestre, porém ele mostrou pouca experiência para realizar medições, o que tornou valiosa a colaboração de Weber, um jovem e brilhante físico. Em outubro deste ano Gauss voltou-se a estender seus conhecimentos ao campo da física, começando a trabalhar em problemas de física teórica, especialmente em mecânica, capilaridade, acústica, óptica e cristalografia. Em 1832, Gauss apresentou à Academia um trabalho em que aparece pela primeira vez o uso sistemático de unidades absolutas (distância, massa, tempo) para medir grandezas não mecânicas. Juntamente com Weber, em 1833, Gauss chegou às leis de Kirchoff e antecipou várias descobertas na eletricidade, estática, térmica e da fricção, porém não publicaram resultados, pois seus interesses estavam voltados ao eletromagnetismo terrestre, sendo que na publicação de maior relevância, Gauss expressa o potencial em qualquer ponto da superfície da terra como uma série infinita de funções esféricas, juntamente com dados experimentais. Nem todas as descobertas de Gauss no período prolífico de 1796 a 1814 foram anotadas, mas muitas das que ele rascunhou são suficientes para estabelecer a prioridade de Gauss em vários campos (funções elípticas, por exemplo) onde alguns de seus contemporâneos se recusaram a acreditar que ele os havia precedido. Gauss nunca reivindicou a autoria de descobertas a que ele se antecipara (algumas se tornaram importantes campos da matemática no século XIX). Embora o sentido de alguns registros esteja perdido para sempre, a maior parte é suficientemente clara. Alguns nunca foram publicados, segundo ele, por considerar seus trabalhos científicos apenas como resultado da profunda compulsão de sua natureza. Publicá-los para o conhecimento de outros lhe era inteiramente indiferente. Disse, também, que tal volume de novas idéias trovejou em sua mente, antes de ter completado vinte anos que, dificilmente, poderia controlá-las, só havendo tempo de registrar uma pequena fração delas. Gauss apresentava provas sintéticas e conclusões indestrutíveis de suas descobertas às quais nada poderia ser acrescentado ou retirado: "Uma catedral não é uma catedral - disse - até que o último andaime tenha sido retirado". Com este ideal diante de si, Gauss preferia polir sua obra muitas vezes, ao invés de publicar um grosseiro esboço. Seu princípio era: uma árvore com poucos frutos maduros. Os frutos deste esforço em busca da perfeição estavam, na verdade, maduros, mas nem sempre facilmente digeríveis. Todos os passos pelos quais o gol tinha sido atingido tinham sido omitidos, não era fácil para seus seguidores redescobrir a estrada pela qual ele tinha caminhado. Conseqüentemente, alguns de seus trabalhos tiveram que esperar por intérpretes altamente qualificados antes que o mundo da matemática pudesse entendê-los. Gauss desprezava os filósofos que se ocupavam de assuntos científicos, por eles não compreendidos. E levou a sério a existência de Ceres. Calcular sua órbita com tão escassos detalhes disponíveis poderia ser quase impossível. Mas para o jovem cuja memória inumana o capacitava a dispensar uma tábua de logaritmos quando ele estava apressado, toda esta aritmética infindável – logística não aritmética - não o assustava. Era, ao contrário, um desafio tentador, que lhe daria fama e dinheiro.

Gauss não estava isento de inimigos. Foi ridicularizado por aqueles que consideravam um desperdício de tempo computar a órbita de um planeta insignificante. Ele obteve avanços significativos em geometria e na aplicação da matemática para a teoria Newtoniana da atração e eletromagnetismo. Como foi possível a um único homem realizar tão colossal massa de trabalho da mais alta categoria? Com sua modéstia característica Gauss declarou que "se outros tivessem pensado nas verdades matemáticas tão profunda e continuamente quanto eu, eles poderiam, ter feito minhas descobertas". Dava pouca importância ao uso prático de suas invenções. Gauss nunca foi atraído pelo reconhecimento público oficial, embora sua competência em estatística, segura e aritmética política pudesse ter feito dele um bom ministro de finanças. Seus últimos anos foram cheios de honrarias, mas não da felicidade que ele teria merecido. Pela primeira vez em mais de vinte anos ele deixou Göttingen, no dia 16 de Junho de 1854, para ver a estrada de ferro que estava sendo construída entre sua cidade e Kassel. Gauss sempre tivera agudo interesse pela construção e operação de estradas de ferro; agora ele veria uma sendo construída. No caminho, os cavalos dispararam; ele foi atirado para fora da carruagem. Não ficou ferido, mas muito chocado. Recuperando-se, ainda teve o prazer de assistir à abertura das cerimônias quando a estrada de ferro chegou a Göttingen em 31 de Julho de 1854. No começo do ano seguinte surgiram os sintomas de gota. Inteiramente consciente, praticamente até o fim, morreu pacificamente na manhã de 23 de Fevereiro de 1855.

O nono, Poisson, foi um matemático e físico francês famoso por suas equações, nas quais distinguiu a matemática para a mecânica da matemática para a física. Poisson desenvolveu o expoente de Poisson que é usado na transformação adiabática de um gás. A lei de transformação adiabática de um gás diz que o produto entre a pressão de um gás e o seu volume elevado ao expoente de Poisson é constante. A equação de Poisson é uma equação de derivadas parciais com uma ampla utilidade em eletrostática, engenharia mecânica e física teórica.

O décimo, Francis Galton, antropologista, meteorologista, matemático e estatístico, nasceu em 1822, perto de Birmingham, Inglaterra. Ele estudou nas Faculdades de Birmingham e de Londres e na Universidade de Cambridge, mas parou antes de se formar para viajar. Galton foi o pai do campo da eugenia, ele é mais conhecido pelos seus estudos de hereditariedade e inteligência humana. Ele era primo de Charles Darwin e subsidiou as futuras teorias deste, realizando estudos conjuntos sobre antropologia e inteligência humana, orientados para demonstrar o caráter hereditário dos traços físicos e mentais dos indivíduos. Notável teórico da heredi- tariedade genética, ele formulou, então, a polêmica teoria eugênica sobre o aprimoramento da espécie. Na estatística, Galton formulou conceitos de regressão enquanto estudava semelhanças familiares. Ele, também, desenvolveu questionários e métodos de pesquisa para coleta de dados.

O décimo primeiro, Edgeworth, foi um economista de inspiração liberal e professor de ciências econômicas da Universidade de Oxford. Ele é considerado um dos maiores expoentes da escola matemática, ou seja, da corrente doutrinária que propôs a aplicação do método matemático para as indagações econômicas. O nome de Edgeworth está ligado principalmente à análise do conceito de utilidade e das leis de mercado. De grande importância foi sua introdução das curvas de indiferença no estudo do equilíbrio do consumidor.

O décimo segundo, Sir Ronald Fisher, nasceu em 1890 em Londres, Inglaterra e morreu em Adelaide na Austrália. Ele recebeu um grau de BA em astronomia pela Universidade de Cambridge em 1912. Entre os assuntos que Fisher estudou em Cambridge estava a teoria de erros e desse estudo Fisher começou a estudar estatística. Ele é considerado um dos pais e fundador da estatística moderna. Muitas das suas contribuições mais importantes foram desenvolvidas enquanto ele estava na Estação Experimental Agrícola de Rothamsted, inclusive seus trabalhos na análise de variância, testes de hipótese, método da máxima verosimilhança e planejamento de experimentos. Fisher foi muito importante para a Genética e a Estatística. Savage num artigo de 1976 no Annals of Statistics diz: "Eu ocasionalmente encontro geneticistas que me perguntam se o grande geneticista R. A. Fisher é, também, um importante estatístico". Em 1919, Fisher começou a trabalhar na Estação Experimental de Rothamsted e definiu as idéias e os princípios de Planejamento de Experimentos e Análise de Variância. Ele descobriu a técnica de máxima verossimilhança e deu origem aos conceitos de suficiência, máxima verossimilhança e informação. Em 1925 publicou seu primeiro livro "Statistical Methods for Research Workers" e em 1935 publicou outro clássico "The Design of Experiments".

O décimo terceiro, Karl Pearson, estatístico e matemático, nascido em Londres, deu uma grande contribuição para o desenvolvimento da Estatística. Ele foi o fundador do Departamento de Estatística Aplicada do University College (1911) que foi o primeiro Departamento de Estatística em todo o mundo. Juntamente com Galton e Weldon, fundou a Biometrika e desenvolveu um grande número de métodos estatísticos padrões, sendo um dos fundadores da estatística moderna. Publicou a maioria dos seus trabalhos na Biometrika. Embora muitos dos seus estudos estivessem associados às questões de hereditariedade, os seus métodos e até as expressões que criou, tais como hipótese nula e nível de significância, fazem hoje parte da rotina diária de todo estatístico e cientista.

O décimo quarto, Gosset (mais conhecido como Student), tentou ser engenheiro mas foi rejeitado em virtude de problemas de visão. Ele graduou-se em Química pela Universidade de Oxford, onde se graduou em Química. Após formado, conseguiu um emprego como químico da cervejaria Guinness em Dublin, Irlanda. Na Guinness ele fez contribuições importantes para a Estatística, apesar de não ter sido contratado como estatístico. Foi o ambiente de trabalho na cervejaria que estava interessada em melhorar a qualidade de sua cerveja que o tornaram um estatístico. Em 1900, o Laboratório de Pesquisa Guinness foi inaugurado e se estava tentando obter a matéria prima para a cerveja ao menor custo possível, mas com a melhor qualidade possível. Para isto fatores como variedades de cevada e lúpulo, condições de cultivo e maturação. Após alguns anos de pesquisa Gosset teve a oportunidade de trabalhar como estatístico. Ele foi capaz de obter dados de diferentes exemplos de fabricação para tentar encontrar o que seria o melhor. Como os novos cervejeiros trabalhavam em conjunto era natural para eles levarem os dados para que Gosset resolvesse os problemas numéricos. Em 1903, ele podia calcular erros padrão. Em 1904, ele escreveu sobre o processo de fabricação de cerveja. Este relatório levou Karl Pearson a consultá-lo. Eles se encontraram em julho de 1905, tendo uma longa conversa. Pearson em uma hora e meia fez com que Gosset entendesse a teoria dos erros padrões. Ele voltou a cervejaria e colocou os métodos em prática. O encontro com Pearson fez com ele estudasse, também, a teoria dos erros. Ele escrevia artigos em suas horas de folga e publicava sob o pseudônimo de "Student", pois a cervejaria não permitia qualquer publicação feita por seus empregados. Estes artigos eram sobre a distribuição da média e sobre o coeficiente de correlação. Ele nunca trabalhou de forma isolada. Ele conduziu experimentos para testar variedades de sementes. Gosset trabalhou com Neyman e com Fisher que não tinha boas relações com Pearson que não era o caso de Gosset que se dava muito bem com ambos. Ele descobriu a forma da distribuição "t" através de uma combinação de trabalho empírico e matemático com números aleatórios em uma das primeiras aplicações do método de Monte-Carlo.

O último, décimo quinto, Alan Turing, foi um matemático britânico. A maior parte de seu trabalho foi desenvolvido na área de espionagem, e por isso somente em 1975 veio a ser considerado um grande nome na história da computação. Dedicava-se a teoremas que podiam ser comprovados, e à Teoria da Computabilidade. Aos 24 anos de idade, consagrou-se com a projeção de uma máquina que, de acordo com um sistema formal, pudesse fazer operações computacionais. Mostrou como um simples sistema automático poderia manipular símbolos de um sistema de regras próprias. A máquina teórica de Turing pode indicar que sistemas poderosos poderiam ser cons- truídos. Tornou possível o processamento de símbolos, ligando a abstração de sistemas cognoscitivos e a realidade concreta dos números. Isto é buscado até hoje por pesquisadores de sistemas com Inteligência Artifical (IA). Para comprovar a inteligência artificial ou não de um computador, Turing desenvolveu um teste que consistia em um operador não poder diferenciar se as respostas a perguntas elaboradas pelo operador eram vindas ou não de um computador. Caso afirmativo, o computador poderia ser considerado como dotado de inteligência artifical. Sua máquina pode ser programada de tal modo que pode imitar qualquer sistema formal. A idéia de computabilidade começou a ser delineada. Em 1943, sob sua liderança foi projetado o Colossus, computador inglês que foi utilizado na Segunda Guerra Mundial. Utilizava símbolos perfurados em fitas de papel que processava a uma velocidade de 25.000 caracteres por segundo. O Colossus tinha a missão de quebrar códigos alemães ultra-secretos produzidos por um tipo de máquina de codificação chamada Enigma. Os códigos mudavam frequentemente, obrigando a que o projeto do Colossus devesse tornar a decifração bastante rápida. Turing foi depois até os Estados Unidos da América para um projeto de transmissão de dados transatlânticos de forma segura. Como homossexual declarado, no início dos anos 50 foi humilhado em público, impedido de acompanhar estudos sobre computadores, julgado por "vícios impróprios" e condenado a terapias à base de estrogênio, um hormônio feminino o que, de fato, equivalia à castração química e que teve o humilhante efeito secundário de lhe fazer crescer seios. Deprimido, em 7 de Junho de 1954, com apenas 41 anos, suicidou-se após ter comido uma maçã envenenada. A empresa APPLE lhe faz uma homenegem usando essa maça cortada como sua logomarca.

terça-feira, 23 de março de 2010

Os Primórdios da Estatística na UFRJ

A estatística no Brasil há 35 anos era muito artesanal e bem diferente do que presenciamos hoje. Todos sabem que eu adoro história da estatística e faço aqui um breve relato da estatística na UFRJ entre 1975 e 1979. Os professores Caio Dantas e
Basílio Pereira já traçaram panoramas mais amplos da USP e dos primórdios da Estatística no Rio de Janeiro em artigos anteriores. Entendo, que essas iniciativas são importantes para mantermos viva a história da Estatística brasileira.

Nos anos de 75 e 76, os entusiastas pela estatística da UFRJ eram poucos gatos pingados que trabalhavam na Engenharia de Produção da COPPE e no recém-criado Instituto de Matemática (IM) da UFRJ. Por favor, depois me corrijam se esqueci de alguém. Em processos estocásticos, trabalhavam, Aníbal Parracho e José Manuel. O Demétrio Alonso Ribeiro (já falecido) apresentava, também, algum interesse por essa área. Os professores Fernando Chyoshi e Paulo Bravo atuavam em probabilidade e métodos estatísticos. João Sabóia e João Lizardo (já falecido), que foi presidente do CEPEL, trabalhavam em séries temporais e análise multivariada. O Gupta atuava em planejamento de experimentos, o Marlos Viana em inferência Bayesiana e o David Dorigo (já falecido) em bioestatística. O Jessé Montello (já falecido), foi presidente do IBGE, era professor em tempo parcial e o Basílio estava no Imperial College - fazendo o doutorado com o Sir David Cox em famílias separadas de hipóteses, retornando a UFRJ em julho de 76. O Eduardo Saliby e outro professor
que fez o doutorado em Lancaster (esqueci agora o nome) atuavam em simulação.

Utilizando aqueles sistemas arcaicos de cálculos estatísticos, apareciam o Félix Vaca-Obando e o César das Neves. Naquela época, usávamos os computadores IBM1130 e B6700 do NPD. Não ocorriam seminários regulares e a presença de algum professor visitante estrangeiro da área de Estatística era um evento raro. Os nossos artigos eram efetivamente publicados em anais de congressos, do tipo CBM, SBPC e SOBRAPO. Não existia ainda a ABE. Num concurso em estatística em 1977 no Instituto de Matemática da UFRJ, presidido pelo Jessé Montello, foram aprovados: Hélio Migon, Roberto Cintra, Santiago Carvajal, eu e Mário Jorge.

Para melhorar a qualificação do capital humano em estatística na UFRJ, Paulo Bravo foi fazer o doutorado em Kent (1977), Mário em Glasgow (1978), eu e Hélio para a Londres e Warwick em 1979 e 1980, respectivamente.

O Prof. Basílio Pereira complementa muito bem esse artigo enfatizando os seguintes pontos: "a) Não dá para comparar realmente a estatística daquela época com a de hoje, pois seu desenvolvimento foi enorme; b) Dos professores acima mencionados apenas Santiago, Paulo Bravo, Anibal, Gauss, Migon e eu continuamos pesquisando em estatística; c) Fernando Chyoshi é um outlier que trabalha em qualquer área da pesquisa operacional. Além disso foi co-orientado pelo Henry Daniels, importante estatístico inglês (um dos orientadores de Sir David Cox); d) Como curiosidade, o Prof. Jessé Montello foi um dos fundadores da ENCE e importante atuário. Tem um artigo na revista Estadistica que deu origem a primeira publicação do David Brillinger (conforme seu cv na página de Berkeley). Era sobre uma definição de normal multivariada dada por Jessé que seguiu depois uma discussão. A ligação do Prof. Brillinger com o Brasil é bem antiga – de 1961; e) Gupta foi contratado com Santiago, que tinha o mestrado no CIENES, bem como Paulo Bravo. Os dois foram os pioneiros na estatística do IM/UFRJ. Logo, em seguida, com o PhD em Estatística no exterior, chegaram Dorigo (1975), eu (julho 1976), Anibal, Marlos, Valter de Senna, Ruy Milidiu,Gauss, Migon, Dani e Fernando. Do exterior voltou, também, o João Ismael com o MSc de Stanford. Destes, vários professores foram para outras universidade ficando apenas na UFRJ: Paulo Bravo, Basílio, Annibal, Migon, Dani, Santiago e João Ismael".

A discussão sobre como a estatística da UFRJ evoluiu para alcançar o patamar de qualidade atual é importante como exemplo para os professores dos demais Departamentos de Estatística do País. Assim como, o belo exemplo do Departamento de Estatística do IME/USP – que não deve nada a maioria dos centros de estatística do primeiro mundo. A estatística em outros poucos locais têm, também, se consolidado, e oxalá acontece o mesmo nos demais Departamentos de Estatística do Brasil no curto ou pelo menos no longo prazo. Bem, essas reminiscências terão que perdurar para resguardar a memória da estatística brasileira.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Pujança da Economia Brasileira

Tenho sempre escrito sobre a pujança da economia brasileira em detrimento da ciência produzida pelo país, conforme pode ser verificado no artigo abaixo em http://gausscordeiro.blogspot.com/2010/03/ciencia-no-brasil.html.

A Revista Forbes mostra agora mais um ponto positivo para a economia brasileira, ao colocar um brasileiro - o empresário Eike Batista -, no 8o lugar na lista dos 10 homens mais ricos do mundo. Na frente dele, tem um mexicano, três americanos, um francês e dois indianos. Ninguém mais! Sua fortuna estimada em 27 bilhões de dólares equivale a, aproximadamente, 1/75 do que tudo que o Brasil produziu de bens e serviços (seu PIB) no ano de 2009 (cerca de 2 trilhões de dólares). Um operário que ganha o salário mínimo teria que trabalhar 7.330.317 anos para acumular a fortuna que o Sr. Eike tem hoje. Um recém doutor de uma IES teria que trabalhar um pouco menos: cerca de 679.720 anos.

O Sr. Eike foi o bilionário que mais ganhou dinheiro em 2009. A sua fortuna aumentou (neste ano) cerca de US$ 19,5 bilhões, ou seja, o crescimento ocorreu a uma taxa média de R$ 1110,00 por segundo. Um professor da rede pública estadual do Estado de Pernambuco em regime de 40 horas semanais ganha essa taxa por mês de trabalho. Mundo estranho esse... Torna-se interessante comparar esse crescimento com o PIB do Estado do Rio de Janeiro em 2009, que foi de 172 bilhões de dólares em 2009. Assim, o empresário sozinho respondeu por 11% desse PIB. Em outras palavras, pelo equivalente ao ganho de 1,2 milhão de fluminenses. Sem ele, o PIB per capita desse estado seria 89% menor do que o valor atual.

No final da semana passada, a Forbes refez seus cálculos e por conta do aumento rápido do valor de algumas ações de suas empresas, o Sr. Eike passou a ser a 4a fortuna do mundo. O mais surpreendente é que há dois anos o Sr. Eike ocupava o modesto 142º lugar entre os homens mais ricos do planeta. O empresário investe nas áreas de mineradoras, petróleo, logística, geração de energia, construção naval, saúde, imóveis, turismo e até restaurantes. A Folha de São Paulo de 11/03/10 enfatiza "que dois terços da fortuna de Eike vêm da sua empresa de exploração de gás e petróleo".

Quando eu era garoto - homem rico era o Sr. Manuel Batista da Silva (banqueiro - dono do finado BANORTE) -, cuja família morava num imenso casarão da Av. Rui Barbosa bem defronte dos Colégios das Damas e São Luiz no Bairro dos Aflitos. Ele figurava nos jornais como a 9a fortuna do Brasil, época áurea dos usineiros de Pernambuco e quando Recife era a terceira cidade mais importante do País. Agora, surge para mim numa escala agigantada esse Sr. Eike.

O Brasil será a 4a maior economia do mundo daqui a quatro décadas e sua economia (forte e consolidada) é bem evidente. Dois bons exemplos: i) Agora, a grande maioria das casas dos brasileiros mais humildes tem televisão a cores. Eu comprei a minha primeira TV a cores em Londres em setembro de 1979; ii) A CEF e outros bancos estão financiando de forma correta milhares de moradias, o que não acontecia com o famigerado BNH.

Entretanto, cabe reiterar que grande parte da riqueza do Eike foi feita em torno da aquisição da CSN - ofertada a preço de banana pela equipe econômica do FHC (se não estou enganado). Esse crime de lesa-pátria não pode ser direcionado ao próprio Eike que age como qualquer capitalista. Finalmente, enfatizo que alguns formadores de opinião têm definido seus negócios na área do petróleo como escusos.

Os 120 Anos de um Gênio

Em 17 de fevereiro de 2010, há exatos 120 anos -, nascia o maior gênio da estatística: Sir Ronald Fisher.

Em qualquer lista de grandes cientistas e/ou benfeitores da humanidade, acredito que Fisher deveria aparecer junto de Newton, Darwin, Einstein, Kepler, Galileo, Pasteur,
Copernicus, Turing, Hawking, Marconi, Bohr, Dirac e alguns outros que não tenho agora na memória. Enteretanto, na maioria dessas listas, ele não aparece. Uma grande injustiça do meio científico. Toda a ciência aplicada - desde as humanas até as engenharias, passando pela economia e agrárias, deve muito ao seu trabalho.

Fisher esteve no Brasil em 1955 - na função de Presidente da Sociedade Internacional de Biometria. Certamente, o brasileiro mais próximo a ele foi o Prof. Pompeu Memória
da EMBRAPE. Nos últimos três meses de 1979, eu conversei quatro vezes com um dos seus grandes amigos: Frank Yates, durante o meu doutoramento no Imperial College of
Science and Techology. Sua sala ficava oposta a sala do café.

Aqueles que não conhecem bem a sua grandiosa obra, pode ser de interesse acessar os seus papers disponíveis em:

http://digital.library.adelaide.edu.au/coll/special/fisher/index.html

http://www.economics.soton.ac.uk/staff/aldrich/fisherguide/rafreader.htm

Espero que quando o grande Fisher completar 150 anos e eu não estiver mais aqui importunando vocês, alguém possa assinalar esse memorável fato.

domingo, 14 de março de 2010

Professor Sidrack de H. Cordeiro

Sinto, neste momento uma grande dificuldade e certo constrangimento para falar sobre o meu pai, pois tenho que guardar certo comedimento e uma justa medida de expressão que, procurando ser a mais verdadeira, não se mostre muito exagerada pela condição de ser seu filho, nem menos fiel pelo receio de o ser.

Meu pai, Prof. Sidrack (de Holanda Cordeiro), faleceu no dia 11 de setembro de 2007, mas ainda me faz muita falta, principalmente nos dias de domingo como o de hoje, pois sempre almoçava com ele. Meu pai era uma pessoa dócil, super afável, única, mágica, de grande inteligência e surpreendente. Eu jamais conheci alguém como ele, meu exemplo e referencial de tudo que tenho de bom e decente. Era meu grande amigo. Aliás, amigo é a melhor palavra que define meu pai, pois nossa amizade me marcou para sempre. Sempre procurava almoçar com ele aos domingos.

Ele me ensinou a ter um grande amor pela ciência, a ousar, a ler livros e buscar por conta própria minhas respostas, meus questionamentos mais profundos. Meu pai detestava polemizar a não ser no campo da ciência e da religião. Ele era muito tímido, de temperamento bem retraído e de poucos amigos. Muito diferente do meu jeito de ser, pois faço amigos com muito maior facilidade, mas depois me arrependo de alguns, principalmente daquelas figurinhas (diminutivo mesmo) acadêmicas que aparecem através de trapaças e enganações.

Prof. Sidrack nasceu em Arcoverde, no sertão pernambucano, no dia 22 de novembro de 1924. Formou-se em Química Industrial pela Universidade de Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e em Matemática pela Universidade Católica de Pernambuco. Exerceu por muito pouco tempo a sua formação de químico industrial e desde cedo se dedicou ao ensino da física e matemática, inicialmente lecionando no secundário de colégios do Recife (Padre Félix, Salesiano e Americano Batista, entre outros) e, posteriormente, na UFPE. Quem conviveu com ele, nunca deixava de notar sua enorme inteligência e o apetite insaciável com o qual atacava de tudo, desde problemas de física e matemática até os romances clássicos e religião, passando pela astronomia, economia e filosofia.

Ele se destacou desde cedo pelo seu talento para o aprendizado. Durante a adolescência, distinguiu-se dos demais colegas pelas altas notas em matemática, e mais tarde, no decurso de sua carreira de educador, pelo autodidatismo e resolução de problemas complexos de física e matemática. Seu lado mais visível é o de uma pessoa que escrevia regularmente em jornais sobre a realidade brasileira, e se mostrava, dentre tantos observadores, o mais lúcido e o de melhor prosa. Tinha uma inteligência fascinante que crescia em múltiplas dimensões em várias áreas do conhecimento.

A tentativa de resumir em poucas linhas a atuação acadêmica do meu pai, como professor e educador, notável por sua amplitude e efeito multiplicador, é uma tarefa árdua. Além de formar inúmeras gerações de estudantes no Colégio Americano Batista e na Escola de Engenharia da UFPE, possuía uma vasta cultura em Física e Matemática. Durante 30 anos, entre 1959 e 1989, ele ensinou Física na UFPE a milhares de engenheiros. Rigoroso na conduta, ele tinha uma visão humanista da sociedade, uma natureza democrática e sempre aberta ao diálogo, à colaboração e ao entendimento. Sempre foi profundamente engajado na defesa dos direitos do homem e nas ações pela cidadania. Era presença constante no mundo intelectual de Pernambuco e no meio da física básica do País.

Prof. Sidrack tinha um talento imbatível como professor, que dominava como poucos a arte de transmitir com clareza e perfeição os conceitos da física, seja através da linguagem matemática ou de exemplos descritos na experimentação popular. A sua preocupação principal como docente era ensinar os métodos matemáticos aos alunos para que eles pudessem modelar de maneira rigorosa os problemas da física e, então, fundamentar com rigor científico as suas conclusões. Quando eu era garoto presenciei vários físicos importantes do País e do exterior freqüentarem nossa casa. Recordo-me de alguns deles: Tore Nils Olof Folmer Johnson, Dalton Gonçalves, Luiz Freire, José de Medeiros Machado, Beatriz Alvarenga e Pierre Lucie. Meu pai adorava trocar ideias com eles sobre o ensino e avanços da Física.

Tinha uma enorme paixão pelos livros e um grande conhecimento de física fundamental - que certamente o coloca na posição dos maiores conhecedores dessa área do Brasil. Admirador nato dos grandes físicos e matemáticos, ele homenageou Gauss e Dirac dando seus nomes a seus dois filhos homens. Gostava de escrever sobre ciência e religião em jornais do País afora, pois dominava com maestria ambos os assuntos. Por ser um ávido leitor nas mais diversas áreas do conhecimento, explica-se o impacto dos seus artigos publicados, nas últimas décadas, nesses jornais. Escreveu vários livros didáticos, pois seu maior interesse de vida era transmitir seus conhecimentos aos alunos.

Tinha uma preocupação máxima com o trabalho incessante e costumava sempre repetir: "trabalhe com afinco, pois a natureza não dá nada de graça a ninguém". Quando dormíamos demais, procurava nos acordar com a frase repreensiva: "Nunca o sol encontrou Rui Barbosa na cama". Ao saber que eu tinha passado no vestibular da Escola de Engenharia da UFPE (em 1970) em 3º lugar, entre mais de 1000 candidatos, me disse: "Gauss, você poderia ter sido o primeiro, se tivesse deixado de lado as festas e as namoradas". Por gostar de ir paquerar com alguns amigos, as festas dos sábados à noite (chamadas em Recife de "assustados") e os encontros de brotos do Clube Internacional eram sagrados nos fins de semana para minha turma e, muitas vezes, eu levava (no bolso) pequenos pedaços de papel com demonstrações de matemática, teoremas da física e leis da química para estudar nos intervalos das danças e no tempo livre. Os clubes Umuarama, Sargento Wolf, Cisnes, Militar e Yolanda eram os nossos "points".

Durante minha estada em Londres - onde fiz meu doutoramento entre 1979 e 1982 -, fomos visitar vários lugares e ele, sempre me impressionava, ao relatar com precisão fatos históricos desses locais relacionando-os com acontecimentos na linha do tempo da ciência.

Várias estórias permearam a vida deste grande educador, persistem na comunidade acadêmica e o tempo não apaga. Certa vez encontrou um grupo de alunos da Escola de Engenharia que queriam que ele resolvesse de imediato um problema complicado de física. Depois de alguns minutos cercado pelos alunos, perguntou a eles, sem sequer notar a posição do carro: "Eu vim de lá ou vim de cá?". Com a pronta resposta, "o senhor veio de cá", ele concluiu: "então eu já almocei".

Sem sombra de dúvidas, meu pai foi um dos maiores educadores de física do Brasil.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Para que então ser cientista no Brasil?

Gravatá é uma cidade de clima agradável que fica a cerca de 80 km de Recife. Em Pernambuco – desempenha o mesmo papel que Petrópolis, Teresópolis e Friburgo têm no Rio. Tenho um conhecido lá, arquiteto, bom de papo e de birita, que, de vez em quando, a gente bota conversa fora.

Ele é filho de um grande amigo já falecido - companheiro inseparável dos carnavais em Recife dos anos 60-, onde particiávamos juntos do corso e das manhãs de sol
do Sport. Não posso esqucer, também, os encontros de brotos (palavra estranha hoje) que íamos no Clube Internacional para paquerar. Na nossa juventude, as moças da sociedade pernambucana só frequentavam as festas dos Clubes Internacional e Portugûes - clubes de elite dessa época em Recife.

Meu conhecido, tem cerca de 34 anos, é formado numa faculdade particular e nunca saiu de Recife para fazer qualquer curso de extensão em arquitetura. Ele tem firme convicção que pós-graduação é uma grande perda de tempo.

Ele costuma cobrar R$ 30,00 por m^2 nos seus projetos - que ele faz rápido com o AUTOCAD, cada projeto consistindo de um jogo de 5 plantas: baixa, cortes, hidráulica, elétrica e coberta. Em média, ele fatura cerca de R$ 3000,00 (uma casa simples de 100 m^2) por projeto.

Depois, ele pode acompanhar (como serviço extra), a execução, e cobra cerca de dois salários míninos mensais por projeto, fora ainda um percentual extra que ganha em cima dos fornecedores de material comprado por seu intermédio (cerâmica, louças, etc). Em suma: como ele faz uma média de seis projetos por mês (dados de mais de um ano atrás), ele recebe um salário fixo esperado de R$ 18000,00/mês, fora o variável mais difícil de ser computado.

Esse valor é quase o dobro do salário de um professor titular de uma federal ou estadual no País e cerca de 15 bolsas de produtividade de pesquisa concedidas pelo CNPq num sistema de concorrência acirrada envolvendo todos os pesquisadores do País. Para que então ser cientista no Brasil? Somente por diletantismo e muito amor à ciência! Que os jovens universitários saibam desse fato.

domingo, 7 de março de 2010

A Ciência no Brasil

Segundo reportagem divulgada na Folha de São Paulo há algumas semanas, a produção acadêmica brasileira cresceu cerca de 56% de 2007 a 2008, colocando o Brasil como o 13º maior produtor de ciência no ranking mundial de artigos publicados em periódicos especializadas. A produção científica brasileira ultrapassou a da Rússia, outrora potência científica, que ocupa agora a 15ª posição. Entretanto, esse resultado deve ser comemorado com cuidado, pelo fato de sermos a 10ª economia do mundo (7ª economia se for medida em termos de paridade do poder de compra). Ademais, produzimos somente 2% do conhecimento científico mundial, percentual inferior a economias menos expressivas, como aquelas da Índia, Coréia do Sul e Austrália. Em 1990, o Brasil detinha um percentual muito mais reduzido da ciência: somente 0,6% da produção global.

Podemos chegar à simples conclusão: a produtividade científica do Brasil não está evoluindo como a nossa produção de bens e serviços. Com efeito, Inglaterra e Itália têm economias (medidas pela paridade do poder de compra) equivalentes ao Brasil, mas produziram, entre 2007 e 2008, 2,58 e 1,66 mais artigos em revistas científicas do que nosso País, respectivamente. Urge, portanto, melhorar as nossas universidades e o nosso capital humano universitário. Para corroborar com essa assertiva, temos apenas quatro universidades listadas entre as 500 melhores universidades do mundo, a saber: USP, UNICAMP, UFRJ e UNESP. Essas quatro universidades foram classificadas após a 100ª posição. O Brasil poderia estar melhor situado na produtividade científica mundial, se não tivesse exportado cérebros para os Estados Unidos e Europa.

Um outro ponto desabonador: a qualidade da produção científica brasileira – medida pelo número de citações -, persiste abaixo da média mundial. Ficamos entre a 30ª e 50ª posições em termos de citações em inúmeras áreas do conhecimento.

Comparando com a produção científica do início dos anos 90, segundo pesquisa elaborada pela Thomson Reuters, a produção brasileira avançou bastante, aproximadamente, 8,30 vezes, ou seja, de 3,7 mil para 30,4 mil artigos científicos. Esse crescimento brasileiro ocorreu devido ao aumento do fomento à pesquisa no País nas duas últimas décadas, notadamente, por conta do aumento das bolsas de produtividade científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do crescimento do número de bolsas para mestres e doutores. De 1996 a 2007, o número dessas últimas bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) cresceu de 19 mil para 41 mil. Entretanto, o valor da bolsa de produtividade do CNPq continua muito baixo: valor médio mensal de R$ 1000,00. "Mutatis mutandis" para as demais bolsas. A título ilustrativo, um senador custa aos cofres públicos o equivalente a 82 bolsistas de produtividade de pesquisa do CNPq - que são os maiores responsáveis pela ciência desenvolvida no Brasil. Cabe aqui enfatizar que a FAPESP, que é uma instituição de primeiro mundo, tem contribuirdo e muito pelo aumento da produção científica brasileira. Isso é justificado pelo fato de três das quatro melhores universidades brasileiras serem paulistas.

O número de cientistas no Brasil deveria crescer substancialmente. O País tem 0,92 cientista para cada mil trabalhadores - muito abaixo da média de 7,5 cientistas por mil trabalhadores dos países do primeiro mundo. No meu entender, esse número deveria ser pelo menos quadruplicado para que a ciência brasileira fosse mais compatível com a dimensão de sua economia. Estratégias para isso devem ser elaboradas no curto prazo, pois daqui a quarenta anos, seremos provavelmente a 5ª maior economia do planeta.

sábado, 6 de março de 2010

O Dever do Orientador

Sempre quando examinamos candidatos nos concursos públicos observamos com cuidado a produção científica, apresentação de aula didática, experiência acadêmica e títulos. Mas, muitas vezes, não examinamos - com o devido cuidado -, um dado supe importante: quem foram os orientadores de mestrado e doutorado do candidato? Esse último dado (além é claro das publicações) é sempre considerado nas universidades americanas ao contratar um professor.

No Brasil, será sempre oportuno considerá-lo, principalmente, face à proliferação de cursos de pós-graduação e da baixa qualidade de muitas disserações e teses produzidas. A variabilidade do fator qualidade se torna assim quase infinita.

Um orientador com extensa produção científica internacional tende quase sempre a orientar - na sua área -, boas dissertações e teses. Aqueles sem produção científica internacional orientam - na quase totalidade das vezes -, trabalhos sem o mínimo conteúdo científico. Isso sem falar naqueles pseudo-pesquisadores que se arvoram a orientar em área que não conhecem e atuam. Ademais, muitas instituições que preservam a qualidade da pós-graduação no País já estão solicitando publicações (nacionais ou internacioanis) para ingresso de alunos nos seus cursos. Esse é um bom avanço no sistema de pós-graduação brasileiro.

Uma estratégia que certamente poderá ajudar na decisão (do que incluir e do que excluir na academia) é sempre solicitar cópias dessas dissertações e teses para um exame mais cuidadoso.

Entendo que todos aqueles comprometidos com a qualidade da pós-graduação brasileira (e em especial da estatística) devem ficar bem atentos aos pontos que descrevo
acima. Publicar é uma tarefa muito difícil e exisge muita peristência. A estatística brasileira deve continuar crescendo baseada na meritocracia. O caminho é muito longo, mas em ciência não existem atalhos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Um singelo tributo ao Prof. Francisco Magalhães

A comunidade acadêmica da UFRPE sentiu, com muito pesar, o falecimento prematuro do Prof. Francisco Oliveira Magalhães, ocorrido no dia 22 de janeiro.

Conheci o Prof. Francisco em 1963 quando fui seu aluno de matemática por três anos consecutivos no Colégio Marista - à época ele era irmão Marista - sendo chamado de Irmão Nilo.

Muito dedicado e exigente com seus alunos - passava problemas complexos de álgebra e geometria da coleção de livros FTD nas provas.

Na turma de 1964 desse Colégio - segundo ano do meu ginásio -, somente seis alunos de cerca de 50 passaram por média em matemática com ele e eu, por pura sorte, fui um deles.

No científico do Colégio Marista começou a ensinar química - mas não fui mais seu aluno, pois fui estudar no Colégio Salesiano a partir de 1967. Entretanto, meus antigos colegas do Marista, sempre ressaltavam que ele já adotava no científico (para leitura extra aula) alguns livros americanos de química traduzidos para
o português e que só eram ensinados na universidade. Certamente, Irmão Nilo marcou minha geração no Colégio Marista e de outros colegas talentosos que ocupam funções importantes hoje como Sóstenes Lins, Rildo Pragana, Paulo Cunha, Walter França, Roberto Carício, entre outros.

Francisco era uma pessoa muito correta e de princípios éticos. Ele dava um grande valor ao conhecimento científico e gostava de conversar sobre a história da ciência.
Há alguns anos, ele venceu as eleições diretas para Reitor na UFRPE (seu vice era José Antonio Aleixo). Eles venceram as eleições mas não assumiram por questões meramente políticas.

De uns anos para cá, sempre me encontrava com ele -, que mesmo aposentado estava quase todas as tardes na UFRPE - ia e voltava sempre de ônibus com uma pasta de documentos debaixo do braço. De vez em quando, eu dava uma carona para ele até a Avenida Caxangá - quando aproveitávamos para botar conversa fora -, falando sobretudo da universidade e discutindo causos da ciência.

A última vez que o vi, há uns 10 meses, lanchamos juntos numa das barracas da entrada da UFRPE e conversamos por quase uma hora. No final, ele me viu meio apressado e comentou: "Gauss, você continua com a mesma pressa de sempre desde
quando era meu aluno". Uma grande perda para o meio acadêmico. Que Francisco descanse em paz!

terça-feira, 2 de março de 2010

crime de lesa-pátria

Caros Redistas,

O Estado brasileiro patrocina uma grande injustiça com todos os brasileiros: abandonou quase por completo o ensino público de qualidade - nos níveis básico e fundamental -, e agigantou de forma descontrolada a universidade que é pública. Entretanto, muitos dos seus cursos (aqueles de grande demanda) são frequentados na sua maioria por alunos das classes mais favorecidas.

Quando morei em Londres - de 1979 a 1982 -, minha filha Lelaine (o nome é por conta de uma música "Sweet Leilani" que Pat Boone cantava e eu adorava) estudava numa escola pública em South Kensington (bairro nobre de Londres). Ficava na escola o dia inteiro - das 9 hs às 16 hs. Eu a levava na garupa da minha bicicleta, enquanto alguns pais traziam seus coleguinhas em carros de luxo. Em outra escola pública do mesmo quarteirão trabahava como professora primária - Lady Diana -, que se casaria depois com o Princípe Charles.

Hoje, no País, existe quase um oligopólio concentrado do ensino privado fundamental e básico - que é infinitamente superior ao público -, mas que, por custar caro, não permite que as classes mais desfavorecidas sejam beneficiadas. Esse fato se constitui
numa grande injustiça social - que nunca foi combatida pelos nossos políticos.

Em nome da igualdade social, todos os brasileiros deveria poder estudar e ter acesso gratuito ao bom ensino, principalmente na base da pirâmide escolar, sem qualquer dependência por conta do nível de renda familiar. Quantos cientistas no País vieram das classes menos desfavorecidas? Por certo, uma minoria.

Entendo que essa situação é mais um crime de lesa-pátria que a nossa sociedade pratica, pois é uma agressão ao desenvolvimento do nosso País. Qualquer estudo de mobilidade social pode comprovar quantitativamente o que estou dizendo.


Cordiais Saudações,

Gauss