quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Indústria da Fé

Não sou uma pessoa religiosa no sentido amplo da palavra, mas acredito em Deus como um Ser Supremo. Entretanto, tenho observado que o fenômeno da proliferação de todos os tipos de seitas no Brasil tem uma explicação lógica decorrente da situação miserável e medonha em que se encontra a maior parte da nossa população: analfabetismo, alimentação insuficiente, saúde precária, educação quase-zero, falta de emprego e moradia, insegurança e grande criminalidade. No interior do Brasil, esses templos se multiplicam como as farmácias, se constituindo numa verdadeira indústria da fé.

Enquanto isso, não se investe o suficiente na educação, por exemplo, no melhoramento das escolas públicas para torná-las mais atrativas aos jovens. Assim, as pessoas mais pobres têm dois caminhos: procurar essas seitas que dizem curar todos os males deste mundo e ainda prometem o paraíso numa vida futura, ou então, vão para a marginalidade para resolver os seus problemas. Desse modo, as seitas são alienantes, pois exploram o sentimentalismo e a ingenuidade das pessoas, tornando-as passivas sem ânimo de lutar pelos seus direitos básicos e fundamentais: saúde, alimentação e educação. Além de contribuírem para aumentar a mão de obra ociosa do País. Os políticos fisiológicos agradecem!

Lamentável que as autoridades públicas que se preocupam com censuras às artes, cinema, teatro e letras de canções, permitem a proliferação dessas seitas fanáticas que funcionam como verdadeiras máquinas que, inicialmente, recebem um capital estrangeiro, mas depois as "caixinhas" retornam esse capital com juros para os países de origem. Não terão sido elas uma das causas do fracasso do Mobral?

A média anual de arrecadação da Igreja Universal do Bispo Edir Macedo, entre março de 2001 e março de 2008, foi cerca de R$ 1 bilhão, segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras do MF. Essa Igreja arrecada por ano entre 14% a 20% da produção anual de bens e serviços (PIB) de cidades brasileiras como Joinville (SC), Maceió (AL), Cabo Frio, Volta Redonda e Niterói (RJ), Natal (RN), Ribeirão Preto, Santos e Diadema (SP); todas colocadas entre as 35ª e 50ª posições no rank das mais ricas. Para fazer mais duas comparações: a CHESF - que abastece com energia 45% do Nordeste -, chegou ao recorde de lucratividade em 2008 com apenas 40% a mais: R$ 1,4 bilhão de reais. A receita da Prefeitura do Recife por ano com o IPTU é menos de 20% do que arrecada a Igreja Universal.

Aos graves problemas que estamos enfrentando – calamidades como aquela que ocorreu há algumas semanas no Rio de Janeiro-, algumas dessas seitas ainda desacreditam na medicina e contribuem para aumentar a mão de obra ociosa do país.

Em João 8:32, diz-se: "a verdade vos libertará". Logo, a mentira vos escravizará. Para mim, muitas dessas seitas são mentirosas e se constituem num grande flagelo que assola o Brasil. A verdade deve ser encontrada no trabalho incessante, no estudo, na educação e na ciência, pois esta é uma busca constante à procura do verdadeiro. A fé cristã - que deve ser respeitada, é algo muito mais importante do que o que se prega a maioria dessas seitas.

Finalmente, eis o paradoxo: o Brasil é o país do mundo ocidental que tem o maior índice de religiosidade e o maior índice de criminalidade.