segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Utilidade Marginal

No Brasil, não temos partidos políticos bem definidos - com exceção talvez do PT.
Quando eu morava em Ealing Broadway (Londres), entre 1979 e 1980, sempre pegava o metrô - em inúmeras ocasiões -, junto ao ex-lider trabalhista britânico Michael Foot.

No nosso País, qualquer grande lideranca do PT tem mordomia de fazer inveja a alguns dos lideres mundiais. Ademais, cada político brasileiro procura apenas maximizar a sua utilidade marginal - princípio básico da escola marginalista de economistas.

Com efeito, o Presidente do PSDB que deveria apoiar (por primeiros princípios) os candidatos vinculados ao Serra, apoia abertamente no Interior do Estado de Pernambuco, com vasta propaganda explícita em diversos ônibus e locais, o candidato do Presidente Lula ao Governo do Estado, que será eleito (folgadamente) para seu segundo mandato.

A Chance de Voto do Eleitor em Pernambuco

Estimar a chance de um eleitor votar em determinado candidato é um problema estatís- tico que pode ser tratado de diversas formas. Existem diferenças significativas no eleitorado estratificado por variáveis sociais. Os institutos de pesquisa usualmente estimam essa chance pela freqüência observada de votos numa amostragem estratificada por locais e segmentos do eleitorado. Entretanto, a maior desvantagem da abordagem desses institutos é não determinar, estatisticamente, as variáveis sócio-econômicas que explicam a intenção de voto e o peso dessas variáveis na equação que estima a chance de voto no candidato. Entre essas variáveis, podem ser citadas: domicílio eleitoral, sexo, idade, faixa etária, nível de escolaridade e renda familiar. O eleitorado de uma cidade de pequeno porte se comporta de forma diferente daquele de uma cidade de grande porte.

Numa amostragem estratificada realizada no Estado de Pernambuco, entre 17 e 20 de julho de 2010, em dezoito dos seus municípios, as chances de voto foram computadas por modelos estatísticos de regressão em diversos segmentos eleitorais determinados como significativos. Os dados são relativos a um total 2563 eleitores, sendo 1351 eleitores de Recife e 1212 do interior do Estado. A grande vantagem da utilização desses modelos é minimizar os erros que podem consideráveis nas pesquisas baseadas nas freqüências relativas. Para o Estado de Pernambuco, os modelos estatísticos contiveram até 10 parâmetros populacionais e obteve-se a equação que estima a chance dos eleitores de um segmentos do eleitorado votar num candidato. Foram adotadas as seguintes classificações: faixa etária (16 a 24 anos, 25 a 59 anos e 60 ou mais), nível de escolaridade (fundamental, médio e superior) e renda familiar (menos de 2 SM, entre 2 e 5 SM e mais de 5 SM).

O eleitor se comporta de forma diferente em Recife e no interior do Estado. Em Recife, a candidata Dilma tem menor chance (26%) de voto entre as mulheres que ganham mais de 5 SM e muito maior chance (53%) entre os homens que ganham menos de 5 SM. Assim, a maior chance é praticamente o dobro da menor chance. A associação do sexo com o nível de renda do eleitor é fundamental para explicar o voto nessa candidata. A chance de um eleitor votar em Serra é maior (38%) entre os eleitores com renda superior a 5 SM e menor (24%) entre os eleitores com renda inferior a 5 SM. As demais variáveis analisadas não interferem na chance de intenção de voto no Serra. No interior do Estado, a idade do eleitor é o único fator significativo para a candidata Dilma, enquanto a renda é o único fator significativo para Serra. Assim, a Dilma tem maior (63%) e menor chance (57%) de voto entre os eleitores que ganham mais e menos de 24 anos, respectivamente. Serra tem maior chance (28%) entre aqueles que ganham mais de 5 SM e menor (18%) entre aqueles que ganham menos de 5 SM. Assim, a proporção esperada de votos em Dilma (62%) no interior é cerca de três vezes maior do que em Serra (20%).

Em Recife, a chance de voto em Eduardo depende do sexo e da renda do eleitor. A maior chance (62%) ocorre entre os homens com rendas de 2 a 5 SM, enquanto a menor (43%) corresponde às mulheres que ganham menos de 2 SM ou mais de 5 SM. A proporção de votos esperada em Eduardo na capital é 51%. Para Jarbas, as variáveis importantes são idade e renda. O seu melhor cenário (41% de chance) corresponde ao eleitorado acima de 60 anos com renda superior a 5 SM. O segmento do eleitorado com menos de 60 anos e renda inferior a 5 SM produz o seu pior cenário (22% de chance). No interior, a candidatura de Eduardo mostra-se consolidada, com uma chance de 54% que independe de quaisquer variáveis sócio-econômicas. As variáveis significativas que explicam a intenção de voto em Jarbas no interior são sexo e renda. A maior chance (19%) ocorre entre os eleitores do sexo masculino com renda superior a 5 SM. A menor chance (10%) corresponde aos eleitores do sexo feminino com idade inferior a 24 anos. A proporção esperada de votos em Jarbas no interior do Estado é 15%. Assim, no interior de Pernambuco, a proporção de votos esperada em Eduardo é cerca de 3,6 vezes maior do que em Jarbas.

Em Recife, constata-se para os principais candidatos a senador, que a chance do voto em Humberto Costa é maior (42%) entre os homens com menos de 60 anos e menor (28%) entre as mulheres com menos de 60 anos. O melhor cenário (51%) para Maciel, em Recife, é formado por eleitores que têm escolaridade fundamental ou média e ganham mais de 5 SM, enquanto o seu pior cenário (20%) corresponde aos eleitores com esco- laridade superior e renda inferior a 5 SM. Três variáveis são significativas para explicar a chance de voto em Armando Monteiro: sexo, idade e renda. A maior chance (43%) se dá entre homens com mais de 60 anos e renda acima de 2SM, enquanto a menor chance (9%) corresponde às mulheres com menos de 24 anos e renda abaixo de 2SM. A chance de voto em Jungmann só depende do sexo do eleitor, variando de 18% para os homens e 14% para as mulheres. No interior do Estado, a intenção de voto no senador mostra um comportamento bem distinto da capital. A chance de voto em Humberto é maior (34%) entre os eleitores com renda acima de 2 SM e menor (28%) entre aqueles co renda inferior a 2 SM. A chance do voto em Maciel é maior (30%) para eleitores com mais de 60 anos e menor (15%) para aqueles com menos de 24 anos. A chance de voto em Monteiro é maior (34%) para os eleitores que têm grau de escolaridade médio ou superior e mais de 60 anos, e menor (9%) para aqueles com escolaridade fundamen- tal e menos de 24 anos. A chance de voto em Jungmann é maior (8%) para os eleitores acima de 60 anos. Na realidade, o dobro da chance correspondente aos eleitores com menos de 60 anos.

Finalizando, Humberto tem uma maior preferência na cidade de Recife em relação aos municípios do interior. Maciel perde muito em preferência de votos no interior do Estado. Curiosamente, a preferência em Armando é exatamente a mesma – na capital e no interior. Fazendo-se um teste de igualdade das proporções esperadas de votos em Maciel e Armando, a hipótese de igualdade no Estado seria aceita. Jungmann tem reduzida preferência no interior do Estado.

Esse artigo foi originalmente publicado na Folha de Pernambuco em 5 de setembro de 2010.