Um dos meus diletos amigos e professor da UFRPE, Eduardo Valle, faleceu hoje (dia 18 de novembro) depois de quase 4 meses lutando contra um câncer no cérebro.
Eu estava no Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística, em Águas de São Pedro, na última semana de julho, quando ele me ligou apreensivo, pois estava com suspeita de um AVC, sem saber ainda do diagnóstico da terrível patologia.
Desde, então, sua saúde, piorou a passos largos e seu sofrimento nos dois últimos meses foi incomensurável. Hoje, Eduardo descansou em paz, mas senti um enorme vazio quando sua esposa Joyse ligou para me comunicar do seu falecimento por volta das 10hs da manhã.
Conheci Eduardo, em 1970, quando fomos colegas no turno noturno da Universidade Católica de Pernambuco: ele fazia computação e eu matemática. Por gostar de jogar conversa fora, logo ficamos bons amigos. Suas piadas eram verdadeiras pérolas que mantenho vivas até hoje.
Ele se tornou professor por meu intermédio. Quando assumi turmas extras no Colégio Marista, convidei-o para ficar com algumas das minhas aulas do Colégio e Curso Torres, que funcionava na Rua Joaquim Felipe, Bairro da Boa Vista, em Recife. Esse curso, era o mais famoso de Recife como preparatório para alunos de Direito e, em 1970, matemática começou a ser exigida para as áreas de ciências humanas e sociais.
Eduardo era uma pessoa muito inteligente, correta, de princípios, bem humorada e brilhante em ideias. Ajudou a montar a área computacional da Pró-Reitoria de Plane-jamento da UFPE. Fez várias consultorias para órgãos públicos e privados. Na UFRPE, era sempre requisitado para resolver problemas de ordem computacional.
Nos meses que esteve doente, eu ficava uma manhã ou tarde com ele no hospital, em cada semana, rendendo seus familiares.
Há cerca de 3 semanas, já bem debilitado, ficou em silêncio durante toda a manhã de uma 6ª feira, apesar de minhas várias tentativas de puxar conversa com ele. Entendo que os diversos medicamentos lhe causavam uma grande dificuldade para se comunicar. Nem mesmo, durante seu asseio de quase duas horas, quando eram necessários três
profissionais paramédicos, não falou comigo apesar dos meus esforços nesse sentido. Ele apenas olhava bem atento para mim e para as manobras dos enfermeiros.
Quando seu irmão Renato chegou para me substituir, por volta das 13 horas, me dirigi para junto da cama dele e disse: "Eduardo estou indo embora, no domingo passarei por aqui". Ele não respondeu nada. Entretanto, para minha surpresa, quando eu estava abrindo a porta do quarto para sair, ouvi sua voz muito embargada dizer apenas duas palavras: "Obrigado, Gauss!". Saí de lá muito triste pela sua condição e, muito pensativo, com aquelas duas palavras martelando a minha mente.
Quando o visitei na UTI na semana seguinte, tentando cumprir o horário rígido do hospital -, assim que ele me viu, apenas chorou, talvez sinalizando que não queria ficar sem seus familiares naquela unidade intensiva. Ele apresentava grande dificuldade para respirar. O sofrimento mental e o vazio devem ser próximos do infinito para pacientes numa UTI.
A vida, infelizmente, é madrasta com algumas pessoas como foi com Eduardo, que hoje partiu para um mundo certamente melhor. Entretanto, aprendemos muito com os ataques perversos e sorrateiros que ela contempla algumas pessoas queridas.
Hoje Deus ajudou a Eduardo no alívio do seu enorme sofrimento físico. Que ele tenha paz para sempre. Me senti triste e sem sentido quando contemplei seu caixão descer numa cova rasa por volta das 17hs 10 min, mas me dirigi a ele em pensamento com essas palavras:
"Obrigado, Eduardo! Foi muito bom e gratificante para mim ter sido seu amigo por cerca de 40 anos".
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
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