Gostaria de salientar nesse texto (para aqueles que não sabem) que publicar artigos científicos em periódicos internacionais é uma tarefa não-trivial que exige persis- tência, concentração, um trabalho árduo e longo, além do fator sorte que não deve ser desprezado. Eu gastei mais de 20 anos para publicar um artigo científico sobre a distribuição dos resíduos de Pearson em modelos lineares generalizados, pois não concordava com alguns dos pontos levantados pelos revisores em duas tentativas anteriores e tinha enormes dificuldades de mostrar que - na prática -, os teoremas funcionavam.
Quantas vezes, temos uma boa idéia, desenvolvemos corretamente toda a metodologia
trabalhando intensamente vários meses a fio e, ao submetermos, recebemos pareceres do tipo "trabalho muito matemático e sem interesse para o periódico". Existem até aqueles revisores "verdadeiramente sacanas" que rejeitam algum artigo apenas para prejudicar um dos autores baseando-se em meros princípios ideológicos ou rixas passadas.
Se o editor do periódico não gostar de um dos autores por algum motivo, resta a eles desistirem de imediato de encaminhar seus artigos para lá. Apenas para dar um bom exemplo, o maior estatístico do Século XX, Sir Ronald Fisher, não conseguiu publicar seus artigos na Biometrika, pois seu editor à época (Karl Pearson) era seu desafeto. Esse fato persistiu quando Egon Pearson (filho de Karl) assumiu a Biometrika. Eu conheci pessoalmente o Prof. Egon Pearson, em Londres, em 1979, pouco antes de
seu falecimento em 1981. Quando puxei conversa com ele no coffebreak do Departamento de Estatística do Imperial College of Science and Technology, notei que ele estava confundindo o Brasil com o México.
Não é de se estranhar que muitos professores preferem continuar apenas ministrando suas aulas - aprovando a grande maioria dos alunos -, para não ter aborrecimentos com aqueles alunos medianos, e escrevendo textos sem projeção internacional, do que se dedicar de corpo e alma à difícil (mas prazerosa) atividade de publicar artigos científicos. Encontrei na minha vida acadêmica até aquele que me disse: "Gauss, você sempre tentando fazer o dever de casa do Tio Sam?".
Afinal, o orgasmo intelectual do cientista é ver seu trabalho efetivamente publicado e sem isso, ele não vive mas apenas hiberna.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
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Bastante interessante o texto professor!
ResponderExcluirMesmo permanecendo fiel ao mundo coorporativo sempre estou a caminhar pela área de pesquisas buscando algo intrigante. Intrigante tanto quanto o seu curioso blog. Abracos
Prof. Gauss,
ResponderExcluirFui sua aluna no Colégio Torres em 1970.
Suas aulas magestrais de matemática são
inesquecíveis. Agora ao ler textos do seu
blog, o senhor superou minhas expectativas.
Continue sempre assim. Leda
Professor...
ResponderExcluirto passeando pelo seu blog, lendo os posts atuais e os antigos!! comentei ate em alguns...
Gosto dos textos que levam as pessoas a pensar!!
Muito BOM...!
abraço.
(Karen - Medicina Veterinária sv1)
Caro Gauss
ResponderExcluirRevisores sem ética (como vc diz, sacanas)também atuam como avaliadores nos comitês de orgãos como o CNPq.
Um abraço
Caro Prof. Gauss,
ResponderExcluirOs seus artigos são profundos. Fui professor da da UFPE por 8 anos mas abandonei por dois motivos: a grande maioria dos professores
só dá aula e uma parcela desses ainda se
dedica à política universitária. Hoje
trabalho na iniciativa privada ganhando
três vezes mais. Pesquisadores como o senhor representam a exceção das universidades brasileiras.
Um abraço,
Adelson Pires