Ontem, jantando na casinha humilde do pai do meu afilhado, na agradável cidade serrana de Gravatá (PE), a preocupação dele era uma só: "se continuar chovendo, não sei se terei condições de fazer a feira da próxima semana".
Eu explico: ele (José) é pintor e depende para viver de trabalhos esporádicos - que com a chuva intensa que atinge essa cidade -, praticamente desapareceram. Os nossos políticos (mesmo aqueles que verdadeiramente nos roubam) não têm essa preocupação: os seus salários - oriundos dos impostos dos Josés da vida -, são regiamente pagos sem depender do fator sorte (tempo sem chuva para José).
A vida é uma rotina perversa. Girando esse acontecimento, para se fazer ciência temos mesmo que ter uma dose excessiva de paciência e elan para a pesquisa científica. Um artigo (que sou co-autor) foi rejeitado por um editor associado (nesta manhã de sábado) com o seguinte comentário (depois dele tecer vários elogios ao paper)
"However, the Birnbaum-Saunders model which the paper studies has very limited use in statistics."
Seu ponto principal, no meu entender, é rídiculo. Assim, esse editor coloca de fora da ciência todas as pesquisas futuras envolvendo a B-S. Mas, mesmo com o injusto
parecer, tenho melhor sorte que José: enviaremos o paper para outro periódico! Ele não pode deixar sua família e procurar trabalho num local que não esteja chovendo.
Em tempo: a feira dele está garantida nas próximas 4 semanas, pois emprestei a grana para ele me pagar quando o seu trabalho costumeiro retornar.
sábado, 19 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
O mau gosto musical
É impressionante como o mau gosto musical prolifera a passos largos nos canais de TV e nas rádios. A grande maioria das letras, músicas, cantores e cantoras é de dar pena.
Quem (como eu) cresceu ouvindo Agostinho dos Santos, Angela Maria, Orlando Silva, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Elis Regina, Cauby Peixoto, "o chato" João Gilberto, Tim Maia, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Wilson Simonal, Nara Leão, entre outros, e escuta os intérpretes de hoje - com raras exceções -, comprova a decadência musical no País.
Para aqueles mais jovens, leiam abaixo os versos da música do Pixinguinha denominada "Rosa". O autor dessa letra era um simples mecânico, que morava em Engenho de Dentro (bairro classe média carioca situado entre o Meier e Piedade) chamado Otávio de Souza.
Eu passava muito por esses bairros quando dava aula à noite na Universidade Gama Filho (1975-1977). Procurem ouvir Rosa no youtube cantada pela Marisa Monte. Depois disso, com grande chance, vocês terão que desligar a TV e o rádio quando surgir a grande maioria dos intérpretes atuais. Segue a belíssima letra de Rosa:
Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
Quem (como eu) cresceu ouvindo Agostinho dos Santos, Angela Maria, Orlando Silva, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Elis Regina, Cauby Peixoto, "o chato" João Gilberto, Tim Maia, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Wilson Simonal, Nara Leão, entre outros, e escuta os intérpretes de hoje - com raras exceções -, comprova a decadência musical no País.
Para aqueles mais jovens, leiam abaixo os versos da música do Pixinguinha denominada "Rosa". O autor dessa letra era um simples mecânico, que morava em Engenho de Dentro (bairro classe média carioca situado entre o Meier e Piedade) chamado Otávio de Souza.
Eu passava muito por esses bairros quando dava aula à noite na Universidade Gama Filho (1975-1977). Procurem ouvir Rosa no youtube cantada pela Marisa Monte. Depois disso, com grande chance, vocês terão que desligar a TV e o rádio quando surgir a grande maioria dos intérpretes atuais. Segue a belíssima letra de Rosa:
Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
domingo, 6 de junho de 2010
Brasil Engessado
O PIB (produto interno bruto) é o valor de toda a riqueza (bens e serviços) gerado num país. O valor do PIB brasileiro, em 2005, foi de R$ 1,937 trilhão. Medindo o PIB pelo poder de compra de cada país, o Brasil fica colocado em décima posição mundial, à frente de países como Canadá, México e Espanha. O PIB per capita é uma medida do padrão de vida dos cidadãos. O PIB per capita brasileiro medido, também, pelo poder de compra, vale cerca de US$ 8050. Estamos na 70ª posição mundial e abaixo da média mundial de US$ 8724, perdendo na América Latina para o Uruguai, Argentina, Chile e México. Estes dados permitem concluir que o Brasil não é um país pobre, mas uma nação de muitos pobres.
O Brasil vem crescendo a uma taxa média de 2,6% nos últimos três anos. Portanto, o seu PIB somente duplicará daqui a 27 anos. A média de crescimento do PIB brasileiro, entre 1981 e 2005, foi somente de 2,2%, embora este baixo percentual de crescimento não vença sequer o crescimento populacional e a depreciação das nossas empresas. Se a nossa população continuar crescendo nos próximos anos à mesma taxa anual, estimada em 1,9%, podemos inferir que o nosso PIB per capita terá taxa de crescimento igual a 2,6%-1,9%=0,7%. Assim, o PIB per capita do País, mantidas essas condições, somente duplicará daqui a 100 anos, ou seja, chegará a US$ 16100. Este valor é inferior ao PIB per capita português estimado hoje em US$ 18503. Isso mesmo, só daqui a cem anos os brasileiros terão, em média, condições de vida aproximadamente equivalentes àquelas que nossos patrícios portugueses desfrutam hoje. Pobre Brasil!
O Brasil é sabidamente conhecido por ser uma das sociedades mais desiguais e injus- tas do mundo, onde a diferença na qualidade de vida de ricos e pobres é imensa. Com efeito, 1% dos brasileiros mais ricos (1,7 milhão de pessoas) detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). Temos a terceira pior distribuição de renda do mundo, de acordo com o índice de Gini - que mede a desigualdade de renda com valores entre zero (igualdade absoluta) e um (desigualdade absoluta). Este índice no Brasil é de 0,593, sendo somente superado por Serra Leoa (0,629) e Namíbia (0,707) que são economias inexpressivas. Nos países do primeiro mundo, o índice de Gini tem valores entre 0,3 e 0,4. Se examinarmos outro índice alternativo, como o índice de desenvolvimento humano (IDH), que é uma média ponderada de indicadores de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida e natalidade, o Brasil ficou, em 2005, na 63ª colocação, com um índice de 0,792. Perdemos na América Latina para Argentina, Chile, Uruguai, Cuba, Panamá e Trindade e Tobago.
Devemos nos acautelar do seguinte: sem um crescimento significativo sustentável por vários anos consecutivos, o Brasil terá como conseqüência maiores taxas de desemprego e, por conta disso, mais violência social nas próximas décadas. É dever precípuo dos nossos governantes e líderes políticos, tomarem medidas eficazes para reverter o engessamento do País de imediato, propiciando um grande crescimento econômico no curto prazo. Sem isso, o cenário futuro se nos afigura muito tenebroso.
O Brasil vem crescendo a uma taxa média de 2,6% nos últimos três anos. Portanto, o seu PIB somente duplicará daqui a 27 anos. A média de crescimento do PIB brasileiro, entre 1981 e 2005, foi somente de 2,2%, embora este baixo percentual de crescimento não vença sequer o crescimento populacional e a depreciação das nossas empresas. Se a nossa população continuar crescendo nos próximos anos à mesma taxa anual, estimada em 1,9%, podemos inferir que o nosso PIB per capita terá taxa de crescimento igual a 2,6%-1,9%=0,7%. Assim, o PIB per capita do País, mantidas essas condições, somente duplicará daqui a 100 anos, ou seja, chegará a US$ 16100. Este valor é inferior ao PIB per capita português estimado hoje em US$ 18503. Isso mesmo, só daqui a cem anos os brasileiros terão, em média, condições de vida aproximadamente equivalentes àquelas que nossos patrícios portugueses desfrutam hoje. Pobre Brasil!
O Brasil é sabidamente conhecido por ser uma das sociedades mais desiguais e injus- tas do mundo, onde a diferença na qualidade de vida de ricos e pobres é imensa. Com efeito, 1% dos brasileiros mais ricos (1,7 milhão de pessoas) detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). Temos a terceira pior distribuição de renda do mundo, de acordo com o índice de Gini - que mede a desigualdade de renda com valores entre zero (igualdade absoluta) e um (desigualdade absoluta). Este índice no Brasil é de 0,593, sendo somente superado por Serra Leoa (0,629) e Namíbia (0,707) que são economias inexpressivas. Nos países do primeiro mundo, o índice de Gini tem valores entre 0,3 e 0,4. Se examinarmos outro índice alternativo, como o índice de desenvolvimento humano (IDH), que é uma média ponderada de indicadores de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida e natalidade, o Brasil ficou, em 2005, na 63ª colocação, com um índice de 0,792. Perdemos na América Latina para Argentina, Chile, Uruguai, Cuba, Panamá e Trindade e Tobago.
Devemos nos acautelar do seguinte: sem um crescimento significativo sustentável por vários anos consecutivos, o Brasil terá como conseqüência maiores taxas de desemprego e, por conta disso, mais violência social nas próximas décadas. É dever precípuo dos nossos governantes e líderes políticos, tomarem medidas eficazes para reverter o engessamento do País de imediato, propiciando um grande crescimento econômico no curto prazo. Sem isso, o cenário futuro se nos afigura muito tenebroso.
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