sábado, 22 de janeiro de 2011

1/160

Morei em Londres por três anos e meio (de 1979 a 1982) e acho que conheço bem essa bonita cidade, onde costumava andar de bicicleta todo dia pelos seus principais
bairros. Diz um ditado da city: "If you are tired of London, you are tired of life".

Entretanto, fiquei estupefato ao ler na Folha de São Paulo de hoje (22/1/2011) uma matéria que mostra um condomínio de luxo (próximo a famosa Loja Harrods) em que o metro quadrado alcança a fantástica cifra de R$ 160 mil e a cobertura sái por cerca de R$ 371 milhões.

Entendo que o valor acima deve ser mais do que quatro vezes maior que o preço do metro quadrado da Av. Vieira Souto (Ipanema), Rio de Janeiro, que talvez seja o mais caro do Brasil. Existem prédios dessa avenida em que o condomínio mensal supera R$ 15 mil.

Da minha cidade predileta, Gravatá - agreste pernambucano -, onde o metro quadrado
das casas novas de classe média alta sái no máximo por R$ 1 mil - ou seja -,
1/160 do valor de Londres, não posso deixar de concluir: vivemos num mundo muito desigual mas até em Gravatá temos a possibilidade de viver muito bem, enquanto a milhares de brasileiros da região serrana devastada do Rio, resta apenas a probabilidade de sonhar que dias melhores virão.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O que dá pra rir dá pra chorar!

Suponha que é igualmente provável que um indivíduo morra em qualquer momento de um intervalo (0,T). Considere-se a distribuição das mortes de n indivíduos independentes nesse intervalo. Então, o valor esperado do tempo do indivíduo que viverá mais é n T/(n+1). Claro que quando n tende a infinito esse tempo máximo tenderá a T.

Esse resultado é um dos lemas da tese de Nicholas Bernoulli em 1709. Hoje, qualquer aluno que cursou probabilidade pode demonstrá-lo a partir da distribuição das estatísticas de ordem da distribuição uniforme.

Entretanto, a prova dada por Bernoulli foi complicada para sua época. Pois é, na ciência, também, os versos de Billy Branco cáem como uma luva: "O que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida, problema de hora e lugar".

Dois Brasis!

Temos dois Brasis! O primeiro, formado por grande parte de indivíduos de todo o País ajudando a tragédia da região serrana do Estado do Rio de Janeiro. O segundo: o
famigerado PMDB, onde a Contralodoria-Geral da União constatou desvios de recursos da Saúde num montante de cerca de R$ 500 milhões, entre 2007 e 2010.

Some-se, ao segundo, o gasto recorde do governo federal de R$ 80 milhões com cartões corporativos e as aposentadorias vitalícias para ex-governadores que não cumpriram de forma integral os seus mandatos. Alguns se aposentaram com menos de um ano no cargo de governador.

Um causo de Eduardo Valle

A UFPE, na área de Informática, está entre as melhores instituições do País. Infelizmente, como enfatizei em outro texto aqui, essa área perdeu (há alguns meses) um dos seus precursores: o saudoso Prof. Eduardo Valle. Permitam-me contar um causo dele do início dos anos 70 que, pelo menos para mim, foi um dos fatos marcantes da sua juventude.

Eduardo, ainda muito jovem, em 1977, tornou-se professor do Departamento de Estatística e Informática da UFPE. Ele era, também, professor da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Naquela época não havia dedicação exclusiva.

No primeiro semestre de 70, a Emprel (Empresa de Processamento de Dados da Prefeitura de Recife) fez um convênio com a IBM e alguns técnicos do Rio de Janeiro dessa importante multinacional deram (na sede da Emprel) um curso de 6 meses em módulos: Fortran 77, Cobol, Algol e PL1.

A Emprel selecionou 30 alunos para esse curso. No final, os 10 primeiros colocados seriam contratados pela Emprel. Os dois primeiros colocados foram Fred de Andrade (1o) e Eduardo Valle (2o). Eu era amigo dos dois. Fred era meu colega na Escola de
Engenharia da UFPE (ele, também, namorava a irmã de minha namorada) e Eduardo meu colega na UNICAP. Fred tornou-se depois diretor geral da Emprel.

Quando saiu o resultado do concurso - com os 10 primeiros lugares publicados nos jornais locais -, convidamos Eduardo, e um grupo de rapazes (com suas namoradas) foi comemorar no Restaurante Barril, o melhor (e mais caro) da Praia de Boa Viagem.

Naquela época as moças de família de Recife não saíam sozinhas com seus namorados e andávamos sempre em grupos. Era uma 6a feira e, depois do jantar, íriamos a uma boate da moda chamada "Ferro Velho".

Jantamos por mais de duas horas, mas na saída do restaurante, Eduardo nos disse em tom professoral e para espanto de todos: "Turma, não poderei ir a boate, porque, enquanto jantávamos, descobri uma maneira muito mais eficiente de fazer um programa
em ALGOL. Tenho que ir para casa desenvolvê-lo". Era assim, o Eduardo que perdemos!