A ideia da Escola de Modelos de Regressão (EMR) surgiu numa mesa de bar em Olinda, em maio de 1987, quando Clóvis Perez e eu nos deliciávamos com inúmeros copos do precioso líquido por algumas horas. O assunto em pauta (na mesa do bar) era outro: a tese de doutorado do Prof. Gilberto Paula, que Clóvis orientava formalmente no IME/USP e me convidou para ser um mero co-orientador na parte relativa à teoria assintótica.
Estávamos acertando a vinda do Gilberto à Recife para trabalharmos juntos, quando concebemos esse evento – à época denominada Escola de Modelos Lineares. O Gilberto propôs (na sua tese de doutorado) a classe dos modelos não-lineares da família exponencial, tema correlacionado com os objetivos da escola, embora tenha se dedicado mais à teoria assintótica nesta classe de modelos. Gilberto e eu publicamos um artigo na Biometrika (em 1989) decorrente desse trabalho conjunto, que revela-se importante, pois estende os modelos lineares generalizados (MLGs) e os modelos normais não-lineares simultaneamente.
Idealizamos, assim, nessa mesa de bar, que Gilberto organizasse o primeiro encontro de regressão em São Paulo. Ele depois prontamente aceitou e a Primeira Escola efetivamente ocorreu (em fevereiro de 1989) na USP, com a participação de muitos pesquisadores do Brasil e do exterior. Por exemplo, John Nelder (grande pesquisador de MLGs) e Bent Jorgensen (outro grande estatístico que definiu os modelos de dispersão) estiveram presentes. O mini-curso que o Prof. Bent ministrou nesta 1ª escola se transformou, depois, num livro publicado pela Chapman and Hall.
O Gilberto defendeu sua brilhante tese no IME/USP em setembro de 1988, mas trabalhou de forma incessante durante todo esse ano na organização desse evento, que desde então tem tido sucesso comprovado até os dias atuais.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
José e a Birnbaum-Saunders
Ontem, jantando na casinha humilde do pai do meu afilhado, na agradável cidade serrana de Gravatá (PE), a preocupação dele era uma só: "se continuar chovendo, não sei se terei condições de fazer a feira da próxima semana".
Eu explico: ele (José) é pintor e depende para viver de trabalhos esporádicos - que com a chuva intensa que atinge essa cidade -, praticamente desapareceram. Os nossos políticos (mesmo aqueles que verdadeiramente nos roubam) não têm essa preocupação: os seus salários - oriundos dos impostos dos Josés da vida -, são regiamente pagos sem depender do fator sorte (tempo sem chuva para José).
A vida é uma rotina perversa. Girando esse acontecimento, para se fazer ciência temos mesmo que ter uma dose excessiva de paciência e elan para a pesquisa científica. Um artigo (que sou co-autor) foi rejeitado por um editor associado (nesta manhã de sábado) com o seguinte comentário (depois dele tecer vários elogios ao paper)
"However, the Birnbaum-Saunders model which the paper studies has very limited use in statistics."
Seu ponto principal, no meu entender, é rídiculo. Assim, esse editor coloca de fora da ciência todas as pesquisas futuras envolvendo a B-S. Mas, mesmo com o injusto
parecer, tenho melhor sorte que José: enviaremos o paper para outro periódico! Ele não pode deixar sua família e procurar trabalho num local que não esteja chovendo.
Em tempo: a feira dele está garantida nas próximas 4 semanas, pois emprestei a grana para ele me pagar quando o seu trabalho costumeiro retornar.
Eu explico: ele (José) é pintor e depende para viver de trabalhos esporádicos - que com a chuva intensa que atinge essa cidade -, praticamente desapareceram. Os nossos políticos (mesmo aqueles que verdadeiramente nos roubam) não têm essa preocupação: os seus salários - oriundos dos impostos dos Josés da vida -, são regiamente pagos sem depender do fator sorte (tempo sem chuva para José).
A vida é uma rotina perversa. Girando esse acontecimento, para se fazer ciência temos mesmo que ter uma dose excessiva de paciência e elan para a pesquisa científica. Um artigo (que sou co-autor) foi rejeitado por um editor associado (nesta manhã de sábado) com o seguinte comentário (depois dele tecer vários elogios ao paper)
"However, the Birnbaum-Saunders model which the paper studies has very limited use in statistics."
Seu ponto principal, no meu entender, é rídiculo. Assim, esse editor coloca de fora da ciência todas as pesquisas futuras envolvendo a B-S. Mas, mesmo com o injusto
parecer, tenho melhor sorte que José: enviaremos o paper para outro periódico! Ele não pode deixar sua família e procurar trabalho num local que não esteja chovendo.
Em tempo: a feira dele está garantida nas próximas 4 semanas, pois emprestei a grana para ele me pagar quando o seu trabalho costumeiro retornar.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
O mau gosto musical
É impressionante como o mau gosto musical prolifera a passos largos nos canais de TV e nas rádios. A grande maioria das letras, músicas, cantores e cantoras é de dar pena.
Quem (como eu) cresceu ouvindo Agostinho dos Santos, Angela Maria, Orlando Silva, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Elis Regina, Cauby Peixoto, "o chato" João Gilberto, Tim Maia, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Wilson Simonal, Nara Leão, entre outros, e escuta os intérpretes de hoje - com raras exceções -, comprova a decadência musical no País.
Para aqueles mais jovens, leiam abaixo os versos da música do Pixinguinha denominada "Rosa". O autor dessa letra era um simples mecânico, que morava em Engenho de Dentro (bairro classe média carioca situado entre o Meier e Piedade) chamado Otávio de Souza.
Eu passava muito por esses bairros quando dava aula à noite na Universidade Gama Filho (1975-1977). Procurem ouvir Rosa no youtube cantada pela Marisa Monte. Depois disso, com grande chance, vocês terão que desligar a TV e o rádio quando surgir a grande maioria dos intérpretes atuais. Segue a belíssima letra de Rosa:
Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
Quem (como eu) cresceu ouvindo Agostinho dos Santos, Angela Maria, Orlando Silva, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Elis Regina, Cauby Peixoto, "o chato" João Gilberto, Tim Maia, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Wilson Simonal, Nara Leão, entre outros, e escuta os intérpretes de hoje - com raras exceções -, comprova a decadência musical no País.
Para aqueles mais jovens, leiam abaixo os versos da música do Pixinguinha denominada "Rosa". O autor dessa letra era um simples mecânico, que morava em Engenho de Dentro (bairro classe média carioca situado entre o Meier e Piedade) chamado Otávio de Souza.
Eu passava muito por esses bairros quando dava aula à noite na Universidade Gama Filho (1975-1977). Procurem ouvir Rosa no youtube cantada pela Marisa Monte. Depois disso, com grande chance, vocês terão que desligar a TV e o rádio quando surgir a grande maioria dos intérpretes atuais. Segue a belíssima letra de Rosa:
Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
domingo, 6 de junho de 2010
Brasil Engessado
O PIB (produto interno bruto) é o valor de toda a riqueza (bens e serviços) gerado num país. O valor do PIB brasileiro, em 2005, foi de R$ 1,937 trilhão. Medindo o PIB pelo poder de compra de cada país, o Brasil fica colocado em décima posição mundial, à frente de países como Canadá, México e Espanha. O PIB per capita é uma medida do padrão de vida dos cidadãos. O PIB per capita brasileiro medido, também, pelo poder de compra, vale cerca de US$ 8050. Estamos na 70ª posição mundial e abaixo da média mundial de US$ 8724, perdendo na América Latina para o Uruguai, Argentina, Chile e México. Estes dados permitem concluir que o Brasil não é um país pobre, mas uma nação de muitos pobres.
O Brasil vem crescendo a uma taxa média de 2,6% nos últimos três anos. Portanto, o seu PIB somente duplicará daqui a 27 anos. A média de crescimento do PIB brasileiro, entre 1981 e 2005, foi somente de 2,2%, embora este baixo percentual de crescimento não vença sequer o crescimento populacional e a depreciação das nossas empresas. Se a nossa população continuar crescendo nos próximos anos à mesma taxa anual, estimada em 1,9%, podemos inferir que o nosso PIB per capita terá taxa de crescimento igual a 2,6%-1,9%=0,7%. Assim, o PIB per capita do País, mantidas essas condições, somente duplicará daqui a 100 anos, ou seja, chegará a US$ 16100. Este valor é inferior ao PIB per capita português estimado hoje em US$ 18503. Isso mesmo, só daqui a cem anos os brasileiros terão, em média, condições de vida aproximadamente equivalentes àquelas que nossos patrícios portugueses desfrutam hoje. Pobre Brasil!
O Brasil é sabidamente conhecido por ser uma das sociedades mais desiguais e injus- tas do mundo, onde a diferença na qualidade de vida de ricos e pobres é imensa. Com efeito, 1% dos brasileiros mais ricos (1,7 milhão de pessoas) detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). Temos a terceira pior distribuição de renda do mundo, de acordo com o índice de Gini - que mede a desigualdade de renda com valores entre zero (igualdade absoluta) e um (desigualdade absoluta). Este índice no Brasil é de 0,593, sendo somente superado por Serra Leoa (0,629) e Namíbia (0,707) que são economias inexpressivas. Nos países do primeiro mundo, o índice de Gini tem valores entre 0,3 e 0,4. Se examinarmos outro índice alternativo, como o índice de desenvolvimento humano (IDH), que é uma média ponderada de indicadores de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida e natalidade, o Brasil ficou, em 2005, na 63ª colocação, com um índice de 0,792. Perdemos na América Latina para Argentina, Chile, Uruguai, Cuba, Panamá e Trindade e Tobago.
Devemos nos acautelar do seguinte: sem um crescimento significativo sustentável por vários anos consecutivos, o Brasil terá como conseqüência maiores taxas de desemprego e, por conta disso, mais violência social nas próximas décadas. É dever precípuo dos nossos governantes e líderes políticos, tomarem medidas eficazes para reverter o engessamento do País de imediato, propiciando um grande crescimento econômico no curto prazo. Sem isso, o cenário futuro se nos afigura muito tenebroso.
O Brasil vem crescendo a uma taxa média de 2,6% nos últimos três anos. Portanto, o seu PIB somente duplicará daqui a 27 anos. A média de crescimento do PIB brasileiro, entre 1981 e 2005, foi somente de 2,2%, embora este baixo percentual de crescimento não vença sequer o crescimento populacional e a depreciação das nossas empresas. Se a nossa população continuar crescendo nos próximos anos à mesma taxa anual, estimada em 1,9%, podemos inferir que o nosso PIB per capita terá taxa de crescimento igual a 2,6%-1,9%=0,7%. Assim, o PIB per capita do País, mantidas essas condições, somente duplicará daqui a 100 anos, ou seja, chegará a US$ 16100. Este valor é inferior ao PIB per capita português estimado hoje em US$ 18503. Isso mesmo, só daqui a cem anos os brasileiros terão, em média, condições de vida aproximadamente equivalentes àquelas que nossos patrícios portugueses desfrutam hoje. Pobre Brasil!
O Brasil é sabidamente conhecido por ser uma das sociedades mais desiguais e injus- tas do mundo, onde a diferença na qualidade de vida de ricos e pobres é imensa. Com efeito, 1% dos brasileiros mais ricos (1,7 milhão de pessoas) detém uma renda equivalente a da parcela formada pelos 50% mais pobres (86,5 milhões de pessoas). Temos a terceira pior distribuição de renda do mundo, de acordo com o índice de Gini - que mede a desigualdade de renda com valores entre zero (igualdade absoluta) e um (desigualdade absoluta). Este índice no Brasil é de 0,593, sendo somente superado por Serra Leoa (0,629) e Namíbia (0,707) que são economias inexpressivas. Nos países do primeiro mundo, o índice de Gini tem valores entre 0,3 e 0,4. Se examinarmos outro índice alternativo, como o índice de desenvolvimento humano (IDH), que é uma média ponderada de indicadores de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida e natalidade, o Brasil ficou, em 2005, na 63ª colocação, com um índice de 0,792. Perdemos na América Latina para Argentina, Chile, Uruguai, Cuba, Panamá e Trindade e Tobago.
Devemos nos acautelar do seguinte: sem um crescimento significativo sustentável por vários anos consecutivos, o Brasil terá como conseqüência maiores taxas de desemprego e, por conta disso, mais violência social nas próximas décadas. É dever precípuo dos nossos governantes e líderes políticos, tomarem medidas eficazes para reverter o engessamento do País de imediato, propiciando um grande crescimento econômico no curto prazo. Sem isso, o cenário futuro se nos afigura muito tenebroso.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Orgasmo Intelectual
Gostaria de salientar nesse texto (para aqueles que não sabem) que publicar artigos científicos em periódicos internacionais é uma tarefa não-trivial que exige persis- tência, concentração, um trabalho árduo e longo, além do fator sorte que não deve ser desprezado. Eu gastei mais de 20 anos para publicar um artigo científico sobre a distribuição dos resíduos de Pearson em modelos lineares generalizados, pois não concordava com alguns dos pontos levantados pelos revisores em duas tentativas anteriores e tinha enormes dificuldades de mostrar que - na prática -, os teoremas funcionavam.
Quantas vezes, temos uma boa idéia, desenvolvemos corretamente toda a metodologia
trabalhando intensamente vários meses a fio e, ao submetermos, recebemos pareceres do tipo "trabalho muito matemático e sem interesse para o periódico". Existem até aqueles revisores "verdadeiramente sacanas" que rejeitam algum artigo apenas para prejudicar um dos autores baseando-se em meros princípios ideológicos ou rixas passadas.
Se o editor do periódico não gostar de um dos autores por algum motivo, resta a eles desistirem de imediato de encaminhar seus artigos para lá. Apenas para dar um bom exemplo, o maior estatístico do Século XX, Sir Ronald Fisher, não conseguiu publicar seus artigos na Biometrika, pois seu editor à época (Karl Pearson) era seu desafeto. Esse fato persistiu quando Egon Pearson (filho de Karl) assumiu a Biometrika. Eu conheci pessoalmente o Prof. Egon Pearson, em Londres, em 1979, pouco antes de
seu falecimento em 1981. Quando puxei conversa com ele no coffebreak do Departamento de Estatística do Imperial College of Science and Technology, notei que ele estava confundindo o Brasil com o México.
Não é de se estranhar que muitos professores preferem continuar apenas ministrando suas aulas - aprovando a grande maioria dos alunos -, para não ter aborrecimentos com aqueles alunos medianos, e escrevendo textos sem projeção internacional, do que se dedicar de corpo e alma à difícil (mas prazerosa) atividade de publicar artigos científicos. Encontrei na minha vida acadêmica até aquele que me disse: "Gauss, você sempre tentando fazer o dever de casa do Tio Sam?".
Afinal, o orgasmo intelectual do cientista é ver seu trabalho efetivamente publicado e sem isso, ele não vive mas apenas hiberna.
Quantas vezes, temos uma boa idéia, desenvolvemos corretamente toda a metodologia
trabalhando intensamente vários meses a fio e, ao submetermos, recebemos pareceres do tipo "trabalho muito matemático e sem interesse para o periódico". Existem até aqueles revisores "verdadeiramente sacanas" que rejeitam algum artigo apenas para prejudicar um dos autores baseando-se em meros princípios ideológicos ou rixas passadas.
Se o editor do periódico não gostar de um dos autores por algum motivo, resta a eles desistirem de imediato de encaminhar seus artigos para lá. Apenas para dar um bom exemplo, o maior estatístico do Século XX, Sir Ronald Fisher, não conseguiu publicar seus artigos na Biometrika, pois seu editor à época (Karl Pearson) era seu desafeto. Esse fato persistiu quando Egon Pearson (filho de Karl) assumiu a Biometrika. Eu conheci pessoalmente o Prof. Egon Pearson, em Londres, em 1979, pouco antes de
seu falecimento em 1981. Quando puxei conversa com ele no coffebreak do Departamento de Estatística do Imperial College of Science and Technology, notei que ele estava confundindo o Brasil com o México.
Não é de se estranhar que muitos professores preferem continuar apenas ministrando suas aulas - aprovando a grande maioria dos alunos -, para não ter aborrecimentos com aqueles alunos medianos, e escrevendo textos sem projeção internacional, do que se dedicar de corpo e alma à difícil (mas prazerosa) atividade de publicar artigos científicos. Encontrei na minha vida acadêmica até aquele que me disse: "Gauss, você sempre tentando fazer o dever de casa do Tio Sam?".
Afinal, o orgasmo intelectual do cientista é ver seu trabalho efetivamente publicado e sem isso, ele não vive mas apenas hiberna.
sábado, 8 de maio de 2010
Pelo fruto se conhece a árvore
Em Mateus 12:33, está escrito:
"Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore".
Na vida acadêmica, essa parábola sempre cai como uma luva. Por exemplo, um orientador
competente tende a formar jovens talentosos ou pelo menos trabalhadores. Um orienta- dor medíocre nunca conseguirá produzir cientistas. Por esse motivo, entendo que os orientadores de doutorado devem ter boa produção científica internacional.
Infelizmente, no nosso País, para nosso desgosto, professores sem qualquer produção científica, insistem em posar de orientadores. Existe um nivelamento perverso por baixo que muitas vezes não permite distinguir um doutor de um mestre ou de um simples graduado. No Brasil, foi instituída - nos últimos anos -, uma famigerada fábrica de diplomas, mas não de cientistas. Os cursos de pós-graduação proliferam sem qualquer controle de qualidade. A facilidade de se abrir um desses cursos no País é compatível com a abertura de uma igreja dessas seitas que vivem da miséria humana.
Um dos maiores economistas brasileiros de todos os tempos foi o grande Prof. Mário Henrique Simonsen, que tive o privilégio de conhecer e assistir uma palestra em julho de 1979. Ele tinha apenas o diploma de engenheiro civil pela antiga
Universidade do Brasil (atual UFRJ) e alguns cursos de matemática (feitos no IMPA). Mas, era respeitado por toda a comunidade acadêmica brasileira, pelo seus profundos conhecimentos de macroeconomia e economia aplicada.
Ninguém precisa de um diploma para mostrar que conhece bem uma determinada área.
"Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore".
Na vida acadêmica, essa parábola sempre cai como uma luva. Por exemplo, um orientador
competente tende a formar jovens talentosos ou pelo menos trabalhadores. Um orienta- dor medíocre nunca conseguirá produzir cientistas. Por esse motivo, entendo que os orientadores de doutorado devem ter boa produção científica internacional.
Infelizmente, no nosso País, para nosso desgosto, professores sem qualquer produção científica, insistem em posar de orientadores. Existe um nivelamento perverso por baixo que muitas vezes não permite distinguir um doutor de um mestre ou de um simples graduado. No Brasil, foi instituída - nos últimos anos -, uma famigerada fábrica de diplomas, mas não de cientistas. Os cursos de pós-graduação proliferam sem qualquer controle de qualidade. A facilidade de se abrir um desses cursos no País é compatível com a abertura de uma igreja dessas seitas que vivem da miséria humana.
Um dos maiores economistas brasileiros de todos os tempos foi o grande Prof. Mário Henrique Simonsen, que tive o privilégio de conhecer e assistir uma palestra em julho de 1979. Ele tinha apenas o diploma de engenheiro civil pela antiga
Universidade do Brasil (atual UFRJ) e alguns cursos de matemática (feitos no IMPA). Mas, era respeitado por toda a comunidade acadêmica brasileira, pelo seus profundos conhecimentos de macroeconomia e economia aplicada.
Ninguém precisa de um diploma para mostrar que conhece bem uma determinada área.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
A Indústria da Fé
Não sou uma pessoa religiosa no sentido amplo da palavra, mas acredito em Deus como um Ser Supremo. Entretanto, tenho observado que o fenômeno da proliferação de todos os tipos de seitas no Brasil tem uma explicação lógica decorrente da situação miserável e medonha em que se encontra a maior parte da nossa população: analfabetismo, alimentação insuficiente, saúde precária, educação quase-zero, falta de emprego e moradia, insegurança e grande criminalidade. No interior do Brasil, esses templos se multiplicam como as farmácias, se constituindo numa verdadeira indústria da fé.
Enquanto isso, não se investe o suficiente na educação, por exemplo, no melhoramento das escolas públicas para torná-las mais atrativas aos jovens. Assim, as pessoas mais pobres têm dois caminhos: procurar essas seitas que dizem curar todos os males deste mundo e ainda prometem o paraíso numa vida futura, ou então, vão para a marginalidade para resolver os seus problemas. Desse modo, as seitas são alienantes, pois exploram o sentimentalismo e a ingenuidade das pessoas, tornando-as passivas sem ânimo de lutar pelos seus direitos básicos e fundamentais: saúde, alimentação e educação. Além de contribuírem para aumentar a mão de obra ociosa do País. Os políticos fisiológicos agradecem!
Lamentável que as autoridades públicas que se preocupam com censuras às artes, cinema, teatro e letras de canções, permitem a proliferação dessas seitas fanáticas que funcionam como verdadeiras máquinas que, inicialmente, recebem um capital estrangeiro, mas depois as "caixinhas" retornam esse capital com juros para os países de origem. Não terão sido elas uma das causas do fracasso do Mobral?
A média anual de arrecadação da Igreja Universal do Bispo Edir Macedo, entre março de 2001 e março de 2008, foi cerca de R$ 1 bilhão, segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras do MF. Essa Igreja arrecada por ano entre 14% a 20% da produção anual de bens e serviços (PIB) de cidades brasileiras como Joinville (SC), Maceió (AL), Cabo Frio, Volta Redonda e Niterói (RJ), Natal (RN), Ribeirão Preto, Santos e Diadema (SP); todas colocadas entre as 35ª e 50ª posições no rank das mais ricas. Para fazer mais duas comparações: a CHESF - que abastece com energia 45% do Nordeste -, chegou ao recorde de lucratividade em 2008 com apenas 40% a mais: R$ 1,4 bilhão de reais. A receita da Prefeitura do Recife por ano com o IPTU é menos de 20% do que arrecada a Igreja Universal.
Aos graves problemas que estamos enfrentando – calamidades como aquela que ocorreu há algumas semanas no Rio de Janeiro-, algumas dessas seitas ainda desacreditam na medicina e contribuem para aumentar a mão de obra ociosa do país.
Em João 8:32, diz-se: "a verdade vos libertará". Logo, a mentira vos escravizará. Para mim, muitas dessas seitas são mentirosas e se constituem num grande flagelo que assola o Brasil. A verdade deve ser encontrada no trabalho incessante, no estudo, na educação e na ciência, pois esta é uma busca constante à procura do verdadeiro. A fé cristã - que deve ser respeitada, é algo muito mais importante do que o que se prega a maioria dessas seitas.
Finalmente, eis o paradoxo: o Brasil é o país do mundo ocidental que tem o maior índice de religiosidade e o maior índice de criminalidade.
Enquanto isso, não se investe o suficiente na educação, por exemplo, no melhoramento das escolas públicas para torná-las mais atrativas aos jovens. Assim, as pessoas mais pobres têm dois caminhos: procurar essas seitas que dizem curar todos os males deste mundo e ainda prometem o paraíso numa vida futura, ou então, vão para a marginalidade para resolver os seus problemas. Desse modo, as seitas são alienantes, pois exploram o sentimentalismo e a ingenuidade das pessoas, tornando-as passivas sem ânimo de lutar pelos seus direitos básicos e fundamentais: saúde, alimentação e educação. Além de contribuírem para aumentar a mão de obra ociosa do País. Os políticos fisiológicos agradecem!
Lamentável que as autoridades públicas que se preocupam com censuras às artes, cinema, teatro e letras de canções, permitem a proliferação dessas seitas fanáticas que funcionam como verdadeiras máquinas que, inicialmente, recebem um capital estrangeiro, mas depois as "caixinhas" retornam esse capital com juros para os países de origem. Não terão sido elas uma das causas do fracasso do Mobral?
A média anual de arrecadação da Igreja Universal do Bispo Edir Macedo, entre março de 2001 e março de 2008, foi cerca de R$ 1 bilhão, segundo dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras do MF. Essa Igreja arrecada por ano entre 14% a 20% da produção anual de bens e serviços (PIB) de cidades brasileiras como Joinville (SC), Maceió (AL), Cabo Frio, Volta Redonda e Niterói (RJ), Natal (RN), Ribeirão Preto, Santos e Diadema (SP); todas colocadas entre as 35ª e 50ª posições no rank das mais ricas. Para fazer mais duas comparações: a CHESF - que abastece com energia 45% do Nordeste -, chegou ao recorde de lucratividade em 2008 com apenas 40% a mais: R$ 1,4 bilhão de reais. A receita da Prefeitura do Recife por ano com o IPTU é menos de 20% do que arrecada a Igreja Universal.
Aos graves problemas que estamos enfrentando – calamidades como aquela que ocorreu há algumas semanas no Rio de Janeiro-, algumas dessas seitas ainda desacreditam na medicina e contribuem para aumentar a mão de obra ociosa do país.
Em João 8:32, diz-se: "a verdade vos libertará". Logo, a mentira vos escravizará. Para mim, muitas dessas seitas são mentirosas e se constituem num grande flagelo que assola o Brasil. A verdade deve ser encontrada no trabalho incessante, no estudo, na educação e na ciência, pois esta é uma busca constante à procura do verdadeiro. A fé cristã - que deve ser respeitada, é algo muito mais importante do que o que se prega a maioria dessas seitas.
Finalmente, eis o paradoxo: o Brasil é o país do mundo ocidental que tem o maior índice de religiosidade e o maior índice de criminalidade.
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