Eu respondi algumas perguntas feitas pela arScientia cuja entrevista original está no site http://www.arscientia.com.br/materia/ver_materia.php?id_materia=273.
arScientia: O ensino de Estatística (ao menos como disciplina instrumental nas Humanas e Biológicas) não privilegia a visão histórica quando da discussão de seus conteúdos. Portanto, o aluno se vê em contato com os conceitos de estatística descritiva, probabilidade, curva de distribuição normal, curva de erros e princípio dos mínimos quadrados, apenas para citar alguns exemplos, sem ter a mais vaga idéia do que esses desenvolvimentos representaram em termos de determinados contextos históricos. Quer dizer, não entende que esses conceitos são, na verdade, frutos de determinadas exigências históricas. Quais as razões que podem explicar um ensino da Estatística tão desvinculada de história?
Prof. Gauss Cordeiro: Quando professores com doutorado em Estatística ensinam esta disciplina nas áreas de Humanas e Biológicas, acredito que os seus principais conceitos sejam dados com uma maior ênfase histórica. Na realidade, os principais conceitos da Estatística surgiram efetivamente de problemas reais e eles devem ser sempre mencionados quando o professor for ministrá-los. O princípio dos mínimos quadrados surgiu devido à análise de dados de astronomia e ao problema de se determinar a distância entre as cidades de Berlin e Koln. Os testes de hipóteses surgiram da necessidade de saber se os planetas descreviam órbitas distribuídas aleatoriamente. O problema de determinação da população da França deu origem aos estimadores de razão. Os conceitos de regressão e correlação surgiram com estudos desenvolvidos por Francis Galton sobre a hereditariedade genética. O famoso teste t de Student foi decorrente da tentativa de melhorar a qualidade da cerveja. A análise de variância (proposta por Fisher) decorreu do problema de verificar se havia interação significativa entre as diversas variedades de batatas e fertilizantes. O planejamento de experimentos originou-se do problema de melhoramento de técnicas agrícolas. E por aí vai. Infelizmente, muitos professores ainda ensinam todos esses conceitos sem situá-los devidamente na história.
arScientia: Para a Estatística, do ponto de vista histórico, qual a importância
da mecânica de Newton como modelo de excelência para a Ciência? O que a Revolução Científica representa, para a Estatística, em termos de marco histórico?
Prof. Gauss Cordeiro: O método Newtoniano foi muito importante para desenvolver (por Adam Smith) os fundamentos da Economia como ciência. Ele tornou a Economia compreensível e sistemática a partir de leis gerais análogas às leis gerais dos movimentos dos corpos da Física, elaboradas por Sir Isaac Newton. O seu livro "A Riqueza das Nações", publicado em 1776, pode ser considerado como a origem do estudo da Economia. Curiosamente, no ano seguinte, em 1777, Daniel Bernoulli usa um princípio científico para estimar o parâmetro de uma distribuição a partir de pressupostos científicos básicos à semelhança do método Newtoniano. O princípio de Bernoulli pode ser entendido como a origem do método estatístico de estimação mais conhecido - o método de máxima verossimilhança -, formulado por Fisher em 1912, após 135 anos de Bernoulli descrevê-lo pela primeira vez.
arScientia: Como deve ser realizado o ensino de Estatística em cursos das áreas Humanas e Biológicas? O aluno deve entender com profundidade a matemática envolvida ou deve ser privilegiada a formação dele como um usuário das ferramentas estatísticas? Seria funcional, nas universidades, uma área de Estatística que fosse prestadora de serviços para os profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, liberando esses profissionais de anos e anos de estudo matemático de ferramentas das quais eles são meramente usuários?
Prof. Gauss Cordeiro: Nos dias de hoje, acredito que o ensino da Estatística em cursos das áreas de humanas e biológicas deve ser feito com um suporte computacional acessível que seja facilmente entendido por esses alunos, sem entrar em detalhes matemáticos mais profundos, para não assustá-los. A Estatística tem muitos atrativos e pode ser facilmente ensinada nestes cursos com o auxílio de softwares bastante acessíveis como, por exemplo, SPSS e MINITAB, sem precisar discutir os detalhes matemáticos que cercam muitos dos seus conceitos. A Estatística (segundo Rao) pode ser definida por uma soma algébrica de três componentes: Estatística = Ciência + Tecnologia + Arte. Para motivar mais os alunos das áreas de humanas e biológicas e para muitos outros profissionais desta ciência, sugiro que os professores ao ensinar Estatística procurem tentar maximizar as duas últimas componentes. O estatístico teórico é coisa do passado. A computação é essencial para a pesquisa moderna em Estatística e para a colaboração em grande escala com áreas tais como biologia, medicina, ciências sociais, economia e finanças. A pesquisa moderna em Estatística e a prática estão intimamente ligadas à computação.
arScientia: São raros os cursos em Administração, Comunicação e Marketing que, nas disciplinas de Pesquisa Social, oferecem aos alunos os conteúdos de análise multivariada de dados e outras técnicas mais sofisticadas de análise estatística. Normalmente, esses são objetos de estudos nos cursos de pós-graduação ou outros programas avançados? O senhor acredita que essa seja uma medida correta, do ponto de vista de preparo dos alunos para a atividade de pesquisa e para a formação profissional demandada pelo mercado? Essa situação é similar a outros países do mundo ou é uma situação tipicamente brasileira?
Prof. Gauss Cordeiro: Ensinar análise multivariada em cursos de graduação de Administração, Comunicação e Marketing não é uma tarefa fácil, pois a maior parte dos conceitos desta disciplina exigem um conhecimento matemático mais aprofundado. Entretanto, a análise multivariada pode ser, também, ensinada nestes cursos com o auxílio de softwares simples, concentrando-se mais nos seus conceitos e operacionalidade sem entrar propriamente no ferramental matemático. No meu entender, esta situação não é peculiar no Brasil, sendo similar a outros países do Primeiro Mundo.
arScientia: Nos seus primórdios, a Estatística foi chamada de Aritmética Política. Nos dias de hoje, é instrumento fundamental para os profissionais das áreas de pesquisa social. No entanto, ao que parece, o ensino de Estatística nas universidades acontece de forma dissociada dos conteúdos de Metodologia Científica. Aprende-se Estatística e aprende-se Metodologia, mas não se aprende como as duas áreas do saber estão relacionadas. Esse fato pode contribuir para uma visão distorcida da Estatística por parte dos alunos, que acabam por percebê-la como um amontoado de matemática extremamente complexa e sem utilidade? Penso nisso ao lembrar do pavor dos estudantes dessas áreas em relação à Estatística, e à sensação deles que esse é um saber que não tem propósito algum.
Prof. Gauss Cordeiro: Com a informatização da sociedade, as aplicações da Estatística atingiram níveis nunca antes sonhados. Para os profissionais das áreas sociais, o uso da Estatística é imprescindível para compreender e tirar conclusões das pesquisas sociais. Certamente, o ensino de Estatística hoje, nas universidades, acontece muitas vezes de forma dissociada dos conteúdos de metodologia científica, mas acredito que, com o tempo, esta dissociação será reduzida. Cabe aos professores apresentar a Estatística de forma atraente aos profissionais das áreas de pesquisa social. Na minha experiência, isso pode ser feito através de inúmeros exemplos elucidativos. Gostaria de enfatizar que da década de 60 até a primeira metade dos anos 70, a Estatística no Brasil era o "patinho feio" das ciências exatas. Os tempos mudaram e, com as inovações tecnológicas, principalmente na área computacional, a Estatística no Brasil - em menos de quatro décadas -, se transformou num "belo cisne". Acredito que estamos pari passu no País com a física, química, matemática, informática, economia e algumas engenharias, em termos de qualidade da pesquisa desenvolvida, perdendo tão somente em quantidade pelo simples fato do nosso capital humano ser ainda inferior ao destas outras áreas. O amadurecimento da Estatística no País, irá minimizar vários entraves no ensino desta área aos alunos com pouco conhecimento matemático.
arScientia: Costumamos considerar os Estados Unidos e a Europa como centros irradiadores do conhecimento, ficando o restante do mundo na condição periférica em termos de produção do saber. No caso específico da Estatística, os desenvolvimentos dos pesquisadores da Índia são exceção ou apenas confirmam essa tradição já conhecida de centro-periferia?
Prof. Gauss Cordeiro: Os principais conceitos da Estatística moderna foram originários na Inglaterra. A parte mais significativa do desenvolvimento da Estatística ocorreu nos primeiros 20 anos do século passado e deve-se, principalmente, a esse País. A Índia por ter sido ex-colônia britânica beneficiou-se enormemente da sua interação científica com o Reino Unido e alguns dos estatísticos mais famosos são indianos. O mais importante deles foi Mahalanobis que criou o Instituto Indiano de Estatística. Em 1924, ele trabalhava em experimentos agrícolas, em grandes planos amostrais e em estratégias para prevenir enchentes e conheceu Ronald Fisher (com quem manteve uma grande amizade por longo tempo) gerando frutos positivos para a Estatística na Índia.
arScientia: Atualmente, quais países são considerados centros de excelência na produção do conhecimento estatístico? Como o Brasil se situa nesse cenário?
Prof. Gauss Cordeiro: Os Estados Unidos e a Grã Bretanha lideram a pesquisa científica na área de Estatística. O Brasil tem seguramente liderança na América Latina, mas estamos ainda muito distante desses países em termos de capital humano e da quantidade da pesquisa desenvolvida. O "Canadian Journal of Statistics" publicou um grande levantamento em termos de publicações em periódicos internacionais, entre 1985 e 1996, e as oito primeiras posições foram, obtidas, respectivamente, por: Estados Unidos, Grã Bretanha, Canadá, Austrália, Alemanha, França, Japão e Holanda. A Índia ficou em 9ª posição mundial e o Brasil em 23ª posição. Não deixa de ser uma posição incômoda se notarmos que somos a 10ª economia mundial em termos de poder de paridade de compra. Infelizmente, o capital humano qualificado de Estatística no País é ainda muito reduzido. O trabalho realizado pela Associação Brasileira de Estatística (ABE) (site www.redeabe.org.br) tem sido muito importante para o desenvolvimento da área de Estatística no Brasil e na América Latina. Entretanto, convém enfatizar, que esta associação só foi fundada 150 anos após a Royal Statistical Society (da Inglaterra) ter sido criada.
arScientia: Quais são os temas que têm sido alvo de atenção especial da Estatística nos dias de hoje? Quais são os estudos de "ponta" nessa área?
Prof. Gauss Cordeiro: No contexto mundial, a Estatística Matemática e a Probabilidade têm atraído inúmeros pesquisadores nos dias de hoje e muitos dos estudos nestas sub-áreas têm sido de ponta. Saliento que o número de pesquisadores brasileiros envolvidos nestas subáreas é pequeno face à sua importância no contexto mundial. Vários temas de concentração da Estatística estão em moda atualmente, entre os quais poderei citar alguns: teoria do caos, "data mining", KDD ("Knowledge Discovery in Databases"), redes neurais, sistemas híbridos, modelagem em finanças e economia, estatística computacional, algoritmos genéticos, lógica nebulosa ("fuzzy logic"), sistemas especialistas, "symbolic data analysis", modelos estocásticos em genética e DNA, reconhecimento de padrões e processamento de sinais e imagens, "Wavelets", física estatística, otimização estocástica, "bootstrap", inteligência computacional, modelos dinâmicos, análise de riscos, métodos MCMC e modelos ARCH. Acredito que devo ter me esquecido de citar vários outros importantes. Enfatizo que a inteligência computacional tem sido utilizada largamente na construção de sistemas inteligentes como suporte à decisão e otimização, modelagem, controle e automação industrial, reconhecimento de padrões e "data mining", entre outros, obtendo, em muitos casos, uma eficiência superior àquela obtida por métodos convencionais.
arScientia: Em tempos de eleição, o vocabulário relativo às pesquisas de opinião pública passa a fazer parte do cotidiano de todos. Para o cidadão, no entanto, fica cristalizada uma opinião que é fruto apenas do acerto ou erro dos institutos de pesquisa. Muitas vezes, ele acaba concluindo que pesquisa de opinião pública é apenas um recurso de propaganda. Essa percepção é resultado somente das dificuldades do jornalismo científico em explicar ao leitor os limites das ferramentas estatísticas?
Prof. Gauss Cordeiro: Muitas pessoas pensam que a Estatística só serve para prever o percentual de votos que um candidato terá ao participar de uma eleição. Muitos institutos de pesquisa de opinião pública adotam procedimentos de amostragem por quotas e, nesse caso, não há como se estimar com precisão as margens de erro nas pesquisas eleitorais. No Boletim 64 da ABE, 2º quadrimestre de 2006, tem um artigo dos professores José Carvalho e Cristiano Ferraz, ilustrando bem a falsidade das margens de erro de pesquisas eleitorais baseadas em amostragem por quotas; muitos institutos de pesquisa erram nas previsões eleitorais por problemas como esse. Com a informatização da sociedade, a Estatística alcançou níveis nunca antes sonhados. Há cerca de 30 anos, sem os recursos da informática existentes hoje, fazia-se estatística por interesses acadêmicos (pesquisa e ensino), para aplicações a grandes áreas bem definidas (biologia, censo demográfico, economia, gestão governamental, medicina e tecnologia) ou por diletantismo. Nos dias atuais, com o auxílio sempre crescente da informática, as aplicações da estatística se estendem a praticamente todas as áreas e subáreas do conhecimento. Muitas das decisões do dia-a-dia se resumem a problemas de cunho puramente estatístico. Encontramos, frequentemente, fazendo pesquisa em Estatística de bom nível, ex-administradores, ex-agrônomos, ex-cientistas sociais, ex-economistas, ex-engenheiros, ex-físicos, ex-matemáticos, ex-médicos, ex-químicos, ex-etc. Entretanto, dificilmente encontraremos ex-estatísticos. Tenho firme convicção que a Estatística está se tornando um atrativo das outras áreas.
arScientia: Do ponto de vista da história da Estatística no Brasil, quais são os maiores marcos? Quais as perspectivas para a área nos próximos anos?
Prof. Gauss Cordeiro: Entendo que a fundação da Associação Brasileira de Estatística (ABE), em 7 de setembro de 1984, foi fundamental para promover e alavancar as atividades de ensino e pesquisa em Estatística no País. A ABE é responsável por várias reuniões especializadas nacionais, como as escolas de modelos de regressão e de séries temporais e econometria e o encontro Bayesiano, as quais produzem uma grande interação entre os pesquisadores brasileiros com efeitos multiplicadores em todo o Brasil e na América Latina. Além destas reuniões, a ABE promove, a cada dois anos, o Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística (SINAPE), com uma média superior a 600 participantes por reunião. Um outro fator primordial para o crescimento da pesquisa de ponta em Estatística no País foi a consolidação dos cursos de pós-graduação em Estatística na USP (São Paulo, Piracicaba e São Carlos), UNICAMP, UFRJ, UFPE, UFMG, UFSCar, ENCE e em outras instituições menores. A pesquisa em Estatística está crescendo a passos largos em todas estas instituições. Convém aqui enfatizar que a pesquisa teórica em Probabilidade no Brasil tem prestígio internacional, destacando-se suas atividades na USP, UNICAMP, IMPA e CBPF (RJ). Acho que as perspectivas para a área de Estatística Aplicada no País são muito boas, sobretudo na bioestatística, medicina (diagnóstico, prognóstico, ensaios clínicos, genética e DNA) e epidemiologia, economia (com ênfase especial em estudo de mercado) e finanças, biometria, sociometria, agricultura (introdução de novas técnicas na experimentação agrícola), indústria e negócio (controle de qualidade, previsão de demanda, gerenciamento eficiente) e políticas de decisão do governo.
arScientia: Qual pergunta os estatísticos do século XXI gostariam de ver respondida?
Prof. Gauss Cordeiro: No médio prazo, a Estatística deverá entrar pesado em várias áreas da medicina como automação de processos de diagnóstico. Ela terá nos próximos anos um papel crucial para prognosticar riscos de pacientes desenvolverem determinadas patologias, tendo como base dados de exames clínicos e laboratoriais e o estudo do DNA. Modelos e métodos estatísticos sofisticados possibilitarão, num futuro próximo, desenvolver sistemas especialistas de auxílio ao diagnóstico clínico. Acredito que a possibilidade de cura do câncer deverá passar por métodos e modelos estatísticos. Quando visitei, há cerca de 10 anos, o Hospital M D Anderson, em Houston, Texas, um dos mais especializados dos EUA no tratamento do câncer, verifiquei que o combate a qualquer tipo (e grau) desta patologia seguia protocolos bem definidos com o suporte do grupo de bioestatística deste hospital.
domingo, 25 de julho de 2010
O mundo está muito mudado!
Em 1967, com 15 anos, escondido dos meus pais, estava lendo dois romances que eram proibidos para os menores de idade: "O amante de Lady Chatterley" (uma grande novela de D. H. Lawrence) e "Dona Flor e seus Dois Maridos" (do grande Jorge Amado). Ambos viraram filmes depois.
Meu pai descobriu, me repreendeu, escondeu os dois livros, e mandou eu resolver todos os Problemas (Série B) de três livros de Alberto Nunes Serrão. Ele somente me devolveu os dois livros quando eu passei no vestibular da Escola de Engenharia da UFPE. Neste vestibular, fiquei em 3o lugar entre cerca de 1000 candidatos.
Ontem, um amigo descobriu no seu computador um arquivo com mais de 30 filmes pornográficos bizarros que seu filho (de 13 anos) baixou da internet. Meu pai, já falecido, onde quer que esteja, deve ter ficado constrangido por ter sido tão severo comigo. O mundo está muito mudado!
Meu pai descobriu, me repreendeu, escondeu os dois livros, e mandou eu resolver todos os Problemas (Série B) de três livros de Alberto Nunes Serrão. Ele somente me devolveu os dois livros quando eu passei no vestibular da Escola de Engenharia da UFPE. Neste vestibular, fiquei em 3o lugar entre cerca de 1000 candidatos.
Ontem, um amigo descobriu no seu computador um arquivo com mais de 30 filmes pornográficos bizarros que seu filho (de 13 anos) baixou da internet. Meu pai, já falecido, onde quer que esteja, deve ter ficado constrangido por ter sido tão severo comigo. O mundo está muito mudado!
Um tributo ao estatístico L!
Vou narrar uma estória verdadeira que aconteceu com um estatístico brasileiro - denominarei de L (em respeito ao seu nome)-, que foi meu amigo na primeira metade dos anos 80. Este estatístico estudava no Imperial College sob a orientação de Sir David Cox entre 1983 e 1987. Vivia em Londres, com mulher e filho enfrentando dificuldades financeiras, que presenciei num jantar em abril de 1985 na sua casa. Ele tinha bolsa da FAPESP nos primeiros dois anos e, depois, conseguiu uma bolsa do CNPq. Em 1986, ele solicitou ao CNPq prorrogação da sua bolsa – que já tinha dois anos, por mais 15 meses. O Comitê Assessor do CNPq – da qual fazia parte eu e o Prof. Pedro Morettin da USP -, em princípio foi contra, pois havia o prazo máximo de 4 anos para um bolsista concluir o doutorado no exterior. Entretanto, no processo dele, havia uma carta do Prof. David Cox elogiando o seu trabalho e AFIRMANDO que com a prorrogação solicitada ele iria concluir a tese. O Morettin conhece bem o teor da carta. Em vista disso, nós prorrogamos o prazo de sua bolsa para ele terminar o seu doutorado. Resultado final: depois desses 15 meses, o Cox - no meu entender-, de forma revoltante reprovou a tese e disse que L deveria se contentar com um DIC (Diploma do Imperial College). L me ligou de madrugada desesperado, perguntando se deveria aceitar a proposta ou recusá-la para voltar ao Brasil e tentar defendê-la em alguma instituição aqui. Eu, constrangido e abatido com a notícia, sugeri que ele aceitasse. Atualmente, L é professor de Estatística em uma instituição de Portugal mas foi uma pobre vítima da soberba inglesa.
Rabo de Cavalo!
Um professor na Rede Estadual de Pernambuco, com carga semanal de 40 horas, ganha cerca de R$ 1100,00/mês. A gratificação mensal daqueles que têm doutorado é de
R$ 350,00, totalizando, assim, R$ 1450,00/mês. Esta situação, pelo menos a ordem de grandeza, deve se estender em outros Estados do País. Uma boa diarista, muitas vezes sem ter o curso primário, numa grande cidade do Brasil, pode ganhar cerca de R$ 70,00/dia e, portanto, trabalhando 20 dias por mês, seu salário mensal pode ser de R$ 1400,00. No passado, os professores da Rede Pública Estadual (meu pai foi professor da rede estadual de Pernambuco além da UFPE) eram bem valorizados e viviam dignamente.
Hoje em dia, por causa do salário defasado em face da realidade do País, eles vivem com grande dificuldade. O salário desses professores é como rabo de cavalo: cresce
para baixo! Bertrand Russell dizia "que os professores eram os verdadeiros guardiães da civilização".
R$ 350,00, totalizando, assim, R$ 1450,00/mês. Esta situação, pelo menos a ordem de grandeza, deve se estender em outros Estados do País. Uma boa diarista, muitas vezes sem ter o curso primário, numa grande cidade do Brasil, pode ganhar cerca de R$ 70,00/dia e, portanto, trabalhando 20 dias por mês, seu salário mensal pode ser de R$ 1400,00. No passado, os professores da Rede Pública Estadual (meu pai foi professor da rede estadual de Pernambuco além da UFPE) eram bem valorizados e viviam dignamente.
Hoje em dia, por causa do salário defasado em face da realidade do País, eles vivem com grande dificuldade. O salário desses professores é como rabo de cavalo: cresce
para baixo! Bertrand Russell dizia "que os professores eram os verdadeiros guardiães da civilização".
domingo, 18 de julho de 2010
Leia-se pelo Avesso
O Sermão da Montanha (que considero um texto de grande profundidade e sabedoria) não se aplica aos nossos dias. Lê-se em Mateus 5:3-12:
"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
Observe-se o sincretismo religioso dos nossos dias e as profundas alterações que estão sendo feitas na doutrina pura e simples de Jesus Cristo. Se Cristo voltasse à Terra, nada reconheceria da sua doutrina. Tudo lhe seria estranho e, mais do que isso, hostil.
O que se fez do Sermão da Montanha e dos Dez Mandamentos? Onde, em que parte do mundo, existe uma sociedade baseada nos Dez Mandamentos e regida pelo Sermão da
Montanha? O 1º que manda amar a Deus sobre todas as coisas? É o dinheiro que se ama e os interesses pessoais, quase sempre inconfessáveis. O 4º que manda honrar pai e mãe? Os filhos obedecem aos pais? O 5º que manda não matar? Quando se matou mais e mais cruelmente do que hoje no Brasil? O 7º que manda não furtar? A resposta fica com os políticos do mundo inteiro. O 10º que manda não cobiçar as coisas alheias?
O que acontece com os humildes? São explorados, a começar pelos pseudo-pastores da maioria das seitas que assolam o nosso País. O que acontece aos que choram? São abandonados. O que acontece aos mansos? São postos à margem da sociedade em que vivem. O que acontece aos que têm fome e sede de justiça? São deixados à própria sorte. O que acontece aos que se compadecem da sorte alheia, aos que pregam a harmonia entre os homens? São perseguidos, presos e maltratados.
O que acontece aos limpos de coração, e que por isso insistem em levar uma vida limpa, correta e honesta? São processados e muitos estão morrendo de fome e andam quase nus, porque os outros lhes negam quase tudo.
Leia-se o Sermão da Montanha e dos Dez Mandamentos pelo avesso, e é isso que temos feito, e é isso que fazemos, e é essa a Lei dos Profetas dessa civilização pagã, e que insiste em se chamar cristã!
"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
Observe-se o sincretismo religioso dos nossos dias e as profundas alterações que estão sendo feitas na doutrina pura e simples de Jesus Cristo. Se Cristo voltasse à Terra, nada reconheceria da sua doutrina. Tudo lhe seria estranho e, mais do que isso, hostil.
O que se fez do Sermão da Montanha e dos Dez Mandamentos? Onde, em que parte do mundo, existe uma sociedade baseada nos Dez Mandamentos e regida pelo Sermão da
Montanha? O 1º que manda amar a Deus sobre todas as coisas? É o dinheiro que se ama e os interesses pessoais, quase sempre inconfessáveis. O 4º que manda honrar pai e mãe? Os filhos obedecem aos pais? O 5º que manda não matar? Quando se matou mais e mais cruelmente do que hoje no Brasil? O 7º que manda não furtar? A resposta fica com os políticos do mundo inteiro. O 10º que manda não cobiçar as coisas alheias?
O que acontece com os humildes? São explorados, a começar pelos pseudo-pastores da maioria das seitas que assolam o nosso País. O que acontece aos que choram? São abandonados. O que acontece aos mansos? São postos à margem da sociedade em que vivem. O que acontece aos que têm fome e sede de justiça? São deixados à própria sorte. O que acontece aos que se compadecem da sorte alheia, aos que pregam a harmonia entre os homens? São perseguidos, presos e maltratados.
O que acontece aos limpos de coração, e que por isso insistem em levar uma vida limpa, correta e honesta? São processados e muitos estão morrendo de fome e andam quase nus, porque os outros lhes negam quase tudo.
Leia-se o Sermão da Montanha e dos Dez Mandamentos pelo avesso, e é isso que temos feito, e é isso que fazemos, e é essa a Lei dos Profetas dessa civilização pagã, e que insiste em se chamar cristã!
sábado, 17 de julho de 2010
Pobre Weibull!
Muitas vezes ficamos furiosos - quando verificamos que nosso artigo que julgamos muito bom - foi rejeitado com um parecer estupido ou inusitado. A ciência sé pode ser feita com paciência e muita persistência. Essa assertiva é válida mesmo para ghrabndes cientistas.
A distribuição de Weibull é uma das mais importantes da estatística e tem várias aplicações em diversas áreas do conhecimento, desde a engenharia até a biologia passando pela economia. Ele a publicou em 1951 no artigo:"A statistical distribution function of wide applicability. J. Appl. Mech. 18:293-7, 1951.
O Dr. Artur Lemonte - jovem talentoso que atualmente faz pós-doutorado no IME/USP -, me enviou um artigo que cita que o paper da distribuição de Weibull foi inicialmente rejeitado em outro periódico com o seguinte parecer: "it was interesting but of no practical importance".
Pobre Weibull! Entretanto, nada como um dia após o outro, como diz um provérbio popular. Nos dias de hoje, a distribuição de Weibull ocupa uma posição de grande destaque na galeria das mais importantes distribuições de probabilidade face às inúmeras aplicações.
Outro exemplo: John Nelder teve seu artigo que definia os modelos lineares generalizados rejeitado na Biometrika e no JRSS-B sob a alegacao que não era bem fundamentado matematicamente. Esse fato, o próprio Nelder me contou. Depois, ele teve que se contentar com a publicacao do antigo no JRSS-A.
Nos termos acima, devemos sempre nos lembrar dessas estórias, para não desistirmos de fazer ciência quando recebemos um sonoro "NÃO". Como diz o livro sagrado:
"não deixeis o sol se por sobre nossa ira"
A distribuição de Weibull é uma das mais importantes da estatística e tem várias aplicações em diversas áreas do conhecimento, desde a engenharia até a biologia passando pela economia. Ele a publicou em 1951 no artigo:"A statistical distribution function of wide applicability. J. Appl. Mech. 18:293-7, 1951.
O Dr. Artur Lemonte - jovem talentoso que atualmente faz pós-doutorado no IME/USP -, me enviou um artigo que cita que o paper da distribuição de Weibull foi inicialmente rejeitado em outro periódico com o seguinte parecer: "it was interesting but of no practical importance".
Pobre Weibull! Entretanto, nada como um dia após o outro, como diz um provérbio popular. Nos dias de hoje, a distribuição de Weibull ocupa uma posição de grande destaque na galeria das mais importantes distribuições de probabilidade face às inúmeras aplicações.
Outro exemplo: John Nelder teve seu artigo que definia os modelos lineares generalizados rejeitado na Biometrika e no JRSS-B sob a alegacao que não era bem fundamentado matematicamente. Esse fato, o próprio Nelder me contou. Depois, ele teve que se contentar com a publicacao do antigo no JRSS-A.
Nos termos acima, devemos sempre nos lembrar dessas estórias, para não desistirmos de fazer ciência quando recebemos um sonoro "NÃO". Como diz o livro sagrado:
"não deixeis o sol se por sobre nossa ira"
sábado, 10 de julho de 2010
Laranja Podre
Como inúmeros outros colegas pesquisadores, sempre me preocupei com o nível de qualidade das dissertações de mestrado e das teses de doutorado no País. A diferença é que eu escrevo e exponho publicamente minhas ideias e posições, sem qualquer temor do patrulhamento perverso existente nas universidades, patrocinado por aqueles que preferem adotar o lema "quanto pior a academia melhor para mim". Os professores que concordam comigo e preferem se preservar - não expondo seus argumentos-, formam a denominada "maioria silenciosa". Esse termo foi definido pelo ex-Presidente dos EUA, Richard Nixon, ao comentar a ausência de debates da sociedade americana quando da ocasião da Guerra do Vietnã.
A estatística brasileira atingiu níveis nunca antes sonhados em inúmeras universidades brasileiras nas duas últimas décadas. O IME/USP tem um Departamento de Estatística que não deve nada em termos de qualidade e quantidade da produtividade científica a nenhuma outra universidadade do planeta. Outras instituições como UFRJ, UNICAMP, UFPE, UFMG e UFSCar contam com Programas de Pós-Graduação em Estatística muito bem consolidados, nos dois níveis: mestrado e doutorado. Os programas de pós em Estatística da UnB e da UFRN estão crescendo bem. Não estou citando aqui as IFES com outros programas correlacionados à área de Estatística como, por exemplo, outros dois muito bons: aquele da UFRGS na área de matemática (com linha de pesquisa em estatística) e o da Esalq em Estatística Aplicada e Experimentação Agrícola.
Apesar do cenário positivo acima, problemas sérios persistem em outras IFES, e o principal passo para a solução de um problema é reconhecer sua existência.
Eu seria um sonhador em almejar que todas as universidades do País tivéssem bons Departamentos de Estatística. Contudo, certamente muitos desses departamentos poderiam melhorar se suas instituições atraissem um maior número de pesquisadores verdadeiramente ativos ou pelo menos interessados na pesquisa científica nessa área.
Aqueles alunos de hoje que não estudam, pocedem assim porque realmente só querem um diploma, porque eles tem todas as facilidades possíveis e imaginárias. Eu não tinha
nada disso quando era estudante! Gastei quase 8 meses para datilografar, numa máquina de escrever IBM, minha tese de doutorado. Um aluno hoje gastaria no máximo três semanas.
Meu ponto princial: não adianta em nada formar um mestre ou um doutor improdutivo. Diz um provérbio da sabedortia popular: "Uma laranja podre apodrece todas as outras". Eu acrescento: esse fato de per si tem efeitos danosos no curto e longo prazos.
A estatística brasileira atingiu níveis nunca antes sonhados em inúmeras universidades brasileiras nas duas últimas décadas. O IME/USP tem um Departamento de Estatística que não deve nada em termos de qualidade e quantidade da produtividade científica a nenhuma outra universidadade do planeta. Outras instituições como UFRJ, UNICAMP, UFPE, UFMG e UFSCar contam com Programas de Pós-Graduação em Estatística muito bem consolidados, nos dois níveis: mestrado e doutorado. Os programas de pós em Estatística da UnB e da UFRN estão crescendo bem. Não estou citando aqui as IFES com outros programas correlacionados à área de Estatística como, por exemplo, outros dois muito bons: aquele da UFRGS na área de matemática (com linha de pesquisa em estatística) e o da Esalq em Estatística Aplicada e Experimentação Agrícola.
Apesar do cenário positivo acima, problemas sérios persistem em outras IFES, e o principal passo para a solução de um problema é reconhecer sua existência.
Eu seria um sonhador em almejar que todas as universidades do País tivéssem bons Departamentos de Estatística. Contudo, certamente muitos desses departamentos poderiam melhorar se suas instituições atraissem um maior número de pesquisadores verdadeiramente ativos ou pelo menos interessados na pesquisa científica nessa área.
Aqueles alunos de hoje que não estudam, pocedem assim porque realmente só querem um diploma, porque eles tem todas as facilidades possíveis e imaginárias. Eu não tinha
nada disso quando era estudante! Gastei quase 8 meses para datilografar, numa máquina de escrever IBM, minha tese de doutorado. Um aluno hoje gastaria no máximo três semanas.
Meu ponto princial: não adianta em nada formar um mestre ou um doutor improdutivo. Diz um provérbio da sabedortia popular: "Uma laranja podre apodrece todas as outras". Eu acrescento: esse fato de per si tem efeitos danosos no curto e longo prazos.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Espaço Cazuza
Há exatos 20 anos morria (em 7 de julho de 1990) um ídolo dos jovens da época: Cazuza.
Eu morava num apto na Rua General Urquiza (Leblon, Rio) e minhas duas filhas gostavam de passear nas cercanias, quando no transcorrer da semana, uma repórter do JB fez uma longa entrevista com uma delas como fã do compositor, que foi publicada como notícia de primeira página desse conceituado jornal. Era uma enquête promovida para a criação do Espaço Cazuza que hoje fica na Av. Ataulfo de Paiva.
Para assinalar essa data, pesquisei as obras de alguns compositores, encontrando os seguintes números (idade que morreu entre parênteses): Noel Rosa (27 anos) > 300 composições; Adelino Moreira (84 anos) 120 composições; Cazuza (32 anos) 126 composições; Tom Jobim (67 anos) 210 composições; Renato Russo (36 anos) 249 composições; John Lennon (40 anos) 388 composições; Chico Buarque 456 composições;
Luiz Gonzaga (76 anos) 522 composições; Roberto Carlos 674 composições.
Adiciono a seguir alguns comentários enviados pelo Prof. Aluísio Pinheiro (PhD em Estatística e professor da UNICAMP), que considero um dos estatísticos brasileiros que mais entende de MPB:
"Mais alguns compositores: Jacob do Bandolim, 104 em 49 anos; Custodio Mesquita, mais de 100 em 35 anos incompletos; Villa-Lobos, cerca de 1000 em 72 anos; Ary Barroso, 450 em 63 anos; Lamartine Babo, 280 em 59 anos; Lupicinio Rodrigues, com cerca de 120 em 60 anos, Capiba, com mais de 150 em 93 anos, Ataulfo Alves, com mais de 330 em 60 anos, Dorival Caymmin, com cerca de 110 em 93 anos, Dilermando Reis, com cerca de 130 em 61 anos, Baden Powell, com cerca de 250 em 63 anos; Cartola,
com cerca de 90 em 63 anos.
Os quatro primeiros eram muito mais sofisticados em suas composições do que todos menos um ou dois da lista abaixo. Lamartine Babo compôs os onze hinos dos clubes
do Rio, os mais bonitos do Brasil, em apenas duas tardes!!!
Isso sem falar em outros compositores sofisticados como: Francis Hime, Djavan, Hermeto (baixa produção numérica), Guinga, Paulinho da Viola, Ismael Silva, Ivan Lins, Sivuca, João Bosco, Eumir Deodato (baixa produção numérica).
Essa lista se encerra, pois não tem fim: para outros nomes, basta consultar online o Dicionário de Cravo Albin. Tenho uma edição anterior impressa. Somente procurei por informações de compositores melodistas realmente talentosos."
Entre os citados acima, quem ganha em termos de quantidade de composições é o grande
Heitor Villas-Lobos (cerca de 1000), mas todos estarão distantes da produtividade ímpar de Noel. Para aqueles que podem achar que quantidade não é qualidade, entre os citados acima, a qualidade é difícil de ser contestada.
Impressionante é o grande número de cariocas na lista acima. Isso seria explicado
pela beleza natural (mar e montanhas) do Rio, pelo época do ouro das suas rádios, por ser a capital federal ou pelas suas mulheres façeiras revelando a simetria de suas linhas, a beleza de suas formas e a harmonia dos seus contornos no imaginário dos compositores cariocas? Ou algum outro fator?
Viva Cazuza!
Eu morava num apto na Rua General Urquiza (Leblon, Rio) e minhas duas filhas gostavam de passear nas cercanias, quando no transcorrer da semana, uma repórter do JB fez uma longa entrevista com uma delas como fã do compositor, que foi publicada como notícia de primeira página desse conceituado jornal. Era uma enquête promovida para a criação do Espaço Cazuza que hoje fica na Av. Ataulfo de Paiva.
Para assinalar essa data, pesquisei as obras de alguns compositores, encontrando os seguintes números (idade que morreu entre parênteses): Noel Rosa (27 anos) > 300 composições; Adelino Moreira (84 anos) 120 composições; Cazuza (32 anos) 126 composições; Tom Jobim (67 anos) 210 composições; Renato Russo (36 anos) 249 composições; John Lennon (40 anos) 388 composições; Chico Buarque 456 composições;
Luiz Gonzaga (76 anos) 522 composições; Roberto Carlos 674 composições.
Adiciono a seguir alguns comentários enviados pelo Prof. Aluísio Pinheiro (PhD em Estatística e professor da UNICAMP), que considero um dos estatísticos brasileiros que mais entende de MPB:
"Mais alguns compositores: Jacob do Bandolim, 104 em 49 anos; Custodio Mesquita, mais de 100 em 35 anos incompletos; Villa-Lobos, cerca de 1000 em 72 anos; Ary Barroso, 450 em 63 anos; Lamartine Babo, 280 em 59 anos; Lupicinio Rodrigues, com cerca de 120 em 60 anos, Capiba, com mais de 150 em 93 anos, Ataulfo Alves, com mais de 330 em 60 anos, Dorival Caymmin, com cerca de 110 em 93 anos, Dilermando Reis, com cerca de 130 em 61 anos, Baden Powell, com cerca de 250 em 63 anos; Cartola,
com cerca de 90 em 63 anos.
Os quatro primeiros eram muito mais sofisticados em suas composições do que todos menos um ou dois da lista abaixo. Lamartine Babo compôs os onze hinos dos clubes
do Rio, os mais bonitos do Brasil, em apenas duas tardes!!!
Isso sem falar em outros compositores sofisticados como: Francis Hime, Djavan, Hermeto (baixa produção numérica), Guinga, Paulinho da Viola, Ismael Silva, Ivan Lins, Sivuca, João Bosco, Eumir Deodato (baixa produção numérica).
Essa lista se encerra, pois não tem fim: para outros nomes, basta consultar online o Dicionário de Cravo Albin. Tenho uma edição anterior impressa. Somente procurei por informações de compositores melodistas realmente talentosos."
Entre os citados acima, quem ganha em termos de quantidade de composições é o grande
Heitor Villas-Lobos (cerca de 1000), mas todos estarão distantes da produtividade ímpar de Noel. Para aqueles que podem achar que quantidade não é qualidade, entre os citados acima, a qualidade é difícil de ser contestada.
Impressionante é o grande número de cariocas na lista acima. Isso seria explicado
pela beleza natural (mar e montanhas) do Rio, pelo época do ouro das suas rádios, por ser a capital federal ou pelas suas mulheres façeiras revelando a simetria de suas linhas, a beleza de suas formas e a harmonia dos seus contornos no imaginário dos compositores cariocas? Ou algum outro fator?
Viva Cazuza!
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Sobre a Escola de Modelos de Regressão
A ideia da Escola de Modelos de Regressão (EMR) surgiu numa mesa de bar em Olinda, em maio de 1987, quando Clóvis Perez e eu nos deliciávamos com inúmeros copos do precioso líquido por algumas horas. O assunto em pauta (na mesa do bar) era outro: a tese de doutorado do Prof. Gilberto Paula, que Clóvis orientava formalmente no IME/USP e me convidou para ser um mero co-orientador na parte relativa à teoria assintótica.
Estávamos acertando a vinda do Gilberto à Recife para trabalharmos juntos, quando concebemos esse evento – à época denominada Escola de Modelos Lineares. O Gilberto propôs (na sua tese de doutorado) a classe dos modelos não-lineares da família exponencial, tema correlacionado com os objetivos da escola, embora tenha se dedicado mais à teoria assintótica nesta classe de modelos. Gilberto e eu publicamos um artigo na Biometrika (em 1989) decorrente desse trabalho conjunto, que revela-se importante, pois estende os modelos lineares generalizados (MLGs) e os modelos normais não-lineares simultaneamente.
Idealizamos, assim, nessa mesa de bar, que Gilberto organizasse o primeiro encontro de regressão em São Paulo. Ele depois prontamente aceitou e a Primeira Escola efetivamente ocorreu (em fevereiro de 1989) na USP, com a participação de muitos pesquisadores do Brasil e do exterior. Por exemplo, John Nelder (grande pesquisador de MLGs) e Bent Jorgensen (outro grande estatístico que definiu os modelos de dispersão) estiveram presentes. O mini-curso que o Prof. Bent ministrou nesta 1ª escola se transformou, depois, num livro publicado pela Chapman and Hall.
O Gilberto defendeu sua brilhante tese no IME/USP em setembro de 1988, mas trabalhou de forma incessante durante todo esse ano na organização desse evento, que desde então tem tido sucesso comprovado até os dias atuais.
Estávamos acertando a vinda do Gilberto à Recife para trabalharmos juntos, quando concebemos esse evento – à época denominada Escola de Modelos Lineares. O Gilberto propôs (na sua tese de doutorado) a classe dos modelos não-lineares da família exponencial, tema correlacionado com os objetivos da escola, embora tenha se dedicado mais à teoria assintótica nesta classe de modelos. Gilberto e eu publicamos um artigo na Biometrika (em 1989) decorrente desse trabalho conjunto, que revela-se importante, pois estende os modelos lineares generalizados (MLGs) e os modelos normais não-lineares simultaneamente.
Idealizamos, assim, nessa mesa de bar, que Gilberto organizasse o primeiro encontro de regressão em São Paulo. Ele depois prontamente aceitou e a Primeira Escola efetivamente ocorreu (em fevereiro de 1989) na USP, com a participação de muitos pesquisadores do Brasil e do exterior. Por exemplo, John Nelder (grande pesquisador de MLGs) e Bent Jorgensen (outro grande estatístico que definiu os modelos de dispersão) estiveram presentes. O mini-curso que o Prof. Bent ministrou nesta 1ª escola se transformou, depois, num livro publicado pela Chapman and Hall.
O Gilberto defendeu sua brilhante tese no IME/USP em setembro de 1988, mas trabalhou de forma incessante durante todo esse ano na organização desse evento, que desde então tem tido sucesso comprovado até os dias atuais.
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