Segundo reportagem divulgada na Folha de São Paulo há algumas semanas, a produção acadêmica brasileira cresceu cerca de 56% de 2007 a 2008, colocando o Brasil como o 13º maior produtor de ciência no ranking mundial de artigos publicados em periódicos especializadas. A produção científica brasileira ultrapassou a da Rússia, outrora potência científica, que ocupa agora a 15ª posição. Entretanto, esse resultado deve ser comemorado com cuidado, pelo fato de sermos a 10ª economia do mundo (7ª economia se for medida em termos de paridade do poder de compra). Ademais, produzimos somente 2% do conhecimento científico mundial, percentual inferior a economias menos expressivas, como aquelas da Índia, Coréia do Sul e Austrália. Em 1990, o Brasil detinha um percentual muito mais reduzido da ciência: somente 0,6% da produção global.
Podemos chegar à simples conclusão: a produtividade científica do Brasil não está evoluindo como a nossa produção de bens e serviços. Com efeito, Inglaterra e Itália têm economias (medidas pela paridade do poder de compra) equivalentes ao Brasil, mas produziram, entre 2007 e 2008, 2,58 e 1,66 mais artigos em revistas científicas do que nosso País, respectivamente. Urge, portanto, melhorar as nossas universidades e o nosso capital humano universitário. Para corroborar com essa assertiva, temos apenas quatro universidades listadas entre as 500 melhores universidades do mundo, a saber: USP, UNICAMP, UFRJ e UNESP. Essas quatro universidades foram classificadas após a 100ª posição. O Brasil poderia estar melhor situado na produtividade científica mundial, se não tivesse exportado cérebros para os Estados Unidos e Europa.
Um outro ponto desabonador: a qualidade da produção científica brasileira – medida pelo número de citações -, persiste abaixo da média mundial. Ficamos entre a 30ª e 50ª posições em termos de citações em inúmeras áreas do conhecimento.
Comparando com a produção científica do início dos anos 90, segundo pesquisa elaborada pela Thomson Reuters, a produção brasileira avançou bastante, aproximadamente, 8,30 vezes, ou seja, de 3,7 mil para 30,4 mil artigos científicos. Esse crescimento brasileiro ocorreu devido ao aumento do fomento à pesquisa no País nas duas últimas décadas, notadamente, por conta do aumento das bolsas de produtividade científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do crescimento do número de bolsas para mestres e doutores. De 1996 a 2007, o número dessas últimas bolsas concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) cresceu de 19 mil para 41 mil. Entretanto, o valor da bolsa de produtividade do CNPq continua muito baixo: valor médio mensal de R$ 1000,00. "Mutatis mutandis" para as demais bolsas. A título ilustrativo, um senador custa aos cofres públicos o equivalente a 82 bolsistas de produtividade de pesquisa do CNPq - que são os maiores responsáveis pela ciência desenvolvida no Brasil. Cabe aqui enfatizar que a FAPESP, que é uma instituição de primeiro mundo, tem contribuirdo e muito pelo aumento da produção científica brasileira. Isso é justificado pelo fato de três das quatro melhores universidades brasileiras serem paulistas.
O número de cientistas no Brasil deveria crescer substancialmente. O País tem 0,92 cientista para cada mil trabalhadores - muito abaixo da média de 7,5 cientistas por mil trabalhadores dos países do primeiro mundo. No meu entender, esse número deveria ser pelo menos quadruplicado para que a ciência brasileira fosse mais compatível com a dimensão de sua economia. Estratégias para isso devem ser elaboradas no curto prazo, pois daqui a quarenta anos, seremos provavelmente a 5ª maior economia do planeta.
domingo, 7 de março de 2010
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