A estatística no Brasil há 35 anos era muito artesanal e bem diferente do que presenciamos hoje. Todos sabem que eu adoro história da estatística e faço aqui um breve relato da estatística na UFRJ entre 1975 e 1979. Os professores Caio Dantas e
Basílio Pereira já traçaram panoramas mais amplos da USP e dos primórdios da Estatística no Rio de Janeiro em artigos anteriores. Entendo, que essas iniciativas são importantes para mantermos viva a história da Estatística brasileira.
Nos anos de 75 e 76, os entusiastas pela estatística da UFRJ eram poucos gatos pingados que trabalhavam na Engenharia de Produção da COPPE e no recém-criado Instituto de Matemática (IM) da UFRJ. Por favor, depois me corrijam se esqueci de alguém. Em processos estocásticos, trabalhavam, Aníbal Parracho e José Manuel. O Demétrio Alonso Ribeiro (já falecido) apresentava, também, algum interesse por essa área. Os professores Fernando Chyoshi e Paulo Bravo atuavam em probabilidade e métodos estatísticos. João Sabóia e João Lizardo (já falecido), que foi presidente do CEPEL, trabalhavam em séries temporais e análise multivariada. O Gupta atuava em planejamento de experimentos, o Marlos Viana em inferência Bayesiana e o David Dorigo (já falecido) em bioestatística. O Jessé Montello (já falecido), foi presidente do IBGE, era professor em tempo parcial e o Basílio estava no Imperial College - fazendo o doutorado com o Sir David Cox em famílias separadas de hipóteses, retornando a UFRJ em julho de 76. O Eduardo Saliby e outro professor
que fez o doutorado em Lancaster (esqueci agora o nome) atuavam em simulação.
Utilizando aqueles sistemas arcaicos de cálculos estatísticos, apareciam o Félix Vaca-Obando e o César das Neves. Naquela época, usávamos os computadores IBM1130 e B6700 do NPD. Não ocorriam seminários regulares e a presença de algum professor visitante estrangeiro da área de Estatística era um evento raro. Os nossos artigos eram efetivamente publicados em anais de congressos, do tipo CBM, SBPC e SOBRAPO. Não existia ainda a ABE. Num concurso em estatística em 1977 no Instituto de Matemática da UFRJ, presidido pelo Jessé Montello, foram aprovados: Hélio Migon, Roberto Cintra, Santiago Carvajal, eu e Mário Jorge.
Para melhorar a qualificação do capital humano em estatística na UFRJ, Paulo Bravo foi fazer o doutorado em Kent (1977), Mário em Glasgow (1978), eu e Hélio para a Londres e Warwick em 1979 e 1980, respectivamente.
O Prof. Basílio Pereira complementa muito bem esse artigo enfatizando os seguintes pontos: "a) Não dá para comparar realmente a estatística daquela época com a de hoje, pois seu desenvolvimento foi enorme; b) Dos professores acima mencionados apenas Santiago, Paulo Bravo, Anibal, Gauss, Migon e eu continuamos pesquisando em estatística; c) Fernando Chyoshi é um outlier que trabalha em qualquer área da pesquisa operacional. Além disso foi co-orientado pelo Henry Daniels, importante estatístico inglês (um dos orientadores de Sir David Cox); d) Como curiosidade, o Prof. Jessé Montello foi um dos fundadores da ENCE e importante atuário. Tem um artigo na revista Estadistica que deu origem a primeira publicação do David Brillinger (conforme seu cv na página de Berkeley). Era sobre uma definição de normal multivariada dada por Jessé que seguiu depois uma discussão. A ligação do Prof. Brillinger com o Brasil é bem antiga – de 1961; e) Gupta foi contratado com Santiago, que tinha o mestrado no CIENES, bem como Paulo Bravo. Os dois foram os pioneiros na estatística do IM/UFRJ. Logo, em seguida, com o PhD em Estatística no exterior, chegaram Dorigo (1975), eu (julho 1976), Anibal, Marlos, Valter de Senna, Ruy Milidiu,Gauss, Migon, Dani e Fernando. Do exterior voltou, também, o João Ismael com o MSc de Stanford. Destes, vários professores foram para outras universidade ficando apenas na UFRJ: Paulo Bravo, Basílio, Annibal, Migon, Dani, Santiago e João Ismael".
A discussão sobre como a estatística da UFRJ evoluiu para alcançar o patamar de qualidade atual é importante como exemplo para os professores dos demais Departamentos de Estatística do País. Assim como, o belo exemplo do Departamento de Estatística do IME/USP – que não deve nada a maioria dos centros de estatística do primeiro mundo. A estatística em outros poucos locais têm, também, se consolidado, e oxalá acontece o mesmo nos demais Departamentos de Estatística do Brasil no curto ou pelo menos no longo prazo. Bem, essas reminiscências terão que perdurar para resguardar a memória da estatística brasileira.
terça-feira, 23 de março de 2010
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Prof. Gauss,
ResponderExcluirAqui é Murilo Neves. Fui seu aluno na UFRJ e agora sou engenheiro da CHESF. Suas ideias
são muito interessantes. Grande abraço,