quarta-feira, 10 de março de 2010

Para que então ser cientista no Brasil?

Gravatá é uma cidade de clima agradável que fica a cerca de 80 km de Recife. Em Pernambuco – desempenha o mesmo papel que Petrópolis, Teresópolis e Friburgo têm no Rio. Tenho um conhecido lá, arquiteto, bom de papo e de birita, que, de vez em quando, a gente bota conversa fora.

Ele é filho de um grande amigo já falecido - companheiro inseparável dos carnavais em Recife dos anos 60-, onde particiávamos juntos do corso e das manhãs de sol
do Sport. Não posso esqucer, também, os encontros de brotos (palavra estranha hoje) que íamos no Clube Internacional para paquerar. Na nossa juventude, as moças da sociedade pernambucana só frequentavam as festas dos Clubes Internacional e Portugûes - clubes de elite dessa época em Recife.

Meu conhecido, tem cerca de 34 anos, é formado numa faculdade particular e nunca saiu de Recife para fazer qualquer curso de extensão em arquitetura. Ele tem firme convicção que pós-graduação é uma grande perda de tempo.

Ele costuma cobrar R$ 30,00 por m^2 nos seus projetos - que ele faz rápido com o AUTOCAD, cada projeto consistindo de um jogo de 5 plantas: baixa, cortes, hidráulica, elétrica e coberta. Em média, ele fatura cerca de R$ 3000,00 (uma casa simples de 100 m^2) por projeto.

Depois, ele pode acompanhar (como serviço extra), a execução, e cobra cerca de dois salários míninos mensais por projeto, fora ainda um percentual extra que ganha em cima dos fornecedores de material comprado por seu intermédio (cerâmica, louças, etc). Em suma: como ele faz uma média de seis projetos por mês (dados de mais de um ano atrás), ele recebe um salário fixo esperado de R$ 18000,00/mês, fora o variável mais difícil de ser computado.

Esse valor é quase o dobro do salário de um professor titular de uma federal ou estadual no País e cerca de 15 bolsas de produtividade de pesquisa concedidas pelo CNPq num sistema de concorrência acirrada envolvendo todos os pesquisadores do País. Para que então ser cientista no Brasil? Somente por diletantismo e muito amor à ciência! Que os jovens universitários saibam desse fato.

2 comentários:

  1. É por isso que muitos viajam para fora do país, pois querem exercer a profissão. Mas a realidade é realmente massante, até porque a ciência hoje é uma serva de empresas privadas....

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  2. É por isso que muitos viajam para fora do país, pois querem exercer a profissão. Mas a realidade é realmente massante, até porque a ciência hoje é uma serva de empresas privadas....

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